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Insumos biológicos na agricultura


Decio Luiz Gazzoni

                Técnicas de controle biológico são milenares, estão entre as primeiras tecnologias agronômicas adotadas pelos agricultores pioneiros. No século XX, a descoberta de inseticidas químicos altamente eficientes, de largo espectro, de uso fácil e ação rápida tornou o controle químico o método mais utilizado para o manejo das pragas, obnubilando outros, incluindo o controle biológico.

                De sua parte, o uso de inoculantes, em especial utilizando bactérias com capacidade de fixar o nitrogênio do ar e transferi-lo para as plantas, por um processo de simbiose, representa um avanço que se popularizou a partir do século XX, com grande expansão nas últimas décadas, particularmente com o incremento do cultivo da soja.

                Desde a segunda metade da década passada, observa-se um crescimento sustentado do uso de produtos biológicos na agricultura, em escala global, em grande parte devido às exigências de sustentabilidade na produção agrícola. Políticas públicas em diferentes países produtores agrícolas – como o ABC+ no Brasil – são impulsionadores do uso de tecnologias sustentáveis, entre elas os bioinsumos, que contam com o incentivo de um programa específico do Ministério da Agricultura e Pecuária. O mercado desses produtos cresce a altas taxas e deve manter essa tendência no médio e longo prazos, e o Brasil tem sido o país com maior crescimento nesse mercado.

 

Os números

                Um levantamento da consultoria Kynetec (www.kynetec.com/) demonstrou que o mercado de biopesticidas e bioinoculantes atingiu R$ 2,905 bilhões (US$ 560 milhões) no Brasil, na safra 2021/22. Mais importante que o número absoluto é a taxa de crescimento, que foi de 67% sobre o período imediatamente anterior, quando havia alcançado R$ 1,744 bilhão.

                Segundo a consultoria, os biológicos representaram 4% das vendas totais no mercado brasileiro de defensivos agrícolas, um aumento de um ponto percentual em relação à temporada passada. O destaque ocorreu na cultura do milho, em que o uso de bioinsumos dobrou, passando de 13% para 26% da área de segunda safra, e de 4 para 17% da área de milho verão. No caso da soja, o aumento foi de 21% para 28%, comparando as duas últimas safras.

                Os bionematicidas lideraram as vendas ao longo da temporada com 39,6% de participação, representando R$ 1,152 bilhão. Em segundo lugar estão os bioinseticidas com 30,7% ou R$ 890 milhões, seguidos pelos bioinoculantes com 19,2% ou R$ 557 milhões, e os biofungicidas com 10,5% ou R$ 306 milhões.

                Ao analisar os números acima percebe-se que o espaço de crescimento dos produtos de base biológica é apreciável, pois representaram apenas 4% das vendas. Pela tendência de crescimento de seu uso, é provável que os números do ciclo 2022/23 sejam tão expressivos quanto os verificados no atual levantamento, o mesmo devendo ocorrer nas safras subsequentes.

                Os números significativos, além dos fatores de sustentabilidade e políticas públicas já mencionadas, lastreiam-se em inovações disruptivas, com novos usos, novos microrganismos, novas formulações e novas técnicas de aplicação, que têm conquistado os agricultores brasileiros, que se mostram abertos às inovações tecnológicas e à importância de sistemas de produção agrícola sustentáveis.

 

O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Científico Agro Sustentável.

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