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Êxodo rural e demanda por alimentos


Amélio Dall’Agnol
O Brasil dos anos 50 era majoritariamente rural. Cerca de 80% da população vivia no campo, enquanto hoje não chega a 20%.  Não só no Brasil era assim, como na maioria dos países, com exceção, talvez, dos países mais industrializados, como EUA e Europa. Era muita gente no campo produzindo para seu próprio sustento, e comercializando os excedentes para os poucos que viviam nas cidades.
A produtividade agrícola era baixa, as unidades produtivas, em sua maioria, eram pequenas e pouco mecanizadas. O plantio e a colheita eram realizados basicamente com mão de obra familiar e em anos de safra cheia não havia para quem vender, porque o Brasil pouco exportava, além de café, cacau e açúcar. O alimento se perdia ou era aproveitado na engorda de porcos.
Mas o Brasil mudou muito. Hoje, o maior contingente de brasileiros vive em centros urbanos, onde não mais produz alimento, mas continua a comê-lo. A grande produção de grãos, açúcar e fibras deixou a pequena propriedade para ser realizada por empresas agrícolas profissionalizadas, apoiadas por modernos e sofisticados equipamentos que substituem a mão de obra, cada vez mais escassa, pois o jovem do campo está preferindo ganhar até menos, mas morar na cidade. A produção de carnes (suínos e aves, principalmente), embora concentrada em pequenas propriedades, estas estão integradas em sistemas empresariais (Sadia, Perdição, entre outros) que se encarregam de tudo, menos da mão de obra.
Para ilustrar, apenas na China mais de 300 milhões de pessoas migraram do campo para a cidade, nas duas últimas décadas, onde sua renda foi multiplicada várias vezes, o mesmo acontecendo com a sua capacidade de gastar. Como consequência, esse país, que se auto-abastecia com alimentos até o início dos anos 90, hoje é o maior importador de comida do mundo. A importação de soja, por exemplo, que teve início com pequenas quantidades em 1991, hoje se acerca a 70 milhões de toneladas, mais de 60% de toda a soja comercializada em nível global. E a tendência é de a China importar mais a cada novo ano, pois 50% dos 1,35 bilhões de chineses ainda vivem no campo e, certamente, boa parte desse contingente também migrará para a cidade, demandando a comida que não mais produzirão. Sem considerar que a Índia, com seus mais de 1,2 bilhões de cidadãos está caminhando na mesma direção.
Fenômenos como o da China ocorrem no mundo todo, porque as condições de vida para quem mora no campo não são atraentes. Os jovens são os primeiros a deixar o campo, pois não vislumbram perspectivas de uma vida digna na roça e, pobre por pobre, é melhor ser pobre na cidade, onde tem mais lazer, assistência social e escola para aprender um novo ofício e crescer.
Com menos produtores no campo e mais consumidores nas cidades, fica evidente que cada agricultor remanescente terá que produzir mais para atender a demanda. Vai faltar comida? Acredito que não, pois o produtor moderno, com o uso de técnicas e equipamentos inovadores, saberá aumentar os rendimentos das lavouras via incorporação de áreas degradadas e aumentos de produtividade.
Fome no mundo continuará havendo, mas não porque o setor agrícola mundial é incapaz de produzir a quantidade de alimento necessária, mas porque os famintos, mundo afora, continuarão sem dinheiro para comprá-lo. Malthus no século dezoito (1789) previu mortes por fome e inanição, porque a população cresceria mais rápido do que a produção de alimentos, mas estava errado por não prever a capacidade dos agricultores de aumentarem a produção via produtividade.
A produtividade do campo continuará crescendo, assim como o custo para produzir os alimentos, razão pela qual comida de qualidade e barata será coisa do passado.
A propósito: se quem nasceu no campo não mais quer lá ficar, porque o MST insiste em invadir fazendas?
 

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