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Clima e energia renovável


Decio Luiz Gazzoni

 

O grande estadista Paulo Maluf cunhou a fraseSe eu sujei, deixe que eu limpo!”, na tentativa de recuperar a Prefeitura de São Paulo, após o desastre promovido por Pitta, seu afilhado político. O povo entendeu que suas intenções não eram propriamente de limpar e negou o pedido. o grande estadista George Bush cunhou outra frase célebreOs Estados Unidos não vão pagar para limpar a atmosfera do mundo”, negando-se firmar o Protocolo de Kyoto (PK). Ao contrário de Maluf, Bush recusou-se a admitir que os EUA são responsáveis por mais de um quarto da poluição atmosférica mundial, sendo os outros 220 países responsáveis por três quartos.

 

Kyoto em vigor

Escrevo esta coluna em 16/2/05, que passará para a História como o dia em que os governos mais conscientes do planeta firmaram um pacto para tentar reverter a roda do desenvolvimento insustentável. Emblematicamente, estou participando da Conferencia Mundial sobre Energia Renovável e Clima. Também é revelador que não haja um único participante dos EUA na conferencia, dominada por europeus. Sou dos que entendem que a principal característica do PK é a sua timidez, face à urgente necessidade de encontrarmos uma alternativa para o modelo de desenvolvimento predador de recursos naturais. Que é praticado pelos extremos sociais: os muito ricos, predadores de energia fóssil e poluidores de ar e água; e os muito pobres, predadores de recursos naturais não renováveis.

 

Escassez

É fácil montar um modelo econômico sobre a abundância dos recursos necessários. O desafio é fazê-lo funcionar na escassez. O PK resultou da negociação possívelentregar os anéis para não perder os dedosentre as lideranças mundiais, posta a inevitabilidade de mudanças climáticas globais que erodem a qualidade de vida. Na impossibilidade de parar de poluir, concertou-se voltar aos níveis de emissão de gases da década de 80. Para evitar a falência de industrias antigas, altamente poluidoras, criou-se o mercado de carbono, em que o poluidor paga a outrem para limpar o que sujou.

 

Energia renovável

Esta é a visão européia da problemática energética, onde a sociedade clama pela substituição de combustíveis fósseis, para reduzir o risco de enchentes, secas, furacões ou câncer do pulmão. Os americanos, com enorme part pris financista, tem outra visão. Eles tentam garantir as últimas reservas de petróleo do mundo para seu uso, dominando ou ameaçando, de alguma forma, os países que detém as reservas (Afeganistão, Iraque, Irã, Venezuela, Arábia Saudita, Kwait). Fontes alternativas de energia somente serão levadas muito a sério quando faltar combustível para o carrão V8 ou o aquecimento da casa não puder ser ligado.

 

Desafio

Queira ou não o grande estadista G. Bush, as fontes de carbono fóssil se esgotarão, até o final do século. O petróleo atingirá seu pico de produção nesta década, tornando-se anti-econômico em 50 anos. A grande fonte primária de energia de que dispomos é a radiação solar. Porém, a ciência ainda não resolveu problemas de eficiência, custo, estabilidade e armazenagem da energia fotovoltaica. A energia eólica avança a passos largos, porém tem problemas de portabilidade. A solução destes entraves virá na geração dos nossos bisnetos. Até , precisamos resolver dois desafios: parar de poluir a atmosfera e esticar ao máximo as reservas de carbono fóssil.

 

Oportunidade

E nãooutra fórmula, no curto prazo (30 anos) que não seja o uso de biocombustíveis. É neste ponto que o desafio se torna uma enorme oportunidade para o Brasil, que é o maior produtor de etanol e vai distanciar-se cada vez mais na liderança. E que será o maior produtor de bicombustíveis derivados de óleos vegetais. O empurrão que faltava ocorreu em 16 de fevereiro: os recursos do mercado de carbono vão dar um impulso definitivo na agricultura de energia no mundo inteiro, com o Brasil sendo a locomotiva deste enorme negócio energético, ambiental e social.

 

O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. Homepage: www.gazzoni.pop.com.br

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