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A perigosa situação do desabastecimento crescente de grãos e alimentos


Climaco Cezar de Souza
A difícil, e perigosa, situação do desabastecimento crescente de grãos e alimentos, dos preços já  elevados e da ampliação já certa da fome e dos conflitos dela decorrentes no mundo a partir de 2010. (Versão e tradução simples de artigo – público e disponível na internet -, publicado por Scott Kilmanno The Wall Street Journal em 07/03/2011, pelo Prof. Climaco Cezar da AGROVISION – Brasília)

 “Se o Mundo já consome os grãos e alimentos mais rápido do que os agricultores podem produzi-los, o que esperar dos  preços futuros, da fome e dos motins crescentes nos países pobres e famintos?”

Há 3 anos, o Mundo está consumindo os grãos mais rápido do que os agricultores podem produzi-los, reduzindo as reservas e empurrando os preços para níveis que aumentam motins em países pobres e com fome. "O palco está montado para rupturas ainda muito mais graves, pois mais catástrofes climáticas devem acontecer", disse Keith Collins, economista-chefe do Departamento de Agricultura dos EUA. "Parece-me claro que a chance de uma crise alimentar global aumentou".

 Com as economias de mercados emergentes em forte alta e a demanda global por alimentos também em elevação, os preços estão subindo. Hoje, por exemplo, os preços do trigo já são até 80% mais caros do que há um ano. As altas dos preços dos alimentos estão entre os fatores desencadeantes dos protestos de rua, que assolaram recentemente a África do Norte, onde predomina a dieta a base de trigo, sendo que o Egito é o maior importador mundial do grão. Já os Governos asiáticos estão usando subsídios e controles de preços para proteger seus consumidores da inflação.

Mesmo nos EUA, os preços de varejo de alimentos devem subir cerca de 4% em 2011 e muito mais rápido do que em 2010, quando o Índice de Preços ao Consumidor de alimentos subiu 0,8%, o menor índice desde 1962. Também as altas dos preços da energia, desencadeadas pela agitação no mundo árabe, também podem aumentar os custos da produção de alimentos. Os presidentes-executivos das redes de supermercados e de empresas de outros alimentos, como restaurantes, estão relutantes em repassar todos os seus custos crescentes para seus preços, enquanto, por outro lado, a taxa de desemprego nos EUA mantém-se elevada em 8,9%.

Os preços das commodities estão subindo, em parte, também porque os países importadores de alimentos têm poucos lugares para os comprarem. Os EUA controlam 55% do comércio mundial de milho; 44% do comércio de soja; 41% do comércio de algodão e 28% em trigo. O USDA em fevereiro recente divulgou que o índice de preços agrícolas, que contempla 48 commodities, foi 24% superior ao de fevereiro de 2010. Se por um lado, alegra os produtores de grãos, por outro entristece os proprietários de confinamentos bovinos (em ambas situações é o consumidor que tudo paga).

A China está devorando quase 25% da safra de soja dos EUA, para engordar seus porcos e frangos, ansiosamente consumidos pela sua nova classe média. As fábricas de têxteis do País estão comprando quase 35% das exportações do algodão americano. As exportações de trigo dos EUA também estão até 46% maiores do que no ano passado, devido aos problemas climáticos ocorridos na Rússia, no Canadá e em outros Países, grandes produtores.

Devido aos preços crescentes da gasolina, cerca de 40% da safra de milho dos EUA está sendo destinada à fabricação de etanol. Neste momento em que a colheita começa, o USDA espera que os EUA tenham milho suficiente para satisfazer o apetite do país por 18 dias. É a pior situação desde a década de 30, segundo Dust Bowl.

Anteriormente, os agricultores respondiam à elevação dos preços com o plantio de mais terras, o que baixava os preços a seguir, mas este ciclo parece estar quebrado, o que significa altos preços dos alimentos por mais tempo. O USDA prevê que em 2011 os agricultores dos EUA irão aumentar a área plantada com a 8 maiores cultivos em 9,8 milhões de hectares, ou 4% mais, a maior mudança em 15 anos.

No caso do milho, a demanda está tão elevada que o aumento de 10% esperado na safra apenas ampliariam as reservas do País em 5 dias. Como resultado, o USDA espera que o preço da safra de milho deste ano, ainda a ser plantada, atinja a média de $ 5,60 por bushel.

Já a produção global de café foi recorde em 2010, mas, mesmo assim, os preços estão subindo porque os estoques estão no limite. Os preços do açúcar também são os mais altos em quase 31 anos, apesar de uma safra mundial recorde em 2010. No caso do cacau (e dos chocolates e afins), só a expectativa de uma possível guerra civil na Costa do Marfim elevou os preços ao nível mais alto em 32 anos, apesar de a produção ser recorde em 2010.

Em complemento, devido aos problemas climáticos de 2010 nas principais nações produtoras de trigo, como o Canadá e a Rússia, a produção mundial de trigo caiu 5,5%.

A solução seria os agricultores ampliarem a produção ainda mais rápido do que outrora, mas isso é difícil de fazer em potências agrícolas como os EUA, onde os preços de terras agrícolas estão subindo e as melhores terras já estão tomadas. Por outro lado, grande parte das terras de outros países - e que poderiam ser incorporadas ou re-incorporadas á produção - estão em regiões onde o clima é muito volátil, como no cinturão do trigo do Mar Negro.

Para Dan Glickman, que foi Secretário de Agricultura dos EUA (ministro), a era de grãos sobrando e estoques elevados não existe mais. Já para Cleavinger David - um fazendeiro de 53 anos que planta 3.500 hectares de grãos e algodão perto Wildorado, Texas - "Os preços estão altos, mas tudo referente à agricultura parece estar ficando bem mais arriscado".

Muitos economistas se preocupam com o que aconteceria com os preços mundiais dos alimentos se uma grande e demorada seca atingisse o cinturão de milho do Meio-Oeste americano e ainda os Estados com grandes cultivos de soja. A maioria dos meteorologistas não prevê uma forte seca para o Centro-Oeste, mas a atual seca nas Planícies do Sul já causa grande preocupação. Anteriormente, a grande seca de 1988 reduziu o tamanho da safra de milho dos EUA em 31%. Contudo, o Sistema alimentar absorveu o choque, porque os EUA tinham 7 meses de milho em estoques. Contudo, com as insignificantes reservas deste inicio de 2011, uma forte seca pode elevar os preços atuais do bushel de milho e de soja para aproximadamente o dobro, para US $12 e $27, respectivamente, disse Dan Basse, presidente da AgResource Co.

Economistas também citam que a pressão política para retirar os subsídios federais para a indústria do etanol pode elevar ainda mais os preços dos alimentos nos EUA, devido à ampliação dos custos da alimentação do gado, pela queda de produção e oferta de DDGS, um resíduo mais barato da moagem de milho para etanol com 40% do total, e que representa 33% do peso do grão na entrada e com altíssimo teor protéico bruto, até 30%, mais do que o farelo de soja. A queda da oferta do DDGS paralisaria a produção de leite, de carne bovina, de carne suína e de frango. No exterior, o número de pessoas desnutridas também ampliaria e mesmo com a ajuda alimentar dos Fundos dos EUA para os famintos em todo o Mundo (cerca de US $ 2,1 bilhões em 2010).

A seca atual, na verdade, já causa problema nos EUA, porque o tempo seco já está diminuindo o potencial da cultura do trigo de inverno nas planícies do sul, que é plantado no outono e colhido no início do verão. Os meteorologistas prevêem que o tempo, anormalmente seco, possa persistir em grande parte do sul dos EUA nesta primavera. No Texas, um Estado importante para plantio de trigo, 56% da safra atual foi avaliada como muito ruim pelo USDA.

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