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As chances da seringueira no Paraná


Amélio Dall’Agnol
A seringueira é uma planta bem brasileira, até no seu nome científico: Hevea brasiliensis. Planta de clima tropical úmido, ela é nativa da Amazônia, onde é encontrada vegetando livremente pela região.
Com a expansão do comércio da borracha em meados do século 19, a Amazônia foi intensamente explorada na busca pelo látex da seringueira para a produção de artefatos de borracha - pneus principalmente. Henri Ford, o pai da então incipiente indústria automobilística americana, desejoso de fugir do monopólio da borracha, dominado por cartéis ingleses e alemães, decidiu produzir a sua própria borracha, ansioso por ter matéria prima abundante e barata. Com tal objetivo, no final da década de 1920, Ford investiu dezenas de milhões de dólares na aquisição de terras brasileiras às margens do Rio Tapajós, interior do Pará e no meio do nada contruiu modernas cidades, como Fordlândia e Belterra, para abrigar confortavelmente operários brasileiros e americanos. Milhões de seringueiras foram plantadas num curto espaço de tempo.

Em meados da década de 1940, no entanto, vencido pelos medíocres resultados econômicos do seu mega projeto, pela concorrência com o látex produzido no Sudeste asiático e pelo desenvolvimento da borracha sintética, Ford abandonou a aventura amazônica e os milhões de dólares investidos na região.
A baixa produtividade dos seringais da Ford foi resultado, em boa medida, da ocorrência de doenças (Microciclo, em particular), mas, também, de outros problemas relacionados ao monocultivo da seringueira, problemas que não foram percebidos quando as plantas se desenvolviam isoladamente no interior da grande floresta. Os esqueletos do mega empreendimento da Ford ainda estão por lá e servem para testemunhar que a ousadia do homem pode, eventualmente, ser vencida pela natureza.
Se bem o monocultivo da seringueira na Amazônia deu em fracasso, não foi assim com os plantios comerciais realizados na Malásia, utilizando sementes levadas da Amazônia brasileira em 1870 e nem, tampouco, com os plantios comerciais estabelecidos no Brasil, mas fora do ecossistema amazônico, haja vista os excelentes seringais que podem ser encontrados em MS, MT e SP.

O Brasil só produz 30% do látex que consome e seria bem vindo o incentivo para o incremento do plantio de seringais no Brasil, incluindo as terras arenosas e quentes do Noroeste do estado do PR, inadequadas para o cultivo de grãos.
O cultivo da seringueira, no entanto, igual acontece com o dendê (outro cultivo amazônico), é um investimento de lenta maturação e de alto custo de implantação/manutenção. Os retornos financeiros só começam a fluir após sete anos, o que torna a atividade insustentável para produtores sem outra fonte de renda, a menos que recebam incentivos do poder público, no período que precede a produção. A propósito, o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) do Governo Federal oferece crédito barato (5% ao ano), com carência de oito anos para o cultivo da seringueira, o que poderia estimular o investimento.
Segundo especialistas, bem conduzido um seringal poderá render R$ 1.600,00/ha/ano, durante 30 anos; mais do que poderia render o plantio de soja e milho. Também, poderia ser investimento mais rentável do que o reflorestamento com pinus ou eucalipto, visto que além da madeira, da seringueira também se extrai o látex. 
O PR tem demanda para uma produção de 35.000 ha, apenas para abastecer a indústria da Sumitomo, em construção nos arredores de Curitiba. Mas só cultiva 1.400 ha.

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