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C&T não rende votos, aconselha Maquiavel


Amélio Dall’Agnol
Nicoló Machiavelli era italiano. Político, historiador e escritor, viveu em Florença, de 1469 a 1527. Foi uma das figuras mais brilhantes do período Renascentista europeu. Foi conselheiro e colaborador dos Médici, que governavam a rica região da Toscana. Como escritor publicou vários livros, mas notabilizou-se pela publicação de “O Príncipe”, obra prima de astúcia e malícia políticas, inspirado na figura de César Bórgia, um governante corrupto e imoral da época. O livro ensina como governar, separando a política da moral, no entendimento de que os fins justificam os meios.

Se vivo fosse, Maquiavel daria o seguinte conselho aos governantes de plantão: “Não desperdice dinheiro com Ciência e Tecnologia (C&T). Seus resultados demoram muito a aparecer e quando aparecerem, você não estará mais no poder. C&T, meu caro governante, é como um trem: uma vez desligada a locomotiva, ele continuará a deslizar pelos trilhos, parando muitos quilômetros depois. Ninguém saberá quando e onde foi desligado. Portanto, usufrua dos desenvolvimentos tecnológicos gerados pelos governantes anteriores, cujos benefícios perdurarão por um longo período ainda. A política, companheiro, assim como as marés, funciona de acordo com mecanismos próprios, que são imunes a nossos bons sentimentos”.
“Cancele todos os projetos de pesquisa e utilize esse dinheiro para fazer asfalto, comprar ambulâncias, construir casas populares. Coisas que o povo possa ver e apreciar. Faça o mal de uma só vez e o bem aos poucos. Assim você  agradará ao povo, que te recompensará com um segundo mandato. Não aspire ser um estadista, investindo na próxima geração. Seja pragmático, pense apenas na próxima eleição”.
”Quando os efeitos perniciosos da falta de investimentos em C&T começarem a aparecer, você estará concluindo teu segundo mandato. O desgaste será do governante seguinte, quem terá que investir muito para pôr novamente a máquina a funcionar e lhe faltará dinheiro para realizar obras mais visíveis. Fique tranqüilo, você será eleito para um terceiro mandato”.

Comenta-se abertamente, que instituições de C&T centenárias como o Instituto Agronômico de Campinas, em São Paulo ou o Instituto Agronômico do Paraná, que embora não centenário, desempenha papel similar no visinho estado do Paraná, são vítimas do descaso de seus governos, apesar de constituírem-se nas mais prestigiadas organizações de pesquisa e desenvolvimento agrícola de ambos estados, onde a atividade agrícola é a principal ou uma das principais fontes de geração de riqueza e de empregos. Não sei a quem responsabilizar pela delicada situação em que se encontram ambas instituições, mas uma coisa é certa: não é culpa apenas dos atuais governos. Se o trem está parando agora, é porque a máquina foi desligada muitos anos atrás, em outros governos.
A propósito de Maquiavel, tem gente acreditando na possibilidade de o Presidente John Kennedy ainda estar vivo, apesar de ter visto imagens que mostram o seu cérebro saltando da cabeça e ser recolhido do capô da limusine que o conduzia, por Jacky, sua esposa. Eu também não acredito que Maquiavel morreu. Ele está vivo. Tem exatos 536 anos e vive escondido em algum lugar de Brasília, onde presta consultoria à turma do mensalão, sobre como promover uma política de resultados, desvinculada da moral e da ética.

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