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Morangos no deserto


Decio Luiz Gazzoni
É possível produzir, a custos competitivos, no deserto? Sim, com inovações tecnológicas adequadas. Nos desertos falta terra e água doce, mas sobra energia do sol e areia e há água salgada no subsolo, ou se estiver às margens do oceano. A chave do sucesso está em produzir energia elétrica barata e abundante, utilizando a energia solar, dessalinizando a água e adequando a temperatura das estufas às demandas das plantas cultivadas.

A oportunidade foi percebida pela Sundrop, a partir das ameaças das Mudanças Climáticas Globais, em especial do aumento da frequência de eventos climáticos severos; da crescente escassez de água, a qual será mais grave nas regiões áridas e semiáridas; na degradação contínua das terras aráveis; e na crescente demanda do mercado consumidor por produtos hortícolas de qualidade. Nos últimos 15 anos triplicou o cultivo hortícola em estufas, e as perspectivas para os próximos 30 anos são excelentes.
A primeira fazenda Sundrop foi instalada em Port Augusta (Austrália), em 2010. São 20 ha de estufas, com produção superior a 15 mil toneladas de vegetais por ano, e faturamento anual de US$ 50 milhões. Posteriormente, a empresa se expandiu para outras regiões áridas, deslocando rapidamente os competidores tradicionais.
Como benefícios, a Sundrop destaca: a conservação dos recursos hídricos; os custos operacionais mais baixos; a utilização do controle biológico de pragas, o que reduz o uso de agrotóxicos; o menor uso de combustível fóssil; o uso eficiente de terras marginais; a reutilização da água; o uso do sal e nutrientes (resultantes da dessalinização) como fertilizantes; a produção de alimentos mais saudáveis; a criação de empregos verdes (cada hectare emprega, direta e indiretamente, entre 5 e10 pessoas); a produção durante todo o ano, entre outros.

Ao ler as notícias sobre a Sundrop, lembrei de imediato do semiárido nordestino, com grande oferta de luz solar e de água salgada no subsolo, associadas à proximidade dos mercados consumidores internos e externos. Seria a chance dos irmãos do interior do Nordeste livrarem-se dos coronéis, da dependência de bolsa família e cesta básica, criando uma nova revolução verde, sinônimo de desenvolvimento e progresso.
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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