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Bons e maus ventos na produção animal


Kenio de Gouvêa Cabral

Lá se vai a metade do ano de 2007.

Bons e maus ventos permeiam a produção animal brasileira.

O frango brasileiro é mais uma vez campeão. Segundo informa a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (ABEF) no primeiro semestre desse ano as exportações cresceram 24,4%. E já é o melhor da história.

Esse desempenho é admirável com o dólar fraco e o frango valorizado.

Já se fala que o uso do milho americano para produção de etanol refletiu diretamente no aumento do preço da carne de frango nos EUA.

É irônico pensar que foi justamente o Brasil que iniciou o uso do álcool como comburente. Com a experiência bem sucedida do Brasil em combustível renovável, os EUA estão correndo atrás do tempo perdido.

Parece que aplicamos uma jogada de mestre nos gringos. Parece.

Apesar dos pesares, o Brasil é, sim, competente. Produzir álcool como comburente e a baixo custo ainda é exclusividade nossa. Isso é inovação e tecnologia. E, convenhamos, fazer etanol de milho é um luxo.

Para completar, com exceção da infra-estrutura de transportes, o Brasil possui todos os requisitos naturais para a produção de frangos. Isso facilita tremendamente as coisas.

O custo/benefício de nosso frango é imbatível. Nisso, também, tem muita inovação e tecnologia.

Nada surpreenderia se nos próximos anos aplicássemos nocautes consecutivos nos EUA. Isso por que o potencial brasileiro para produzir frangos está apenas em expansão e sabe-se lá qual será o limite.

Precisamos apenas ajustar algumas coisas para eliminar qualquer desconfiança e solidificarmos nossas exportações.

Ainda grande parte do frango brasileiro é exportada para mercados menos exigentes, cuja atenção é voltada principalmente para o preço.

Exportamos, sim, para países exigentes, como os da União Européia e o Japão, mas não são todas as integradoras em condições de atender esses mercados.

A crise com a influenza aviária trouxe a necessidade eminente da regionalização. Recentemente está se utilizando o termo compartimentação, o que dá idéia de delimitação de áreas ainda menores que aquelas previstas na regionalização. E uma não exclue a outra, segundo o Prof. Ariel Mendes, da União Brasileira de Avicultura (UBA). Com certeza são projetos que tornariam o nosso frango ainda mais competitivo.

Vale a pena conferir reportagem sobre o assunto na Revista Produção Animal – Avicultura, de junho de 2007.

Mas parece que a coisa está demorando um pouco para acontecer. Será que não está na hora de definir isso logo e colocar em prática?

Há o Plano Nacional de Prevenção da Influenza Aviária e de Controle e Prevenção da Doença de Newcastle. Mas entendo que o que se pretende tanto com a regionalização como com a compartimentação é evitar que um Estado inteiro fique isolado, como o foi o caso do Rio Grande do Sul com o foco de Newcastle há um ano atrás.

Infelizmente o setor depende da participação do órgão público para que isso seja efetivado. Aí complica.

Sabe-se que há muito tempo o Brasil anda sozinho, mas há coisas que o Governo tem que assumir.

Dá para fazer um paralelo com os problemas da crise aérea, que já eram previstos muito antes. Vieram as tragédias e o Governo, atabalhoadamente, tenta fazer alguma coisa.

Na produção de ovos, também há registros no aumento da lucratividade do produtor.

Depois de um ano ruim como o de 2006, com excesso de oferta, o preço da caixa do ovo lá embaixo e produtores no prejuízo, a reação automática foi diminuir o alojamento de pintinhos. Isso resultou no aumento da demanda.

Francisco Mitsuo, da Cooperativa de Bastos, em entrevista ao site Notícias Agrícolas, informou que o mercado atual é bastante favorável com 20% de lucratividade ao produtor.

Outro setor que está rindo à toa é o de lácteos. Finalmente chegou a vez dos produtores de leite!

Uma série de conjunturas aumentou a demanda pelo leite no mercado internacional e sobrou para o Brasil atendê-la.

Enquanto na Ásia, África e América Latina há um aumento na demanda, países produtores encontram-se com problemas.

A Austrália está com sua produção diminuída pela seca e na Nova Zelândia, além da seca, simplesmente não há mais espaço para tanta vaca.

A Europa, grande potência com 35% das exportações mundiais, reduziu os subsídios para a produção e exportação do leite.

Os EUA estão sentindo a pressão dos altos custos do milho usado na ração.

Novamente, mesmo em alta de dólar e aumento no preço do produto, o Brasil sai lucrando.

            Vale lembrar que a pujança tecnológica do frango brasileiro não se aplica ao nosso gado leiteiro.

            Temos sérios problemas sanitários. Há o programa nacional de erradicação da brucelose e tuberculose, mas tanto uma como a outra ainda são realidade no país.

A qualidade do nosso leite ainda é uma das piores, se não a pior, dentre os países com potencial exportador.

Só pelo fato do nosso leite ser "alfabetizado" indica que há muita produção sendo realizada de forma higienicamente sofrível.

Precisamos unificar a qualidade do nosso leite. E para melhor. Não agrupá-lo com letrinhas para proteger os pequenos produtores.

Desse modo vai favorecer o grande produtor? Vai, mas vai favorecer também a qualidade do leite, bem como o mercado interno e externo.

Que o Governo se vire para criar incentivos. Que haja o fomento de mais cooperativas para garantir a compra, processamento e distribuição de produtos lácteos. Precisamos içar nossos produtores para uma realidade higiênico-sanitária melhor.

Que atire a primeira pedra quem ainda não viu, em nossos dias, um galão de leite esperando, debaixo de sol a pino, o caminhão da coleta.

Não pode? Não, não pode, mas muita gente ainda faz. Como também se vende muito leite sem inspeção na rua e muito queijo contaminado com toda uma horda de microrganismos, que além de piorar a qualidade do leite são agentes de zoonoses.

A globalização é cruel. Ou nos mexemos ou ficaremos na obscuridade.

Vale lembrar que a mastite bovina, doença que mais prejuízos causa ao produtor, ainda incide de forma elevada nos rebanhos leiteiros do país.

Enfim, há muito que melhorar. Devemos aproveitar esse momento tão positivo e propício para procurarmos caminhos sustentáveis para a produção de leite e seus derivados.

A exportação de carne bovina também registrou um aumento no primeiro semestre: quase 27%. Assim como a carne de frango nosso custo/benefício é imbatível.

Entretanto vale a pena conferir o que diz Nelson Pineda, em excelente artigo publicado nesse site. Ele revela uma incongruência vivida nesse setor hoje.

Atualmente abastecemos 30% do mercado mundial, mas internamente os produtores agonizam com os baixos preços praticados pelos frigoríficos exportadores, onde apenas 18 deles correspondem a 98% da carne exportada pelo Brasil.

Os donos dos frigoríficos, que por um lado pagam mal e em Reais aos produtores nacionais, e que, por outro lado, exportam embasados em preços internacionais, recebendo em Dólar ou Euro, estão ganhando muito.

Vale a velha máxima: que tudo quer nada tem. Espero que não surja uma crise daí e acabe prejudicando a produção.

Outro setor com problemas é a suinocultura. Há um excedente considerável no mercado interno, o que faz os preços despencarem.

A Revista Agromais de abril/maio de 2007 traz boa reportagem a respeito.

O mesmo foco de aftosa ocorrido em 2005, que não abalou o mercado internacional da carne bovina brasileira, faz agonizar até hoje os produtores catarinenses, principalmente devido ao embargo Russo.

A carne suína chegou a custar R$ 2,50/quilo. Hoje não passa de R$ 1,50/quilo e o custo de produção é de R$ 1,87/quilo. Imagina como fica o produtor em um momento como esse.

Felizmente, consultando as várias fontes especializadas, há boas perspectivas quanto ao crescimento nas exportações, que parece ser o principal caminho, senão o único, em curto prazo, para melhorar o setor.

Em longo prazo vale a pena tentar conquistar uma fatia maior do mercado interno. O duro é competir com a carne de frango.

Irônico é ouvir por aí que é justamente a criação de frango que está sustentando a criação suína.

Para finalizar a pior das notícias. A carnicicultura brasileira está na UTI.

A crise começou há´três anos atrás quando os produtores americanos alegaram a prática de dumping pelos brasileiros.

Até então, estávamos realizando um estrago nos produtores americanos. Como é de praxe o Governo americano resolveu sobretaxar nosso camarão.

A produção brasileira vinha num crescente, com um crescimento de mais de 2.500% entre 1997 e 2003.

Hoje nossa produção apresenta, em comparação com 2003, queda de mais de 50% e milhares de trabalhadores demitidos.

Os produtores alegam desvalorização do dólar para justificar a crise.

Pode ter ajudado. Mas, isso não foi tudo.

Alguns dos fatores que levaram a bancarrota disseminada são: falta de visão dos produtores; desunião de todo o setor; desrespeito ao meio ambiente; falta de atenção ao mercado interno; ausência de investimentos em outras culturas de manejo similar ao camarão.

Os produtores restantes procuram minimizar a crise corrigindo erros do passado. Pode ser tarde; ou não. É esperar para ver.

É uma pena. Temos condições de produzir camarão a baixíssimo custo, como em lugar nenhum no mundo. Entretanto, não é de uma hora para outra que se consolida um negócio como esse.

Ninguém imaginava 35 anos atrás, quando a carne bovina era cara e de péssima qualidade, que um dia seríamos os maiores exportadores do mundo. O mesmo caminho trilhou a carne de frango.

Investiu-se em pesquisa em todas as áreas da produção: genética, nutrição, manejo, biossegurança. O resultado é um produto de qualidade e baixo custo. Houve consolidação do mercado interno e, depois, do externo.

O nordeste brasileiro, que é onde se concentra a carnicicultura, não se pode dar ao luxo de não explorar ao máximo esse potencial.

É importante para a região, que é carente, e é importante para o país, pois gerará emprego e divisas.

Juntando tudo que foi descrito acima, é de se orgulhar de nosso país. Isso sem citar a produção agrícola, que vai de vento em popa.

Só nos falta combater uma praga que é pior que a influenza aviária ou a febre aftosa: a incompetência política. Só falta isso.

Sim, pois o Brasil caminha para ser o celeiro do mundo com os produtores pagando altos impostos, sem boas estradas, sem hidrovias, sem portos eficientes, entre outras adversidades.

Imaginem fazer tudo isso embasado por uma boa administração pública.

Enfim, não dá para pedir tanto para nossos políticos.

Como disse uma vez um produtor rural em uma entrevista na televisão "...já que não ajudam, que pelo menos não nos atrapalhem".

Infelizmente, eles têm atrapalhado um bocado.

Oxalá que no final de 2007 possamos falar de peito aberto que esse foi o melhor ano da produção agropecuária da história do Brasil.

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