CI

Áreas de refúgio e a sobrevida da tecnologia Bt


Amélio Dall’Agnol
O governo está em vias de estabelecer obrigatoriedade na adoção de áreas de refúgio com cultivares convencionais ou RR, para quem planta soja, milho ou algodão Bt, como fez com o vazio sanitário para controlar o ferrugem asiática na soja. O objetivo é o de aumentar a sobrevida da tecnologia Bt. Essa medida é justa, porque na ausência da obrigatoriedade, mesmo quem segue as recomendações da pesquisa estabelecendo áreas de refúgio, acaba prejudicado pelo não cumprimento dessas recomendações por parte de produtores mais relapsos.
A tecnologia Bt é boa, tanto de uma perspectiva ecológica quanto econômica, pois reduz o dano ambiental pela aplicação de menores quantidades de inseticidas e reduz os custos de produção (quando o preço da semente não for extorsivo). Entretanto, há uma tendência à indução de resistência, porque as lagartas são permanentemente expostas à ação da toxina (Bt) que a planta produz. Tanto é que, para o milho, a primeira geração da tecnologia Bt (Yieldgard e Herculex) já está comprometida e o mesmo poderá acontecer com as tecnologias Bt posteriores (VTPro e Viptera), incluindo a IPro da soja, se medidas preventivas, como o uso de refúgios, não forem adotadas com urgência.
Previamente ao lançamento de cultivares de soja com a tecnologia Bt, o produtor foi alertado sobre a possibilidade de a tecnologia ter vida curta, se medidas preventivas eficientes não fossem adotadas desde o princípio. A necessidade de estabelecer áreas de refúgio próximas das lavouras semeadas com soja Bt, foi a principal recomendação, cujo propósito é o de permitir o acasalamento entre os insetos suscetíveis provenientes das áreas de refúgio, com os resistentes, sobreviventes das lavouras Bt. Apesar de o DNA das lagartas oriundas desse acasalamento ser, teoricamente, 50% resistente e 50% suscetível, a quantidade de toxina Bt presente na lagarta heterozigota compromete a sobrevivência desses indivíduos.
Em lavouras com soja Bt, só lagartas resistentes sobrevivem, pois as suscetíveis são eliminadas pela toxina, com poder inseticida do Bacillus thuringiensis (Bt) presente nessas plantas. Sem a opção de acasalamento com as lagartas suscetíveis provenientes do refúgio, as lagartas resistentes da lavoura Bt acasalarão entre si, tendo descendentes igualmente resistentes. Com o tempo, a população inteira de lagartas de determinada região será resistente e a tecnologia perde validade.
Embora ainda haja controvérsia, a área de refúgio recomendada para soja corresponde a 20% da área total cultivada e o sincronismo no desenvolvimento das plantas da lavoura Bt, com as do refúgio, é recomendada, pois nessas condições aumentam as chances de acasalamento entre os insetos resistentes com os suscetíveis.
O refúgio pode ser estabelecido em uma área contígua à lavoura Bt, ou fazê-lo em faixas, alternando soja Bt com soja não Bt, mas em distâncias não superiores a 800 metros entre as duas plantações. Para não perder a soja cultivada no refúgio (convencional ou RR, mas não Bt) pelo ataque de lagartas, o produtor deve realizar o manejo integrado de pragas ou aplicar inseticidas com moderação, sem pretender eliminar 100% dos insetos, pois dessa forma não sobrariam indivíduos suscetíveis para acasalar com os resistentes da lavoura Bt. 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.