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MATOPI, a mais nova fronteira da soja


Amélio Dall’Agnol
Faz 129 anos que a soja chegou ao Brasil, via Estado da Bahia, onde fracassou. Seu insucesso deve-se ao fato de que a soja então cultivada mundo afora, era planta adaptada a climas temperados ou, no máximo, subtropicais. A região onde foi testada, no Estado da Bahia, apresenta latitude próxima de 12º. Por essa razão, ela só teve algum êxito no Brasil 20 anos depois, quando foi introduzida no Estado do Rio Grande do Sul (RS), onde são encontradas latitudes próximas de 30º.

Até o final da década de 1960, o RS era virtualmente o único Estado produtor de soja no Brasil, valendo-se, para tanto, de variedades introduzidas dos Estados Unidos (EUA), onde, na região sul daquele país são encontradas latitudes equivalentes às do RS. Na década seguinte, com os altos preços da soja no mercado mundial e as excelentes perspectivas de mercado futuro, o cultivo da oleaginosa alastrou-se rapidamente pelos demais Estados da Região Sul, onde as variedades americanas ainda apresentavam razoável adaptação. Muitos produtores da região, no entanto, na impossibilidade de aumentar sua área de cultivo em regiões próximas, por causa do elevado preço local da terra, começaram a migrar em massa para a Região de Cerrado, no meio oeste brasileiro, onde a terra era abundante e barata, mas as variedades americanas, cultivadas com êxito no Sul, não vingavam.

A leva de novos produtores de soja vinda do Sul para o Brasil Central clamava por variedades adaptadas às condições de baixa latitude da região, pressionando as instituições de pesquisa pela busca de uma soja tropical. As sementes que haviam levado do Sul para a nova área de cultivo no Cerrado não cresciam e não havia como introduzir uma soja tropical, porque ela não existia, de vez que os produtores mundiais de soja de então (China e EUA, principalmente) não produziam soja em regiões tropicais e, portanto, não desenvolviam variedades para essas condições.

A solução, portanto, não poderia ser encontrada na introdução de variedades de outros países, o que obrigou os cientistas brasileiros a meterem a mão na massa e desenvolver novas sementes para as condições de baixas latitudes do Brasil, o que foi conseguido com total sucesso a partir dos anos 70, convertendo mais de 200 milhões de hectares de Cerrado num dos maiores celeiros do mundo. Hoje, o país produz soja com a mesma eficiência, desde 34ºS até 7ºN, incluindo a linha do Equador, com 0º.

Paradoxalmente, o Estado da Bahia, que havia fracassado na tentativa de cultivar a oleaginosa no século 19, foi responsável pela conquista da mais alta produtividade média entre os estados brasileiros na safra 2010/2011, com rendimentos próximos de 3.400 kg/ha, em área superior a 1.000.000 ha.

A evolução da produção de soja no Brasil poderia ser dividida em três fases: 1ª fase, expansão na Região Sul durante as décadas de 1960 e 1970, quando a produção evoluiu de 478 mil para 8,08 milhões de toneladas; 2ª fase, expansão na Região Centro Oeste durante as décadas de 1980 e 1990, quando a produção cresceu de 1,85 para 13,36 milhões de toneladas e a 3ª fase, na presente década, com a expansão da cultura na divisa das regiões N e NE, principalmente nos estados de Maranhão, Tocantins e Piauí (MATOPI), período durante o qual a produção evoluiu de 676 mil para 5,3 milhões de toneladas, convertendo-se na mais nova fronteira agrícola para a produção de soja no Brasil, a qual responde, atualmente, por cerca de 7% da produção nacional. As perspectivas são de mais crescimento, visto que é nessa região onde se concentram os maiores aumentos de área de cultivo da soja.

Junto com a soja cresceu a economia regional e a renda per capita da população, elevando o Índice de Desenvolvimento Humano da região. A soja tem sido um dos mais importantes, senão o mais importante fator de desenvolvimento econômico e social da região do MATOPI, assim como o foi, anteriormente, nas regiões Sul e Centro Oeste.

A Embrapa se orgulha de ter sido ator importante nesse processo de desenvolvimento e continua engajada no esforço de seguir disponibilizando ferramentas tecnológicas para que a soja continue sendo um sucesso em todo o território nacional.

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