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Mudanças Climáticas



IZNER HANNA GARCIA

Mudança Climática, Incêndios, Enchentes e Etcs.

 

Izner Hanna Garcia*

 

TUDÓLOGO é uma expressão de nossa modernidade mas que, enfim, sempre existiu. É aquela pessoa que sabe de tudo, dá opinião sobre qualquer assunto como se especialista fosse.

 

Antes que você, leitor, diga-me que sou um tudólogo quero esclarecer: não sou ecologista, climatologista, biólogo, agrônomo ou cientista. Sou advogado e produtor rural e, diria, jardineiro de fim de semana.

 

Não obstante, se por um lado – vamos dizer assim – o exercício da tudologia seja um mal a ser combatido, por outro lado também deve ser afrontada a alienação do exercício da reflexão e do bom senso.

 

O empirismo, como corrente filosófica, é a base da ciência.

 

Não podemos nos desfazer de nossa maior ferramenta científica que é, justamente, a capacidade de raciocinar, conectar conhecimentos e tirar deduções embora, claro, não seja tal exercício o grau último que se alcança quando se fala em Ciência, com “c” maiúsculo que, à partir da observação empírica, desenvolve a pesquisa dentro de critérios rígidos, com revisão de pares e etc.

 

Exemplos de raciocínios empíricos que, mesmo sem sermos especialistas, podemos desenvolver: àqueles que não são engenheiros civis não é negado o exercício do bom senso empírico se confrontados com uma planta elaborada por um engenheiro (profssional qualificado para tal) que “diga” que uma casa não precisa ter um telhado. Porque se tem um projeto de um profissional especialista você, mesmo sem ser profissional, adotaria e construiria uma casa sem telhado? Ou, outro exemplo, se um médico prescrevesse um jejum de líquido de 10 dias você seguiria?

 

Claro, são exemplos extremos. Mas valem para refletirmos que o raciocínio crítico, mesmo em matérias que não são nossa especialidade, são válidos dentro de algumas circunstâncias e parâmetros.

 

Estamos, neste ano especialmente, assistindo atônitos e chocados, as enchentes catastróficas que assolaram o Rio Grande do Sul e mais recentemente a grandes incêndios na região norte.

 

É assustador. Verdadeiramente aterrador.

 

Será uma mudança climática? Será consequência da ação o ser humano?

 

Recente artigo publicado na Folha de São Paulo pelo cientista e pesquisador Carlos Nobre, climatologista, pesquisador sênior pelo IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP (Universidade de São Paulo) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia; eleito em maio de 2022 como membro estrangeiro da Royal Society assim resumiu a questão: “Crise climática: mundo pode não ter mais volta e isso me apavora... Estou apavorado porque, com 2,5° C, nós vamos criar uma mudança climática nunca vista. Com 2,5° C, os eventos extremos vão aumentar muito exponencialmente e o mais preocupante é que atingiremos os chamados pontos de não retorno.”

 

É uma análise, realmente, apavorante e contundente.

 

Não obstante, vamos ao exercício do empirismo.

 

Quantos anos tem nosso planeta?

 

Aproximadamente 4,54 bilhões de anos e estima-se que a vida na Terra tenha iniciado aproximadamente 3,5 bilhões de anos atrás.

 

Ok, é um número bem grande, não? Para nos situarmos o homo sapiens tem algo como 200.000 anos como espécie. Assim, nossa espécie tem – pasme – 0,005% do tempo de existência da Terra ou 0,006% do tempo da vida no planeta.

 

Bem, seguindo nesta linha do tempo, vem a pergunta empírica: a Terra já foi ou não mais quente, tal seja, a terra passou por períodos de aquecimento antes ou este fenômeno é único e exclusivo depois que os “sabidos” (sapiens) chegaram neste planetinha?

 

Atualmente a temperatura média da Terra está em 15º.

 

Mas não foi sempre assim.

 

Vamos lá:

 

Permiano e Triássico (há 250 milhões de anos) a Terra aqueceu e sua temperatura média era de incríveis 32º. Este “evento” durou por milhões de anos.

 

Cretáceo (há 92 milhões de anos) houve outro aquecimento: a Terra chegou a uma temperatura média de 29,4º. Florestas temperadas situavam-se próximas ao polo sul.

 

Enoceno (há 50 milhões de anos) a Terra estava a 21º. A temperatura média dos oceanos era de 35º e, incrivelmente, haviam palmeiras e crocodilos no Ártico.

 

E ontem (geologicamente falando), no período Eemiano, cerca de 130 mil anos atrás, a Terra chegou a ter a uma temperatura de, em média, 17º. Hipopótamos habitavam a Europa e o nível do mar estava entre 6 e 9 metros mais altos do que hoje. A Flórida, por exemplo, era submersa.

 

“Uma pesquisa publicada na prestigiosa revista Science revelou um novo fator que contribuiu para a maior extinção em massa já registrada na história da Terra, ocorrida há cerca de 252 milhões de anos. Estima-se que mais de 95% dos seres foram extintos nesse período.”

 

https://www.terra.com.br/byte/pesquisa-mostra-como-el-nino-causou-a-maior-extincao-em-massa-de-todos-os-tempos,1bed9ee63dc97a30adf3a07575490534pp9nlz0e.html

 

Pode-se imaginar uma extinção de 95% das espécies em um evento?

 

Aliás, diga-se, a nossa “mãe natureza” tem a mania de devorar seus filhos: estima-se que 99,99% das espécies que já habitaram o planeta foram extintas. E, ressalte-se, sem a ação do homo sapiens.

 

Aliás, para falarmos do evento recente do Rio Grande do Sul, há um vídeo disponível no YouTube acerca Evolução Geológica do Sul da Planície Costeira do Rio Grande do Sul elaborado à partir da tese de doutorado da Prof. Maria Luiza Correa da Câmara Rosa e de inúmeras pesquisas realizadas principalmente por pessoas vinculadas ao Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (CECO), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Neste vídeo fica claro as inúmeras variações geológicas pelo que passou esta região. Por exemplo, a aproximadamente 120 mil anos (um piscar de olhos geológico) o nível do mar estava 8 mts. acima do nível de hoje. Já imaginou hoje se o mar, ali, se elevar 8 mts.?

 

https://www.youtube.com/watch?v=gbf7NhAyW3g&t=164s

 

A tese de doutorado de Luiz Carlos Baldicero Molion, (graduação em Física pela Universidade de São Paulo (1969), PhD em Meteorologia, University of Wisconsin, Madison (1975), pós-doutorado em Hidrologia de Florestas, Institute of Hydrology, Wallingford, UK (1982) e foi fellow do Wissenschaftskolleg zu Berlin, Alemanha (1989-1990). Foi por muitos anos pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais diretor da área de ciências espaciais e atmosféricas em 1985 e diretor associado em 1986, ano em que co-coordenou um projeto de pesquisa sobre a Amazônia em parceria com cientistas da NASA.[13] Foi diretor da Fundação para Estudos Avançados no Trópico Úmido em Manaus,[ professor palestrante convidado da Western Michigan University de 15 a 30 de janeiro de 2001, e delegado do Brasil na 15ª reunião da Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial em 2010. É Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas) traz uma análise muito interessante:

 

“Inicia-se a presente apresentação fazendo um retrospecto, um diagnóstico do clima passado, e mostrando que as temperaturas da Terra já estiveram mais altas, simultaneamente com concentrações de CO2 inferiores às atuais, e que, portanto, não se pode afirmar que esteja havendo um aquecimento global sem precedentes como quer o IPCC e muito menos que esse aquecimento esteja sendo provocado pelo aumento da concentração de CO2 decorrente das atividades humanas por meio da queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão. Ao contrário, demonstra-se que o CO2 não controla o clima global e que haverá um ligeiro resfriamento global nos próximos 20 anos. Os dados da estação de Vostok nos levam há 420 mil anos e o retângulo destaca a última era glacial (slide 3). Esses dados nos mostram que os três últimos interglaciais, de 130 mil, 240 mil, 320 mil anos, tiveram temperaturas de 6 a 10°C mais elevadas que as que estamos vivendo atualmente (slide 3). No entanto, o CO2 não passou de 300 ppm. Atualmente, a concentração de CO2 já está em 390 ppm. Seria o homem responsável por esses aumentos de temperatura, de 6 a 10°C superiores ao de hoje? Será que o homem emitia algum CO2 há 130, 240, 320 mil anos que fosse significativo para mudanças de clima? Há 10 mil anos, quando entramos no presente interglacial, passamos por um período chamado Ótimo Climático do Holoceno, ocorrido a 7 mil, 8 mil anos antes do presente (slide 4 e 5). Posteriormente, houve um período quente na Idade do Bronze, em que a Civilização Minoana, na Ilha de Creta, floresceu a cerca de 3.500 anos atrás. O período quente de 500 a.C. a 200 d.C. permitiu que os Romanos expandissem seu império, dominando a Europa e o Oriente Médio, porque o clima era quente e as safras agrícolas eram boas, capazes de alimentar e apaziguar os povos dominados. O período a seguir, até cerca de 900 d.C., foi denominado de “Eras Negras”, período em que civilizações, como Nazca, desapareceram. Na sequência, entre 900 e 1200 d.C., o chamado Período Quente Medieval, os Vikings saíram da Escandinávia, colonizaram e desenvolveram a agricultura no norte do Canadá e no sul de uma ilha chamada Groenlândia, que significa “terra verde”, regiões hoje cobertas de gelo. As construções de todas as catedrais européias também são dessa época de riqueza fartura. E até agora as temperaturas não voltaram aos valores que atingiram naquele período. Conforme se pode depreender desse rápido resumo histórico, os períodos quentes sempre foram benéficos para a humanidade, enquanto os frios destruíram civilizações. E o clima já esteve mais quente no passado que o clima atual.”

 

https://icat.ufal.br/laboratorio/clima/data/uploads/pdf/AGA-SITE_CLIMA.pdf

 

Aqui chegamos ao primeiro ponto para raciocinarmos: contra a mudança climática.

 

Este é o mantra de ecologistas, cientistas e climatologistas atualmente.

 

Voltemos ao empirismo: qualquer um que raciocine, que faça uma pesquisa um pouco menos superficial, chegará à conclusão (mesmo não sendo especialista) que este slogan é paradoxalmente contra a ecologia e contra a natureza.

 

O “sistema” neste planeta que vivemos é, justamente, a mudança climática.

 

Não há como negar que a Natureza adota ou está submetida a um sistema em que a única constante é a mudança.

 

Estas mudanças refletem uma interação de fatores como geologia, astrofísica (um meteoro mudou o rumo biológico da vida e, enfim, causou a extinção dos dinossauros mas permitiu que os mamíferos como nós desenvolvem-se), gravidade, direção do eixo (já tivemos dezenas de mudanças no eixo da Terra) e muitos outros etc..

 

Será possível que nossa pretensão possa superar estas forças e moldar o clima para uma situação estática que nunca houve na terra?

 

Assim, de antemão, a primeira conclusão que fica é que o eixo base dos que apregoam a defesa da ecologia está – paradoxalmente – contra justamente a ecologia.

 

Esta conclusão quase que derruba por terra todo o arcabouço e estrutura que se baseiam os trabalhos científicos que apregoam o malefício da mudança climática.

 

Parece que estamos, entre aspas, tão “bem” com o momento atual que queremos “congelar” esta situação enquanto espécie. Seria bom mas, à se ver pelos bilhões de anos de história da biologia-geologia, isso não será possível.

 

Contudo, seja por forças naturais ou seja por forças antropogênicas, a mudança climática é uma realidade hoje, ontem e será amanhã.

 

Desta conclusão, inafastável, mesmo que o ser humano atinja todas as metas apregoadas, que façamos de nosso entorno um jardim do éden, não escaparemos. Seja pela explosão do Yellon Stone, seja pela ruptura da placa de San Andrés, seja um grande meteoro que atingirá a Terra ou a mudança do Eixo dos polos ou ainda uma era glacial, a mudança climática acontecerá.

 

Aqui um parênteses: a Terra já enfrentou várias eras glaciais:

 

Durante os últimos milhões de anos houve várias eras glaciares, ocorrendo com frequências de 40 000 a 100 000 anos, entre as quais se destacam:

 

 

De fato, estaríamos em vésperas de uma nova era glacial, já que em média o planeta experimenta 10 000 anos de era quente a cada 90 000 anos de era de gelo.

 

Uma era do gelo é muito mortal à vida. Especialmente à nossa espécie. Se nos defrontarmos com tal certamente estaríamos em muito maus lençóis.

 

Para se ter uma idéia uma nova pesquisa científica, liderada pela Universidade do Arizona e publicada na revista Nature, revela que a temperatura média da Terra era de 7.8°C na última Era Glacial, 20 mil anos atrás.

 

Enormes geleiras cobriam cerca de metade da América do Norte, Europa e América do Sul, além de muitas partes da Ásia.

 

https://www.tempo.com/noticias/ciencia/quao-fria-foi-a-ultima-era-do-gelo.html#:~:text=O%20%C3%BAltimo%20m%C3%A1ximo%20glacial%20da,e%20%C3%81sia%20com%20grandes%20geleiras.

 

Mas, voltando ao tema inicial: a mudança climática.

 

Ir contra esta circunstância é totalmente insano. Proibir o pum das vacas não irá ajudar em nada. Pensem no número de voos diários:

 

https://flightradar.live/pt-pt/

 

Já imaginou isso?

 

E, claro, grande parte destes voos existem em virtude do turismo, atividade muito salutar mas, claro, dispensável em termos de sobrevivência da espécie.

 

Se pensarmos que New York, Londres, Shangai, Hong Kong, Tóquio, Mumbai, Kochi, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Sidney e etc. são cidades vulneráveis e que concentram grande concentração de população e atividade econômica (estima-se que aproximadamente 40% da população mundial viva em zonas costeiras), é de se refletir que “estamos deixando a bola passar” em estéril discussão.

 

As medidas propostas por ecologistas como meta de descarbonização do mundo são irrealistas e condenariam a grande maioria da população do mundo a, literalmente, morte por fome e falta de energia.

 

Toda a pauta apregoada leva em conta a perspectiva da população norte americana e europeia visto que redundaria em um aumento do custo de vida para as demais áreas do mundo que seria insuportável em termos sócio-econômicos.

 

Muito melhor do que estabelecermos uma cruzada contra a mudança climática, em uma batalha vã e perdida, seria passarmos à realidade e pensarmos em termos de adaptação à estas mudanças.

 

Não podemos crer em uma volta à natureza, um idílico romantismo utópico, onde esta busca da natureza tem de ser com o ar condicionado do carro ligado, voos internacionais e repelentes contra os mosquitos, claro.

 

Uma em cada cinco pessoas passa, literalmente, fome no mundo.

 

https://www.cnnbrasil.com.br/blogs/priscila-yazbek/internacional/fome-bate-recorde-e-atinge-mais-de-280-milhoes-no-mundo-diz-relatorio-da-onu/

 

Se não há sensibilidade para esta condição humana então que se invoque o direito dos animais que defendem as associações ambientais para salvar o homem que, claro, também é um animal.

 

Ou não?

 

Izner Hanna Garcia

Advogado, pós graduado na Fundação Getúlio Vargas

[email protected]

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