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A água poderá mover seu trator!


Decio Luiz Gazzoni
Se já não bastasse o desincentivo governamental ao setor sucroenergético, mais uma ameaça surge no horizonte, desta vez de cunho tecnológico. De forma estereotipada, a cana produz etanol usando insumos simples como água e gás carbônico, pela fotossíntese e outros processos orgânicos da planta. Cientistas americanos vinham apostando na tese de que a conversão eletroquímica dos mesmos insumos é ideal para o armazenamento de energia renovável de alta densidade, e poderia se constituir em um incentivo para a captura e sequestro de gás carbônico.

Porém, até recentemente, eletrocatalisadores eficientes para a redução do gás carbônico, que permitisse produzir biocombustíveis de forma sustentável, não estavam disponíveis. Embora muitos catalisadores possam reduzir o dióxido a monóxido de carbono, a síntese de combustível líquido requer que redução mais intensa, utilizando água como fonte de hidrogênio.
O cobre é a única substância conhecida com atividade eletrocatalítica apreciável na redução do monóxido de carbono. Porém, quando utilizado em escala industrial, a sua eficácia para produzir combustíveis líquidos era muito baixa para impor-se como tecnologia competitiva.
Era! Cientistas de universidades da Califórnia publicaram na revista Nature um artigo recente, no qual demonstraram que o cobre nanocristalino (eis aí a inovação!), preparado a partir de óxido de cobre, produz substâncias como etanol, acetato e n-propanol. A reação atinge até 57 % de eficiência com baixa tensão elétrica (entre -0,25 e -0,5 V), em ambiente com água alcalina, saturada com monóxido de carbono.

A História registra múltiplos exemplos de como o avanço da Ciência desloca produtos, processos, tecnologias e produtores que estavam no paradigma anterior, sempre que surge uma inovação que quebra este paradigma. O Brasil reunia todas as condições para disparar como maior produtor, consumidor e exportador de etanol do mundo, gerando riqueza, emprego, renda, negócios e muito desenvolvimento. Vinha seguindo esta trilha até meros quatro anos. Parece que matamos a galinha dos ovos de ouro, cuja cruz na cova pode ser a nova tecnologia descoberta pelos americanos.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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