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Desafios para o desenvolvimento da agricultura irrigada



Lineu Neiva Rodrigues

O principal desafio da agricultura irrigada brasileira será, ainda por muito tempo, aumentar a produção de alimentos, alinhado sempre com a promoção da sustentabilidade ambiental nas diferentes regiões brasileiras). É certo que o incremento de produção, necessário para suprir o aumento de demanda prevista para 2050, terá de vir da intensificação, do aprimoramento das tecnologias, das inovações, do desenvolvimento da capacidade de manejo pelos agricultores irrigantes e da forma sustentável que for adotada para se produzir nas terras agrícolas existentes e áreas que apresentem essa vocação.

Os programas governamentais foram cruciais para o desenvolvimento da agricultura irrigada no Brasil. Eles não só viabilizaram a irrigação pública em regiões remotas, mas também ajudaram na tecnificação da agricultura. A agricultura irrigada, entretanto, terá que se adaptar a uma sociedade cada vez mais dinâmica, exigente quanto à alimentação e quanto às questões sociais e ambientais.

No contexto do clima, é conveniente destacar que as mudanças climáticas já estão afetando vários sistemas naturais e ambientes humanos, tanto rural quanto urbano. Logo, a inclusão de análises sistemáticas da adaptação às alterações climáticas adaptativas às regiões da agricultura irrigada poderá orientar soluções estruturadas que envolvam modelos econômicos e hidrológicos para avaliar os efeitos das mudanças climáticas nos setores da agricultura, principalmente aqueles em que é requerido o uso de água de irrigação.

A disponibilidade de água poderá, em função da região, ser mais ou menos dependente das mudanças climáticas, o que pode impactar o sistema produtivo e o processo de entrega de alimentos. Da mesma forma, tais ocorrências poderão impactar ganhos e renda dos produtores. Além disso, planos de contingências podem ser organizados a priori da ocorrência de eventuais problemas com base na elaboração de métodos e processos orientados à gestão de riscos, integrando aspectos tecnológicos, de gestão e de governança com vista ao atendimento de cadeias de valor do processo agroalimentar, entre outros.

Nesse novo contexto, o formulador de políticas públicas, o desenvolvedor e o tomador de decisão na agricultura irrigada deverão ter em conta tratativas para o atendimento aos seguintes grandes desafios: (a) institucionais – maior integração entre as instituições públicas e privadas e suas ações; (b) políticos – maior integração e sinergias entre as políticas setoriais e os respectivos planos, além de regulamentar a política nacional de irrigação; (c) ambientais – reduzir os impactos e contribuir para a sustentabilidade ambiental; (d) estruturais – desenvolver infraestrutura básica para o desenvolvimento da agricultura irrigada nas diferentes regiões do país; (e) pesquisa – desenvolver pesquisas aplicadas, com foco nos reais problemas da agricultura; (f) capacitação – desenvolver estratégias adequadas de capacitação, atendendo às demandas dos diferentes clientes, buscando sempre apresentar o problema sob a ótica da bacia hidrográfica e fortalecer a extensão rural; (g) comunicação – desenvolver estratégias de comunicação, buscando atender às demandas dos diferentes nichos da sociedade; (h) técnicos – implementar técnicas que contribuam para aumentar a produtividade de uso água, por meio do aumento do rendimento e a redução da quantidade de água utilizada; (i) tecnológicos – trabalhar para que as tecnologias sejam assimiladas e adotadas pelos produtores; (j) climáticos – desenvolver estratégias para enfrentar as variabilidades climáticas e reduzir o risco agrícola, por meio da melhoraria da precisão das previsões, do desenvolvimento da agricultura com inteligência climática e de estratégias de adaptação às mudanças do clima.

Outrossim, a agricultura irrigada terá a grande oportunidade de contribuir para a segurança ambiental, hídrica e alimentar, podendo ainda contribuir para reduzir os impactos na produção advindos das mudanças climáticas, garantindo alimento em quantidade, qualidade e a custos acessíveis para as pessoas.

Como destacado no documento A Committee on the Future Of Irrigation in the Face of Competing Demands de 1996, o futuro da irrigação dependerá da nossa habilidade de usá-la de maneira que ela continue a trazer importantes benefícios para a sociedade, com pouco ou mais aceitáveis custos econômicos e ambientais.

Observa-se que a irrigação está em um período de transição, o que gera incertezas e ansiedade aos agricultores irrigantes. Esses, entretanto, sempre demonstraram, ao longo de décadas, criatividade e resiliência para responder aos mais variados tipos de mudanças e essas características continuarão sendo de fundamental importância para garantir o sucesso da agricultura irrigada no presente e no futuro, que serão marcados por grandes mudanças. Se olhados da maneira correta, os desafios podem ser oportunidades para se desenvolver a agricultura irrigada no Brasil, melhorando a vida das pessoas no campo.

 

*Lineu Neiva Rodrigues é pesquisador da Embrapa Cerrados e conselheiro da Rede Nacional da Agricultura Irrigada (Renai).

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