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Etologia, Bem-estar e Produção de Animal


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Até por volta da década de 1960 os animais eram criados, predominantemente, em grandes extensões de terra. No entanto, assim como em outras regiões do planeta, os países tropicais e subtropicais estão intensificando a criação de animais, com o intuito de aumentar a produção de alimento de origem animal para consumo humano. Estas condições de criação intensiva, porém, exigem uma adaptação fisiológica e comportamental dos animais, nem sempre consideradas pelo homem.

Atualmente, entretanto, tem se tornado claro que os sistemas de produção devem enfocar não apenas a produtividade, mas também o bem-estar dos animais. Neste sentido, duas ciências relativamente recentes, a Etologia ou Comportamento Animal e o Bem-estar Animal, vêm ganhando espaço nos meios científicos e podem, quando utilizadas em conjunto, aumentar a produtividade do sistema de produção concomitantemente ao conforto oferecido ao animal.

Os animais ditos de produção como bovinos, ovinos, caprinos, suínos e aves são gregários ou sociais e apresentam uma rígida hierarquia social baseada no poder pela força, geralmente relacionada ao maior tamanho/peso ou a presença de apêndices, como os cornos. Assim, animais retirados de seu ambiente natural e manejados em espaços reduzidos, como por exemplo, os galpões de granjas avícolas, podem manifestar uma certa inquietação que perdurará até o estabelecimento da hierarquia social dentro do grupo recém formado.

Esta inquietação, que pode ser denominada estresse - terá como resultado final redução no crescimento e produção dos animais, e conseqüentemente, na produtividade final do sistema. Assim, percebe-se que o estresse é um desafio constante à produção animal e está, sempre, inversamente relacionado ao bem-estar animal. No entanto, o bem-estar animal (animal welfare), ao mesmo tempo em que está sendo amplamente divulgado na mídia nestes tempos de consciência ecológica, é muito pouco conhecido, principalmente no que tange a animais de produção, quando nem sempre os interesses do homem são compatíveis com o bem-estar dos animais.

Apesar de existirem mensurações fisiológicas e imunológicas de estresse (e inversamente de bem-estar), a principal medida de bem-estar é a avaliação do comportamento do animal. Conhecer o comportamento de cada espécie nos permite saber se determinado comportamento expresso é anormal e se, portanto, o animal está sujeito a uma condição estressante. Um exemplo claro disso é a presença de fezes em toda a baia de suínos. O comportamento normal desta espécie é a escolha de um local, longe daqueles de descanso e a alimentação, para depósito de fezes e urina. Assim, ao saber-se deste tipo de comportamento normal, a defecação em toda a baia nos permite afirmar que os animais não estão em condições de bem-estar, apresentando estresse que pode ser decorrente de superlotação, da diferença de tamanho entre os animais, de ruídos elevados, temperatura inadequada...Da mesma forma, galinhas poedeiras criadas em gaiolas onde seus movimentos ficam restritos, passam a se automutilar e frangos criados em taxas de lotação elevadas passam a bicar seus companheiros.

Considerando-se que estresse e bem-estar animal são inversamente relacionados, alguns países têm se mobilizado no sentido de oferecer aos animais de produção condições mais próximas ao natural, e, com isso tentar reduzir as condições estressantes a que são submetidos. Este fato tem tido repercussão no mercado internacional, principalmente de carne, em decorrência da pressão de grupos pró-bem-estar animal que, na Europa, têm divulgado negativamente estabelecimentos comerciais que vendem carne importada de regiões onde os animais não são criados de acordo com as regras de bem-estar. Em adição, em diversos países, o valor de produtos originados de animais criados em condições onde o bem-estar dos mesmos foi considerado atinge preços diferenciados (até 40% superiores). 

Neste contexto, o Brasil, com sua grande extensão territorial e conseqüente possibilidade de criação de animais em um “estado mais próximo ao natural” para a espécie é um potencial exportador de produtos desta natureza. Resta aos produtores brasileiros tomarem consciência desta nova realidade mundial e adequar seus métodos de manejo e produção não mais apenas em direção a máxima produtividade, mas também ao bem-estar animal. Mesmo porque, dentro de algum tempo, esta tendência mundial chegará ao Brasil e os consumidores brasileiros passarão a exigir que os produtos que consomem advenham de criatórios com “selo de bem-estar animal”. É bom os produtores lembrarem também que animais em situações de bem-estar produzem mais...

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