CI

A Embrapa parou. Parou porquê?


Decio Luiz Gazzoni

Felizmente, a Embrapa não cerrou as portas em definitivo. E esse dia nunca chegará, se Deus e os cidadãos conscientes do Brasil assim o desejarem, apesar de as intenções governamentais não serem claras a esse respeito. A Embrapa parou alguns dias para que o Brasil reflita se a Embrapa é um bom investimento para a sociedade.

É bom para o agricultor?

Qual agricultor brasileiro nunca se beneficiou da Embrapa? Quantos só permanecem na atividade porque a tecnologia da Embrapa o viabiliza? Há 15 anos a área cultivada com grãos no Brasil, é a mesma. Já a produção bate recordes anuais, acumulando mais de 100% de crescimento no período. Nos últimos sete anos, dobrou a produção de soja e a produtividade cresceu mais de 25%. Sem o aporte tecnológico da Embrapa, jamais o Brasil alcançaria a posição de principal exportador de soja do mundo, em vias de ser o maior produtor. Idem para o milho e para o algodão, que brotam fagueiros de um Cerrado outrora improdutivo. Vale para as frutas, temperadas ou tropicais. Vale para o arroz, o feijão, a mandioca, a criação animal. São números que o Governo Federal alardeia, à boca cheia, como suas grandes conquistas.

É bom para o cidadão urbano?

A atividade agropecuária manteve a inflação baixa, retendo o valor da cesta básica ao alcance do consumidor. Maior produtividade no campo permitiu que o agricultor lucrasse, mesmo vendendo alimentos mais baratos. Baratos, porém mais saudáveis, mais nutritivos, cada vez com menos contaminantes químicos e biológicos.

É bom para os Governos?

Sem os agronegócios o Brasil estaria em forte recessão. O crescimento do agronegócio (6,5% em 2003) impediu que o PIB brasileiro afundasse -2,5% ao invés de -0,2%. E o agronegócio obtém sua competitividade da tecnologia gerada pelos institutos de pesquisa. Os 28 bilhões de dólares previstos para o superávit da balança comercial de 2004 virão, integralmente, do agronegócio pois os demais setores da economia são deficitários nas transações internacionais. A Embrapa ajudar a fechar as contas internacionais e, também, as nacionais, porque dos agronegócios sai parcela ponderável da arrecadação tributária. Saem os poucos empregos gerados no país. Que evitam as migrações para as periferias das cidades.

É bom para o ambiente?

A Embrapa possui uma extensa agenda ambiental, diminuindo os impactos da exploração agrícola e gerando alternativas com forte fundamento ecológico, para a produção primária. Estudos comparativos entre os impactos ambientais da produção agrícola dos anos 70 e do início desse século, demonstram os benefícios das tecnologias da Embrapa para uma agricultura sustentável.

É bom para a saúde?

Mais que bom, excelente! As novas técnicas de controle de pragas reduziram os casos de intoxicação dos aplicadores e dos consumidores. Porém, o maior benefício está nos novos produtos para o consumidor, fundindo os conceitos de nutrição e saúde. Os novos alimentos apresentam propriedades funcionais como a redução do risco de tumores cancerígenos, de acidentes cardiovasculares, aumentam a disponibilidade de anti-oxidantes, facilitam as funções metabólicas e fisiológicas. Traduzindo: devido ao labor da Embrapa você vai menos ao médico, usa menos remédio e melhorou a sua qualidade de vida!

Porque a Embrapa parou?

Parou porque seu orçamento, em termos reais, equivale a 50% do valor de anos anteriores (deve ser a herança maldita!) e, apesar do orçamento menor, quase nada foi liberado pelo Tesouro Nacional. Parou porque, neste mês, 120 títulos foram protestados em cartório resultando em Internet e telefones cortados. Parou porque seus empregados são cidadãos conscientes da importância da instituição para o nosso Brasil. Parou para alertar a sociedade dos prejuízos decorrentes da menor atividade da Embrapa. Parou porque seu quadro funcional é de primeiríssima ordem, atraindo olhares gananciosos de empresas privadas e de instituições internacionais, sequiosas de tê-los em seus quadros. Parou alguns dias para evitar que, no futuro próximo, você sofra o efeito de a Embrapa haver parado definitivamente. Agora, se você, agricultor ou consumidor, pobre ou rico, jovem ou adulto, nada fizer para auxiliar a quem, silenciosamente, tem contribuído para o desenvolvimento do Brasil e para melhorar a sua vida, o arrependimento pode chegar tarde, quando o agronegócio brasileiro perder competitividade, o preço dos alimentos afastá-los de sua mesa, ou o desemprego bater à sua porta.

O autor é Engenheiro Agrônomo. Homepage: www.gazzoni.pop.com.br

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.