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Mercado e produção agrícola


Amélio Dall’Agnol
Presenciamos, no correr dos últimos anos, uma escalada na produção mundial de alimentos, principalmente de milho e de soja. A safra mundial de milho, em 2014/15, ultrapassou um bilhão de toneladas e a de soja, 300 milhões de toneladas (mi t). Estados Unidos (EUA), China e Brasil concentraram mais de 60% da safra de milho (360, 220 e 83 mi t, respectivamente), enquanto que EUA, Brasil e Argentina responderam por mais de 80% (108, 95 e 60 mi t, respectivamente) da safra global de soja (315 mi t).
Mais importante do que salientar a atual produção mundial de milho e de soja, é analisar a velocidade com que essa produção evoluiu e os porquês desse espetacular deslanche. De 2002 a 2015, a produção mundial de milho foi incrementada em incríveis 400 mi t (600 mi t, em 2002 e 1001 mi t, em 2014/15), aumento anual superior a 28 mi t. A produção global de soja, por sua vez, cresceu cerca de 10 mi t anualmente (180 mi t, em 2001/02 para 315 mi t, na safra 2014/15) e, em termos percentuais, foi a grão cuja demanda mais cresceu no período.
O crescimento da produção desses grãos respondeu aos bons preços de mercado e ao aumento da demanda, que cresceu em razão do maior consumo humano e animal e, também, por sua utilização como biocombustível: biodiesel (soja) e etanol (milho). Atualmente temos estoques de alimentos e fibras além do necessário, em razão da última safra, que foi ótima tanto no Hemisfério Sul quanto no Hemisfério Norte.
Os bons preços de mercado são o maior estímulo para o aumento da produção. Sem lucro, não há produção. Não se sensibiliza um produtor de alimentos a incrementar a produção, apelando para a sua sensibilidade social, pretendendo motivá-lo a renunciar ao lucro em nome dos despossuídos, que passam fome porque não têm dinheiro para comprar o alimento.
Mas, quais os motivos que levaram humanos e animais e incrementarem substancialmente o consumo mundial de alimentos? Obviamente que o consumo animal foi estimulado pelos humanos, num esforço para obter mais carne. Os humanos, por sua vez, aumentaram a demanda porque sua capacidade de consumo cresceu, com o deslanche da economia mundial das últimas décadas (US$ 12 trilhões, em 1980 e cerca de US$ 70 trilhões, em 2015), incrementando a renda per capita da população. Com mais dinheiro no bolso, a população consumiu mais, principalmente proteína animal, cuja matéria prima principal é o farelo de soja e o de milho.
Mas e agora, José? Os bons preços geraram estoques de produtos agrícolas elevados e, consequentemente, os preços caíram e cairão ainda mais se continuar havendo excesso de oferta, a qual conduz ao aviltamento dos preços.
Se o mar não está mais para peixes, talvez tenha chegado o momento de o agricultor investir na melhoria da propriedade que já possui, ao invés de adquirir novas glebas de terra. Melhorando as condições dos campos de produção ele consegue maior eficiência no processo produtivo e pode produzir mais, numa área menor. E lucrar mais
As crises constituem uma excelente oportunidade para o produtor parar, pensar, raciocinar e inovar. É bom agir agora, sem esperar pelas iniciativas, sempre tardias do governo. 
 

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