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A verdade sobre o Manejo Integrado de Pragas


Amélio Dall’Agnol
Na década de 1970, uma iniciativa da Embrapa Soja deu início a uma campanha de Manejo Integrado de Pragas da Soja (MIP-Soja) no Estado do Paraná, com o objetivo de reduzir o número de pulverizações com inseticidas e, assim, baixar o custo de produção, a contaminação ambiental e a morte dos inimigos naturais das pragas da soja. Como resultado da campanha, o número de pulverizações por safra caiu de cinco a seis para uma a duas e milhares de toneladas de pesticidas deixaram de poluir o ambiente, sem afetar a produtividade.
Com o enfraquecimento da campanha, o surgimento de novas pragas e o aumento no preço da saca de soja, muitos produtores que haviam adotado a tecnologia voltaram ao passado e hoje está-se aplicando até mais inseticidas nas lavouras de soja do que na fase pré-campanha.
A pesquisa, no entanto, continua a defender o MIP como uma excelente ferramenta no manejo das pragas da soja. O agricultor, no entanto, parece só dormir tranquilo quando estiver seguro de que os insetos-praga presentes na lavoura estão mortos, mesmo que a quantidade não justificasse o seu extermínio. O aumento do custo de produção, a morte dos inimigos naturais das pragas e o dano ambiental, importam menos do que a convicção de ter-se livrado de um risco potencial.
São várias as razões que levaram o agricultor a retornar ao uso intensivo de pesticidas: a)- é mais fácil estabelecer um calendário de pulverizações do que monitorar a população dos insetos-praga; b)- falta de mão de obra capacitada para realizar corretamente o levantamento; c)- a maioria dos agricultores desconhece o efeito dos inseticidas na seleção de pragas resistentes e na mortandade dos inimigos naturais das pragas e da sua importância no controle das mesmas; d)- o produtor considera que o controle natural das pragas feito por seus inimigos naturais é muito lento e pulveriza antes que a praga alcance o nível de controle; e)- a maioria dos produtores não acredita que a soja suporta sem prejuízos no rendimento uma desfolha de 30% (fase vegetativa) e 15% (fase reprodutiva); f)- a pressão exercida pelos fornecedores dos inseticidas - muito mais presentes na propriedade do que a assistência técnica oficial - o induzem a tais práticas.
Os produtores que não utilizam o MIP, apesar dos evidentes benefícios para o seu negócio, justificam com o argumento de que eles vivem no limite da sobrevivência como agricultores e não podem correr o risco de perder uma safra pelo controle deficiente das pragas que atacam a cultura. Por essa razão, uma vez constatada a presença de pragas na lavoura, eles se inquietam e mesmo acreditando no MIP, desconfiam. Na dúvida sobre a quantidade de insetos que justifique uma intervenção profilática, optam pela tolerância zero e “eliminam” antecipadamente o risco potencial.
Mas há riscos que não são reais e não deveriam inquietar o produtor. Por exemplo, grandes ou pequenas quantidades de percevejos na fase vegetativa da planta não acarretam prejuízos à produção de soja. Percevejo ataca vagens e grãos, portanto, enquanto essas estruturas reprodutivas não estiverem presentes na lavoura, não há risco de perdas. Ainda assim, há produtores que, mesmo sabendo desse fato, pulverizam para reduzir a população de percevejos, acreditando que sua presença em menor quantidade quando a soja chegar à fase reprodutiva, facilitará o seu controle.
Errado, porque uma pulverização na fase reprodutiva, tanto mata uma pequena, quanto uma grande população de insetos e com a mesma dosagem. Além disso, já se comprovou que os percevejos presentes na fase vegetativa são altamente parasitados, sendo mais importantes como multiplicadores de parasitoides do que como progenitores de novas gerações de percevejos.
A aplicação de inseticida desnecessária, além de não aumentar a produtividade da lavoura, prejudica a população dos inimigos naturais da praga, incrementa os custos de produção e polui o ambiente. Um péssimo negócio.
 

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