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Comprometendo a competitividade do agricultor


Decio Luiz Gazzoni
Minha coluna da semana passada apontou que o Brasil não se preparou, durante o período de bons preços, para enfrentar o ciclo de preços baixos no campo. Tem mais coisas: o câmbio – o preço de todos os preços – é outro depressor do agronegócio. Durante todo o ciclo de cotações altas, o real esteve super valorizado em relação ao dólar e outras moedas. Ou seja, no período de vacas gordas havia um parasita no intestino da economia, que devorava parte do alimento que deveria engordar as vacas. Agora chegamos ao ciclo de vacas magras, o parasita ficou menor (o câmbio está sendo reajustado), mas sobrevive, porque o real continua valorizado em relação ao dólar.

In fine, temos que considerar a questão tecnológica. Em países de clima frio, as instituições científicas são milenares, as grandes questões foram decodificadas, as inovações surgem a todo o instante, e é possível o intercâmbio entre os países de clima similar. Ao sul do Equador tudo é diferente, precisamos desenvolver tecnologia que permita atingir nosso potencial – e ela não pode ser importada. Um bom exemplo é a sanidade. Enquanto um produtor do Norte dos EUA tem no inverno um aliado, pois seis meses de neve mantém a pressão de fungos e insetos sob controle, aqui temos safra, safrinha e pós safrinha, ou seja, uma ponte verde que, se apresenta aspectos vantajosos, impõe um enorme custo de controle de pragas e exige tecnologias próprias para tanto. Portanto, também faltou investir muito mais – na exata medida do tamanho do desafio do nosso agronegócio – em desenvolvimento tecnológico e transferência de tecnologia, fundamentos da competitividade e da rentabilidade.
Vamos ingressar em um ciclo de preços baixos com grandes desvantagens competitivas e em um momento em que o orçamento nacional, deprimido por gastos excessivos e de baixa qualidade no passado recente, não terá condições de recuperar o tempo perdido. Nos restou a lição: os Governos não têm mais condições de atender as necessidades de investimento para conferir competitividade ao agronegócio. Que tal, então, permitir que o setor privado o faça, seja ele de capital nacional ou estrangeiro? Obviamente, só depois que o país recuperar a confiança dos investidores.

 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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