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E o desastre do cacau pode se repetir


Decio Luiz Gazzoni
O Brasil já foi o maior produtor de cacau do mundo, uma de nossas grandes riquezas. Em 1989, a doença a “vassoura-de-bruxa” ingressou na região cacaueira da Bahia e, em menos de 10 anos, a produção de cacau levou um tombo de 75%. O desastre não foi apenas econômico, criou-se um caos social, desorganizando uma região que, apesar da estrutura coronelesca retrógrada, possuía um vicejante progresso. De maior produtor o Brasil passou a grande importador, condição que mantém até hoje. Em 2006, a revista Veja publicou duas reportagens sobre o assunto (http://veja.abril.com.br/050706/p_052.html; http://veja.abril.com.br/210606/p_060.html), tratando o tema como terrorismo biológico.

Passados 25 anos do desastre, a região se recupera e a produção de cacau volta a crescer. Os antigos coronéis desapareceram, atualmente a produção ocorre em pequenas propriedades e assentamentos de reforma agrária. Mas, nem tudo são flores nos cacauais: segundo os pesquisadores que trabalham com cacau, outra doença - a monilíase – é mais violenta e tem um potencial de devastação ainda mais intenso do que a vassoura-de-bruxa. A monilíase está presente há muitos anos em países na fronteira noroeste do Brasil, um sinal do risco iminente de que venha a cruzar a fronteira e ser detectada em nosso país.
Os cientistas não se limitaram a advertir: propuseram diversos estudos sobre biologia, ecologia, epidemiologia, controle biológico e resistência genética do fungo, para preparar o Brasil para combate-lo. Estes estudos devem, necessariamente, ser realizadas em outros países, onde o fungo já é amplamente distribuído. No entanto, estes cientistas se queixam de que suas propostas pararam em barreiras intransponíveis no seio do Governo Federal, ao longo dos últimos anos. Isto demonstraria que a lição do ingresso da vassoura-de-bruxa, sem uma preparação adequada da cadeia de produção para enfrentá-la, não foi aprendida. Posta a agressividade da moniliase, prevê-se que o desastre seja catastrófico e com maior impacto social, uma vez que, atualmente, a maioria dos produtores de cacau são os pequenos agricultores e assentados, sem o lastro financeiro dos antigos coronéis para enfrentar o problema.

 
O autor é Engenheiro Agrônomo.

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