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Embalagens degradáveis


Decio Luiz Gazzoni
Assim como eu, tenho certeza que o leitor toma muito cuidado ao escolher frutas no supermercado. É chegar em casa, pôr na geladeira, e metade do que foi comprado é perdido em dois ou três dias. Vale para tomate, goiaba, pêssego, pera, ameixa, etc. Seguidas todas as recomendações técnicas, a vida útil de uma fruta é de cerca de 5 dias, da colheita ao consumo.

          Há 20 anos, cientistas ingleses desenvolveram um tomate transgênico, longa vida, com tempo de prateleira muito maior, mesmo sendo colhido maduro. Porém, assim como ocorreu com o arroz dourado (maior teor de vitamina A), o tomate transgênico foi enviado precocemente para a lata do lixo pelo patrulhamento ambientalista da época, contrário a qualquer produto transgênico.
          A pesquisa, então tomou outro rumo: a criação de “embalagens comestíveis”, que envolvam as frutas e estendam o tempo de vida pós-colheita, atuando como uma barreira contra microrganismos e protegendo as frutas da desidratação precoce.
          A Embrapa Agroindústria Tropical, desenvolveu um protetor para a goiaba, que aumentou a vida útil de 5 para 12 a 14 dias (temperatura ambiente), ou 28 dias sob refrigeração. As embalagens são baseadas em emulsões extraídas do cajueiro e da carnaúba, e que também pesquisa o uso de cera de abelhas e de algas marinhas, para a mesma finalidade.
          Na Embrapa Instrumentação Agropecuária, a matéria-prima vem de produtos agrícolas - beterraba, mamão ou maracujá – e que podem ter sido rejeitados pelo comércio. Eles são triturados e transformados em uma massa desidratada por luz infravermelha. O processo é rápido (10 minutos) e rentável, pois um mamão rende três metros de filme, ao qual são adicionados conservantes naturais como óleo de canela e quitosana, que é bactericida. A nova embalagem que envolve os frutos é uma película comestível, que dissolve na água e pode ser consumida
in natura, junto com a fruta, ou como suco ou vitamina.
          Pode parecer pouco, mas embalagens comestíveis, que aumentem a vida útil de alimentos perecíveis, podem ajudar a matar a fome no mundo e diminuir o custo dos alimentos, pois estima-se que quase 50% deles são perdidos entre a semeadura e a mesa, grande parte por problemas pós colheita.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa.

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