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Biocombustíveis: oportunidades ou ameaças


Climaco Cezar de Souza
O Brasil está preparado para a realidade e a concorrência dos  combustíveis  de segunda e de terceira geração? “oportunidades ou ameaças?”
 
Segundo o prof. Petri Kukkonen - Diretor de Desenvolvimento de Negócios da UPM-Kymmene Corporation - muitos  especialistas dizem que o mal que os biocombustíveis de primeira geração causam ao nosso planeta pode ser maior do que o bem. Além do mais, outros especialistas citam que o desvio mesmo que parcial de alimentos para a produção de biocombustíveis está gerando um aumento recorde no preço dos óleos comestíveis, açúcar e de outros alimentos no mercado e a crescente especulação nas bolsas.
 
Com isto, como diversas outras empresas e entidades, a UPM da Finlândia também está investindo em tecnologias de segunda geração para transformar biomassa em combustíveis líquidos. Segundo ele, a criação de diesel sintético e de outros bioquímicos a partir de resíduos florestais representa uma oportunidade fundamental e brilhante e que, certamente, mudará em curto tempo a geografia econômica e energética dos países.
 
No Brasil, a grande vantagem das usinas de cana é que essas novas tecnologias, no primeiro momento, podem ser incorporadas aos processos atuais. Isto permitirá, por exemplo, utilizar os elevados volumes de C02 gerados no processo industrial de fermentação em biorreatores de algas, proporcionando uma produção adicional de até 30,0% mais de etanol com 01 tonelada da mesma cana. Em pouco tempo, também será possível processar o bagaço para a produção total ou parcial de etanol. 

Também com tais tecnologias, proximamente, nossos grandes complexos de eucalipto do interior, ou mesmo de locais que chovam abaixo de 1.200 mm/ano (o menor nível para a celulose), serão inteiramente viabilizados ao poderem produzir, de forma sustentável, elevados volumes de diesel sintético mais eletricidade e/ou mais gases industriais raros e, melhor, próximos às cidades do interior e em franco desenvolvimento, ou mesmo para exportações.

Vejamos as definições e as possibilidades reais (não mais experimentais) de cada configuração tecnológica:
 
BIOMASSA - Um termo abrangente que significa qualquer fonte de carbono orgânico (materiais de plantas) que é renovado rapidamente como parte do ciclo do carbono.
 
COMBUSTÍVEIS DE PRIMEIRA GERAÇÃO - Combustíveis feitos de produtos alimentícios com alto conteúdo de amido (por exemplo, beterrabas, cana-de-açúcar, batatas) ou de óleo (óleo de soja, óleo de canola).
 
COMBUSTÍVEIS DE SEGUNDA GERAÇÃO - Combustíveis de fontes lignocelulósicas (por exemplo, resíduos florestais). Os materiais de segunda geração serão convertidos em combustíveis líquidos por meio da tecnologia BTL (vide a seguir). 
 
ETANOL- O etanol é produzido pela fermentação do açúcar de plantas em uma solução aquosa, que depois é separada por destilação. Uma mistura normal de 10% de etanol de milho na gasolina dos EUA pode reduzir as emissões totais de CO2 em seu ciclo de vida, da origem à descarga dos automóveis, em cerca de 3% (recente foi autorizado o aumento para 15% da mistura). No Brasil, a atual gasolina tem 25% de álcool anidro e 20% de nossa frota de veículos leves é movida por puro etanol (álcool hidratado).
 
COMBUSTÍVEIS DE TERCEIRA GERAÇÃO – Iguais aos de segunda geração, mas também utilizando microalgas, cianobactérias geneticamente alteradas (GMO) e enzimas para ainda maiores produções de biocombustíveis em menores espaços de tempo. Estes projetos já se encontram em fase de produção e comercialização, e não mais experimental, em alguns países como na Dinamarca, Alemanha e Canadá.

GASEIFICAÇÃO - Processo que converte materiais que contêm carbono (hidrocarbonetos) em monóxido de carbono mais hidrogênio, ao reagir os materiais a altas temperaturas (> 700°C) com uma quantidade controlada de oxigênio. A mistura gasosa resultante é chamada de gás de síntese, sendo matéria prima para inúmeros processos e aplicações industriais.

GÁS DE SÍNTESE - Gás de síntese criado durante o processo de gaseificação.  O gás de síntese é limpo e a razão de hidrogênio e monóxido de carbono é ajustada antes da conversão para combustível sintético no processo F-T.

FISCHER-TROPSCH (F-T) - Reação química catalisada na qual o monóxido de carbono e hidrogênio são convertidos em hidrocarbonos líquidos de várias formas. O processo F-T é uma tecnologia já estabelecida e aplicada em larga escala ao carvão e ao gás natural.

BIOMASSA-PARA-LÍQUIDOS (BIOMASS-TO-LIQUIDS, BTL) - Combustíveis sintéticos produzidos a partir do gás de síntese da transformação e liquefação de componentes da biomassa. Sua fonte de matéria prima pode ser a biomassa, mas também uma série de resíduos orgânicos, urbanos e industriais, inclusive lixos, esgotos, restos culturais, serapilheira etc. Uma vantagem deste processo é a possibilidade de se produzir combustíveis similares aos fósseis (chamados de diesel sintético). Portanto, podem ser usados nos sistemas existentes de distribuição de combustível e motores padronizados, ao contrário do que acontece com o biodiesel.Também, não reduzem a produção de alimentos e não contribuem para a ainda maior fome dos povos.

WELL-TO-WHEELS (ciclo de vida completo dos biocombustíveis, desde a origem à descarga do automóvel) - Os biocombustíveis têm o potencial de diminuir as emissões de gases do efeito estufa porque as plantas das quais são feitos absorvem CO2 durante o crescimento. O levantamento do impacto do ciclo de vida é chamado de estudo well-to-wheels e calcula o valor líquido de CO2 emitido/retirado da atmosfera entre o crescimento da planta e as emissões da descarga dos veículos.

No Mundo e no Brasil, alguns cientistas, Entidades e Empresas, ainda continuam negando tais realidades já pujantes em países concorrentes, mas, no final de 2010, o BNDES (o Banco de Desenvolvimento do Brasil) publicou importante e completo estudo em português e em que recomenda a necessidade de o País e de suas Empresas ficarem mais atentos às tais possibilidades e riscos (vide em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set32101.pdf).
 
Concluindo, resta a pergunta: Como e quais de nossas Empresas Energéticas (incluindo usinas de cana e petroleiras) estão, realmente, preparadas para tais realidades e concorrências?

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