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Nova era, ano Zero


Decio Luiz Gazzoni

Os jornais de ontem, aparentemente, só traziam notícias ruins. Estava nas manchetes que a renda do trabalho do brasileiro caiu 7,4%, em 2003 – o pior resultado em dez anos. Dizia também que a taxa de desemprego subiu para 9,7%, no ano 1 da era Lula. Tinha mais: O Brasil crescerá, em 2004 e em 2005, menos que o mundo. Menos também que os países emergentes, menos que a África. Só ganhará da Bolívia e do Paraguai.

 

Notícia boa

 

Mas tinha um notícia prá lá de ótima. Como diria a turma do Casseta e Planeta, os seus problemas acabaram! Ocorre que o Governo da Rússia decidiu ratificar o Protocolo de Quioto. Com isto, ele entra em vigor no próximo ano, conformando o que será uma das maiores fontes de investimento em países agrícolas: o mercado de carbono. O Brasil será o grande beneficiário deste mercado e, através dele, captaremos centenas de bilhões de dólares em investimentos para agricultura e energia, nos próximos anos.

 

Beneficiários

 

Cria-se um enorme mercado internacional de bioenergia, lastreado em biocombustíveis como álcool e derivados de óleos vegetais. Ganha impulso a silvicultura, que produzirá briquetes e madeira. A agricultura brasileira será reconfigurada totalmente, e será a locomotiva de uma era de desenvolvimento sem precedentes em nosso país. Desde que o governo e os empresários saibam aproveitar as oportunidades.

 

Oportunidades

 

E quais são? Uma plêiade delas e destacamos algumas a seguir:

 

Ambiental: O Brasil, como provedor de energia renovável, reduzirá o impacto ambiental em seu território e apropriar-se-á de recursos dos créditos de carbono para financiar o seu desenvolvimento. O rating ambiental do Brasil será apropriado para a colocação de outros produtos do agronegócio em mercados que impõem severas exigências ambientais para os fornecedores de alimentos ou fibras;

 

Econômica: A energia renovável será um dos mais importantes negócios do mundo, que superará em valor o complexo energético e químico baseado em carbono, no longo prazo. O Brasil é o país com melhores condições para liderar a produção mundial de fontes renováveis de energia e, mantidas as proporções, ocupará o vácuo que será gerado com o esgotamento das reservas de petróleo do Oriente Médio. O Brasil transmutar-se-á, rapidamente, de importador para exportador de energia;

 

Comercial: Analistas estimam que a agricultura de energia será responsável pelo maior volume financeiro das transações do comércio internacional do agronegócio, até a metade deste século. Não existe outro país do mundo com vantagens naturais maiores que as brasileiras para dominar este segmento. O Brasil possui condições de obter o maior saldo comercial nas transações com o exterior, entre todos os países do mundo, alicerçado na agricultura de energia;

 

Social: Investindo na produção de biomassa haverá um aumento ponderável da renda nacional, com distribuição mais eqüitativa; geração de grande número de empregos e outras oportunidades de renda, com baixo investimento; inversão dos fluxos migratórios e interiorização do desenvolvimento; e ampliação da arrecadação tributária (sem o acréscimo de alíquotas e criação de novos impostos) para aplicação em programas de saúde, educação, habitação e segurança;

 

Tecnológica: O Brasil pode consolidar sua liderança em tecnologia para o agronegócio tropical, constituindo uma plataforma com poder de induzir inovações em outros setores de C & T, alavancando outros segmentos empresariais do agronegócio; e

 

Estratégica: Ancorado em um agronegócio potente e com uma imagem positiva, associada à proteção ambiental, o Brasil magnificará seu peso específico no concerto das Nações, que conferirá ao nosso país. um poder de negociação potencializado em relação ao nosso passado recente.

 

Nova era

 

Bem vindos à nova era, iniciada em 30 de setembro de 2004. O fim da era do petróleo gerará uma das maiores oportunidades que o Brasil já teve de realizar seu potencial. Acredito que as novas gerações de brasileiros serão bem mais felizes em nosso país do que a nossa o foi.

 

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. Homepage: www.gazzoni.pop.com.br

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