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Agradeça ao agricultor


Decio Luiz Gazzoni
O habitante da urbe deve muito ao agricultor, a quem, além de Deus, deve agradecer o pão nosso e os demais alimentos de cada dia. O Brasil é o melhor exemplo do que ocorre quando as políticas corretas são aplicadas. Para quem, como eu, já virou a esquina dos 60 anos, estão vivas na memória lembranças anteriores à década de 70, quando eram rotina a escassez e a importação de alimentos. Vergonha das vergonhas para um país que, já à época, era tido como celeiro do mundo, mas convivia com fome e alimentos importados.

        Uma das heranças benditas do regime militar foi o conjunto de políticas de apoio ao agronegócio, para transformar o Brasil de importador em exportador de alimentos, o que incluiu a criação da Embrapa. Após 40 anos, o Brasil é o 2º exportador de alimentos do mundo, rumo à liderança. A cesta básica custa, hoje, 50% (em valores atualizados) do que valia em 1975. Como o salário mínimo dobrou seu poder aquisitivo, quem o recebe despende, hoje, 25% do que gastava há 40 anos em alimentos. Com a cesta básica valendo R$296,00, a cada mês cada família brasileiras recebe, indiretamente, uma “bolsa agricultor” de R$296,00. Para comparar, o valor médio da bolsa família, em 2011, foi de R$115,00.
Em 2011, o Governo previa incremento do PIB superior a 5%. Cresceu 2,7%, um quarto do verificado na China. Mas, poderia ter sido pior, se não fosse – novamente – o agricultor. A indústria cresceu apenas 1,6% e, não fora o aumento de 3,9% do PIB do agronegócio, o crescimento brasileiro teria sido ainda menor. O país chegou a ter crescimento negativo no terceiro trimestre – coincidentemente quando não há colheita importante na agropecuária.

No ano passado o Brasil produziu a maior safra de sua história, ultrapassando 162 milhões de toneladas de grãos, um crescimento de 8,6% em relação a 2009. A colheita de soja cresceu 9%, feijão 14%, arroz 18% e algodão 72%. O aumento da produção exigiu mais mão-de-obra, sementes, adubos, combustível e máquinas. Com o lucro da colheita, o agricultor trocou de carro ou de apartamento. Isto movimentou a economia do interior do Brasil, apesar do baixo crescimento do PIB. Portanto, além da bolsa e do pão nosso, agradeça ao agricultor também pelo seu emprego.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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