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Árvores não derrubadas


Decio Luiz Gazzoni
O Globo Rural dos dias 20 e 27 deste mês apresentará uma retrospectiva do agronegócio brasileiro, contrastando as cenas da década de 1970 com o que ocorre nesta segunda década do século XXI. Como um dinossauro que testemunhou todo este período, prestei minha contribuição para o Globo Rural contar esta história, especialmente nas gravações efetuadas no Mato Grosso. Aquele estado foi escolhido porque, há 40 anos, era o ícone da pobreza e do atraso, por qualquer ângulo que se analisasse. Hoje, o Mato Grosso só não é um dos melhores locais do mundo para trabalhar e viver porque a infraestrutura, especialmente de transportes, fica muito a dever à capacidade empreendedora e ao potencial do estado. Houvesse uma hidrovia a la Mississipi ou Reno e o Mato Grosso seria muito mais desenvolvido do que já é.

Mas o Globo Rural vai falar de contrastes. Da agropecuária extensiva, itinerante, ineficiente, insustentável e predatória dos anos 60, nada restou. Hoje, os empresários agrícolas mais eficientes do mundo lá estão. Os gaúchos migrantes, expulsos dos pampas pela minifundização do estado, atualmente estão confinados aos conselhos de administração, substituídos na gestão pelos filhos, com sólida formação universitária, que inclui pós graduação nas melhores universidades do mundo; que passam o dia conectados no que se passa no universo dos negócios; que pensam estrategicamente; e que costumam ter planos de negócios para a década seguinte, permanentemente revisados para adaptar-se às mudanças de cenários.
O eixo central da revolução do agronegócio brasileiro foi a tecnologia, o que pode ser expresso de duas formas para ilustrar a sustentabilidade do agronegócio brasileiro. A primeira forma é a produtividade, que cresceu 266% nos últimos 50 anos, apenas nas lavouras de grãos. A segunda é o índice que eu criei para o Globo Rural: o número de árvores não derrubadas, em decorrência do avanço tecnológico. Apenas na safra de 2011, devido aos ganhos sustentáveis de produtividade, 36 bilhões de árvores foram poupadas, ou seja, deixaram de ser derrubadas para alimentar o Brasil e o mundo. Este número é um orgulho para nós, cientistas e extensionistas, para os produtores e para todos os brasileiros.

 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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