CI

Mogno africano, cedro australiano etc.. são riscos ou oportunidades?


Climaco Cezar de Souza
POSSÍVEL OFERTA PRODUTIVA E RISCOS ATUAIS E FUTUROS 
Segundo pesquisadores da Embrapa Gado de Corte de Campo Grande-MS e ainda em 2008, o mogno-africano (Khaya ivorensis A. Chev.), originário da costa ocidental africana, é uma espécie florestal de grande importância para a região amazônica, não apenas pelo seu alto valor no comércio internacional, mas também pelos aspectos relativos ao rápido crescimento e pela sua resistência a algumas pragas que comumente atacam o mogno-brasileiro (
Swietenia macrophylla King), como é o caso da broca da ponteira (Hypsypila grandella)
Foi introduzida no Brasil por ser resistentes ao ataque da praga do broto terminal (Hipsiphyla grandella). Contudo, a planta é altamente suscetível a doença “mancha-alvo”, causada pelo fungo Corynespora cassiicola. Como não existem produtos fungicidas registrados e recomendados para o controle desta doença, algumas estratégias de controle de caráter cultural, bem como tentativa de controle com produtos alternativos nos viveiros, devem ser empregadas. Devem-se utilizar mudas sadias e efetuar inspeções periódicas em viveiros, jardins clonais e culturas recém implantadas, eliminando-se folhas com sintomas, assim como as folhas velhas caídas no chão, para reduzir a pressão de inóculo do patógeno.
Contudo, em outros levantamentos anteriores de doenças efetuados em áreas plantadas com o mogno-africano no Pará, foram encontradas diversas outras doenças como: Thanatephorus cucumeris, Cercospora sp., Pellicularia koleroga, Sclerotium coffeicola, Cylindrocladium parasiticum e Rigidoporus lignosus, causando mancha areolada, mancha parda, queima-do-fio, mancha zonada, mancha foliar e podridão branca, respectivamente. 
VIDE: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-54052009000100015&script=sci_arttext
Já segundo a fornecedora mudas e de Consultoria especializada DAMATA Florestal, de Piracicaba-SP e Três Lagoas-MS, as espécies de Mogno africano não têm apresentado pragas e doenças capazes de inviabilizar o seu cultivo no Brasil, embora como quaisquer outras espécies florestais possam ser acometidas por pragas e doenças (“só não cita se os custos podem ser elevados como no caso da vassoura de bruxa do cacau na Bahia e do amarelecimento fatal da palma/dendê no Pará e que dizimaram milhares de hectares”).
No Brasil, “a DAMATA cita de forma bem honesta” que existem relatos de manifestações de natureza fúngicas e ataques de algumas pragas que podem causar danos pontuais aos povoamentos ou danos econômicos significativos em caso de não intervenção.
1. Danos causados por pragas, prejuízos e controle: 1) perda de área foliar; 2) danos aos ponteiros;3) bifurcações; 4) engalhamento precoce; 5) retardamento; 6) danos ao fuste comercial, que pode ou não intervir negativamente na qualidade da madeira;7) controle químico e raspagem da casca/controle químico;
2. Danos causados por doenças, prejuízos e controle: 1) perda de área foliar; 2) danos aos ponteiros; 3) retardamento; 4) danos ao fuste comercial, que pode ou não intervir negativamente na qualidade da madeira; 5) controle químico, erradicação de indivíduos doentes, poda baixa/condução de rebrota e raspagem da casca/controle químico;
3. Principais pragas: 1) formigas cortadeiras; 2) cupins; 3) grilos; 4) gafanhotos; 5)abelha Arapuá e Cancro do fuste – Prasinoxena monospila Doloessa viridis;
4. Principais doenças: 1) Thanatephorus cucumeris – mancha areolada; 2) Cercospora sp. – mancha parda; 3) Pellicularia koleroga – queima do fio; 4) Sclerotium coffeicola – mancha zonada; 5) Cylindrocladium parasiticum – mancha foliar; 6) Rigidoporus lignosus – podridão branca; 7) Corynespora cassiicola – mancha-alvo e 8) Cancro do fuste – danos causados por Prasinoxena monospila e Doloessa viridis favorecem o estabelecimento de fungos e bactéria.
VIDE: http://damattaflorestal.com.br/mogno-africano/pragas-e-doencas/
 Pelo lado somente promissor, a Revista da Madeira apresenta o mogno africano “como uma boa alternativa atual para produção de madeira nobre”.
VIDE: http://remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=1605&subject=E%20mais&title=Mogno%20africano%20-%20Boa%20alternativa%20para%20produ%E7%E3o%20de%20madeira%20nobre
Para a Revista do Florestamento “uma das vantagens que o mogno africano tem em relação ao mogno brasileiro é a maior resistência à principal praga que ataca a espécie brasileira: a broca do ponteiro. Outro benefício do mogno africano é o seu desenvolvimento vigoroso, o fuste retilíneo, poucas bifurcações, beleza e qualidade da madeira, facilidade de produção de mudas, elevadas taxas de crescimento e o alto valor econômico no mercado internacional.”
“Devido à resistência, às características tecnológicas e à beleza da madeira, ela é empregada de várias formas como em movelaria, construção naval, revestimentos, construção civil, móveis de alto padrão, franqueado, decoração de interiores, entre outras aplicações”.
VIDE: http://www.portaldoreflorestamento.com.br/mogno-africano-resistencia-e-beleza.html
Segundo estudos da empresa Vasconcelos Florestal de Monte Alto-SP (assessorada por professores de renome de Lavras e de Jaboticabal, cfe. artigo a seguir), “o cultivo de mogno africano, com base nos custos e preços atuais, pode levar ao elevado lucro atual e projetado de R$ 23.268/hectare/ANO (igual a R$ 458.114 bruto e a R$ 349.000/há liquido após 15 anos), ante apenas R$ 1.556/há/ANO do eucalipto igual a R$ 16.800/há bruto em 7 anos; R$ 1.170/hectare/ANO da cana; R$ 712/há/ANO da soja e R$ 667/há/ANO do milho, ou seja, um cultivo milagroso, mas abstraindo que a colheita somente se dará daqui a 15 anos, no mínimo”.
VIDE: http://www.reflorestar.com.br/reserva-legal.shtml
Já o Cedro Australiano foi introduzido no Brasil pela Aracruz Celulose nos anos 1980. Por meio de fomento florestal, o plantio se desenvolveu no Espírito Santo, onde a fábrica de celulose prosperou, e hoje encontra mercados promissores, como espécie alternativa para produção de madeira de serraria, em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e Bahia. Contudo, trata-se de cultura mais exigente do que o eucalipto, mas que oferece madeira nobre, bonita e fácil de ser trabalhada.
Os plantios de cedro australiano em Minas são considerados experimentais pelo IEF (Instituto Estadual de Florestas) numa extensão estimada em 1 mil ha a 2 mil hectares concentrados no Centro-Oeste e Sul do Estado. Entre 2007 e 2010, o IEF apoiou o trabalho de melhoramento genético em Campo Belo, por meio da APFLOR (Associação de Produtores Florestais do Sudoeste de Minas), e considerou os resultados positivos numa área em que os produtores têm sido alertados sobre a necessidade de assegurar a confiabilidade de fornecedores de mudas e de buscar informações sobre o mercado da madeira e as condições da propriedade para obter sucesso na cultura.
Conforme estimativas da Bela Vista Florestal, de Campo Belo-MG, a partir dos custos e preços atuais, “aos 8 anos, haveria uma produtividade de 30 metros cúbicos por hectare/ano, levando a receita bruta de venda a R$ 40 mil por hectare e com lucro liquido de R$ 15 mil/hectare (custo em torno de R$ 25 mil/ha)”.
VIDE:  http://www.faemg.org.br/News.aspx?Code=1985&Portal=1&PortalNews=1&ParentCode=139&ParentPath=None&ContentVersion=R
POSSÍVEL DEMANDA FUTURA “IN NATURA” E PROCESSADA, EM ESPECIAL APÓS 2030
Resta saber e bem analisar se o Setor moveleiro - de qualquer tipo e para usos nobres ou não – ainda terá demanda firme, significativa e realmente remuneradora após 2030 (inicio da provável oferta do mogno africano, por exemplo), sendo que as construções atuais já usam muito mais o “steel frame”; vidros temperados e altamente resistentes/foscos/anti-térmicos; “drywall”; resinas plásticas degradáveis; pisos laminados ou vinilicos ou flutuantes e coláveis etc.. Já pouco ou nada de madeira ou de seus derivados se usam, inclusive nas estruturas e nos escoramentos. Também, estão chegando rapidamente (entre 5 e 10 anos) o Grafeno, Grafino, Carbino e ainda as madeiras engenheiradas (todos inclusive para construção civil e infra-estrutura, só que bem mais resistentes, leves, não-inflamáveis e bem mais baratos).

No caso das madeiras engenheiradas: O professor Carlito Calil Junior, da Escola de Engenharia da USP de São Carlos destaca duas delas com alto uso futuro: a CLT - sigla em inglês para madeira laminada cruzada, e a MLC - madeira laminada colada. Calil informa que estes dois produtos já muito utilizados na Europa e Estados Unidos para construção de residências, podem ser complementares numa obra.
O Grafeno (composto a base do abundante grafite) é considerado o material do futuro por ser 200 vezes mais resistente do que o aço, mas, ao mesmo tempo, flexível, muito mais leve, multiuso e muito mais barato. Além da elevada resistência mecânica, o aerogel de Grafeno possui uma capacidade de recuperação elástica sem precedentes. 
VIDE: http://www.tecmundo.com.br/grafeno/38557-6-formas-como-o-grafeno-podera-mudar-o-mundo.htm
VIDE: http://www.revistabrasileiros.com.br/2012/12/14/a-revolucao-do-grafeno/
Também, o Grafeno – segundo a Universidade de Monash (Austrália) onde foi, em parte, desenvolvido (mais na UFMG em pesquisa para a Nacional Grafite) e rendendo o Nobel de Física em 2010 para seus descobridores (da universidade de Manchester/Reino Unido) - poderá ser em breve usado como material estrutural em larga escala (inclusive no revestimento anti-corrosão de estruturas metálicas). O material assim obtido é extremamente leve, capaz de suportar cerca 50 mil vezes o seu peso e possui uma excelente flexibilidade. 
VIDE: http://www.engenhariacivil.com/grafeno-material-estrutural
O Grafeno também é o material mais forte já descoberto que, dentro de suas proporções, pode superar o diamante. Já existem pesquisas para utilizar nanotubos de carbono (camadas de grafeno dispostas em pequenos tubos) como estruturas na construção civil. 
VIDE: http://www.slideshare.net/vaniraschmitt/grafeno-15286499
Em complemento, também como elevado potencial, já se fala muito no “Grafino” e no “Carbino” e que seriam ainda melhores do que seu primo o Grafeno, ou seja, o “futuro do futuro”.
http://www.tecmundo.com.br/ciencia/43286-esqueca-o-grafeno-o-carbino-e-um-material-ainda-mais-incrivel.htm
Por outro lado, além da possível e pesada concorrência destes materiais excepcionais do futuro (já do presente) - muito mais resistentes e baratos, nada provindos de derivados de petróleo e  pouco poluentes - os cultivadores de mogno africano, cedro australiano e outros podem ter – ao contrário do que esperam e se dedicam – sérios problemas ambientais/políticos/sociais/econômicos futuros.
Restará saber qual será o comportamento real dos ambientalistas e dos Governos, em mais 15 a 20 anos, diante de uma floresta imensa, linda, homogênea, teoricamente sustentável etc.. desses cultivos muito ligados a historia dos países, pessoas e empresas (um verdadeiro e valioso cartão postal). Será que os ambientalistas e empresas permitirão que tais árvores sejam colhidas, utilizadas e, após, replantadas? Ou será que pagarão, regiamente, para que sejam preservadas como paisagismo e não derrubadas? Como exemplos vêm as perguntas: seria possível colher Sequóia nos EUA? Cedro no Líbano? Pessegueiros no Japão? Abeto para alguns usos na Europa?
Na Europa alguns países já proíbem cortes de árvore rurais para não prejudicar o paisagismo e o visual. Na Austrália e no Canadá, a tendência é de se proibir a colheita de alguns tipos de eucaliptos nativos e de alguns locais. No Brasil já está proibido o abate da Samambaia Açu, Xaxim, Sassafrás, Aroeira; da Araucária e de outras árvores e plantas exóticas.
É bom também lembrar que o IBAMA já proíbe o corte de mogno brasileiro (severo ataque de pragas) e dificulta o cultivo de diversas árvores exóticas vindas de outros países como alguns Ficus, Neem indiano etc.. (cerca de 80% das nossas árvores urbanas são exóticas). A Lei Federal 9.985/00 já proíbe a introdução de espécies exóticas em Unidades de Conservação (UCs).
Também, estarão proximamente na lista proibida o Cedro nacional, Corticeira-da-serra, alguns palmitos, Canela Sassafrás e mais algumas orquídeas e bromélias. No caso da fauna, pássaros exóticos oriundos de outros países (agapornis africanos, mandarins chineses, periquitos australianos, calopsitas etc..), antes liberados por não serem da fauna nacional, agora já têm sua criação e reprodução proibida ou dificultada no Brasil.
CONCLUSÕES/SUGESTÕES
Concluindo – apenas como alerta e sem criticar ou tentar prejudicar alguém ou qualquer empresa ou mesmo desestimular tais plantios – analiso que, como tais cultivos ainda envolvem muito mais riscos futuros (possíveis doenças com caro controle; prováveis problemas e perseguições ambientais; previstas dificuldades concorrenciais nos mercados maiores demandantes), do que benesses, já detectadas ou possíveis, seriam de recomendar-se prudência, agro-economicamente, aos produtores rurais mais afoitos (principalmente aos mais jovens e que ainda não conhecem bem a nossa história agrícola), sobretudo se não houver garantias de recompra das árvores ou das madeiras no longo prazo e mediante contratos legais, ou pelo menos divisões dos riscos e custos financeiros. Também se faz importante acompanhar diuturnamente as publicações técnicas-econômicas da EMBRAPA, Universidades especializadas, órgãos de Pesquisas florestais e das grandes empresas florestais, acerca.
Quem não se lembra dos incentivos anteriores e das muitas e seguidas febres anteriores de cultivos, posteriormente com sérios ataques de doenças e pragas - locais ou oriundas de climas não-tropicais, pouco conhecidas e de difícil ou altíssimo custo de controle no Brasil -, inclusive colocando em risco espécies nacionais altamente adaptadas e produtivas (vejam o caso atual da “Helicoverpa” que surgiu repentinamente vinda de algum País e com algum cultivo ou semente, exótico e/ou ainda não proibido, e que já ataca quase todos os cultivos no Brasil). Vejamos as principais febres e cultivos contaminantes: Urucum; Mandioca para etanol PETROBRAS; Pau Brasil; Ipê roxo para cura do câncer; Pinhão-manso e Mamona não-melhorados/resistentes para biodiesel; Eucalipto em locais abaixo de 1.000 mm de chuvas ou somente para madeira/carvão (mercado ainda pequeno e restrito/muito dependente do menor custo do transporte); Palma herbácea não-resistente para tinturas; Pimenta do Reino não-resistente à fusariose; Cacau não-resistente à vassoura-de-bruxa; Algodão arbóreo não resistente ao bicudo etc.
Também, quem não se recorda de alguns conhecidos e hoje risíveis MICOS FINANCEIROS, na forma de planos faraônicos com apregoados altos e rápidos lucros como Avestruz Master e outras, Fazendas Boi Gordo e quem sabe BBOm, Telexfree etc..
”FATO É QUE – SEM DEMÉRITOS - NÃO EXISTEM MILAGRES ECONÔMICOS EM AGRICULTURA E TAMBÉM NÃO HÁ ALMOÇO DE GRAÇA”.
Também, no Mundo globalizado e intensamente interativo atual, somente consegue-se estimar ou projetar com maior segurança para os próximos 5 a 10 anos, sendo quase impossível pensar-se, com segurança, no que pode ocorrer em 2030-2040 (inicio da maior oferta interna de tais cultivos). Projeções estatísticas funcionam muito bem, desde que re-adaptadas continuamente aos novos cenários semestrais ou anuais. 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.