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Insetos meteorologistas


Decio Luiz Gazzoni
Diz o caboclo: “Se a umidade aumentar, cupins e formigas vão acasalar”. Já os asiáticos afirmam: “formigas carregando ovos barranco acima, é a chuva que se aproxima”. Pesquisadores da ESALQ e da Unicentro (Guarapuava) observaram que os besouros da espécie Diabrotica speciosa (brasileirinho ou patriota), os pulgões-da-batata (Macrosiphum euphorbiae) e lagartas da pastagem (Pseudaletia unipuncta), podem detectar queda na pressão atmosférica, sinal que a chuva vem aí. Com isto diminuem a disposição de cortejar e acasalar.
As observações revelaram que, ao perceber uma queda brusca na pressão atmosférica, as fêmeas diminuem ou deixam de liberar feromônios, uma substância volátil que atrai os machos para o acasalamento. Já os machos apresentam menor interesse sexual, não respondem aos estímulos das fêmeas e procuram abrigos para se proteger da mudança de tempo.

Passado o mau tempo, os insetos retomam as atividades de cortejo, namoro e acasalamento. Esse comportamento de perda momentânea do interesse no acasalamento, horas antes de uma chuva, representa uma capacidade adaptativa que reduz a probabilidade de lesões e mortes desses animais. É como se, diante de uma situação de perigo iminente, esses animais colocassem a questão da sobrevivência em primeiro lugar – porque é o que garante a perpetuação da espécie – e deixassem o acasalamento para um segundo plano, por ser uma atividade que pode ser retomada após a ameaça representada pela chuva.
Os pesquisadores também avaliaram o número de vezes que o pulgão-da-batata e a lagarta da pastagem atenderam ao “chamamento” das respectivas fêmeas, sob diferentes condições atmosféricas. Os resultados foram semelhantes aos obtidos com o besouro “brasileirinho”, o que pode indicar ser uma característica comum a um grande número de insetos.

O estudo, que pode parecer de pouca importância, na realidade mostra como insetos (assim como outros animais) possuem sensores que detectam alterações no ambiente ou disponibilidade de alimento apropriado, conferindo-lhes vantagens competitivas para sobrevivência e preservação da espécie. E, quem sabe, também permitirão adaptar-se melhor às mudanças climáticas.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo. www.gazzoni.eng.br

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