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A cultura do fracasso


Amélio Dall’Agnol
Eu ainda era menino, quando, pela primeira vez, alguém me definiu a diferença entre o pessimista e o otimista. Tomando como referência uma garrafa de vinho consumida pela metade, essa pessoa me informou que o otimista fica feliz de ver o quanto de vinho ainda tem para beber e o pessimista se entristece pelo quanto já foi tomado. Os brasileiros, certamente com muitas exceções, temos a mania de salientar as coisas negativas do nosso país, enquanto os americanos fazem exatamente o contrário. No recente episódio dos atentados terroristas contra os EUA, intuiu-se que a imprensa norte americana - antes mesmo de receber do seu governo sinais nesse sentido - autocensurou-se, omitindo fatos e fotos que poderiam afetar a auto-estima do seu povo. Pergunto: em idêntica situação, como teriam reagido os nossos meios de comunicação? Talvez o contrário, de olho nos índices de audiência e sem importar-se com a saúde mental da população brasileira. Não sou sociólogo, como o nosso Presidente, que já chamou de fracassomaníacos alguns políticos que só sabem criticar o governo, mas bem que gostaria de entender as razões que levam um povo a preferir salientar as suas frustrações, ao invés de exaltar as suas glórias. Complexo de inferioridade, mágoa, ignorância ou maldade mesmo? Luiz Marins, renomado conferencista e consultor de empresas, comentou o vício do brasileiro de auto-flagelar-se, transmitindo a falsa imagem de que pertencemos a uma sociedade infeliz, quando somos exatamente o contrário. Até quando, pergunta Marins, continuaremos a dizer “
nem parece o Brasil”, quando algo bem feito, bonito, correto, limpo, acontece no País e “só podia ser no Brasil”, quando algo sujo, desonesto, mal feito, horrível, acontece em nosso território? Porque, continua Marins, não falamos do Projeto Genoma, onde o Brasil figura como o único representante do Hemisfério Sul, ou não comentamos o programa de combate à AIDS, tido como o de maior sucesso mundial entre iniciativas similares? Porque não dizer que 42% do PIB da América Latina é do Brasil e que são brasileiros 40% dos internautas dessa região? Porque não dizer que somos o quinto país em número de telefones fixos e o segundo maior mercado mundial para telefones celulares, jatos executivos e helicópteros? Que o Brasil é o 5º país do mundo em poder de compra, o 3º mercado para refrigerantes e o 4º para geladeiras e lavadoras de roupa? Porque não falar que 97,3% das crianças brasileiras de 7 a 14 anos estão na escola, que temos 15 fábricas de veículos e outras quatro se instalando? Que temos o mais moderno sistema bancário e de apuração de eleições do mundo? Que somos o 5º mercado fonográfico e o país em desenvolvimento com o maior número de empresas com ISO 9.000? Porque não falar do sucesso da soja brasileira, que já supera a produtividade da soja americana? Porque falar da violência no Brasil e esquecer-se da violência muito maior do Oriente Médio, do IRA, do ETA, dos Bálcãs? Porque criticar a pequena queda da nossa produção industrial, sem referir-se aos 16% de queda em Cingapura, 12% em Taiwan, 10% na Malásia e 8% no Japão? Afinal, porque falar com prazer da falta de energia, do apagão e anunciar dados positivos com justificativas catastrofistas, como fez recentemente um grande jornal ao comentar, que, o menor índice de desemprego do País desde 1997, deveria ser creditado ao desalento e à descrença do trabalhador, que desistiu de procurar emprego? O que precisaria ser feito para que o brasileiro deixasse de desdenhar a sua própria terra, elevasse sua auto-estima e abandonasse o complexo de vira-lata? Falta um Projeto de país, sonho nunca perseguido pela nossa classe política ou nos falta patriotismo e respeito pelo Brasil? Talvez seja porque tratamos mal a nós mesmos que não crescemos, permanecendo eternamente o país do futuro. Acorda Brasil, pois o otimismo, assim como o pessimismo, também contagia. Quem não respeita e ama a Terra que o viu nascer, vai gostar de que?

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