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A agricultura não é a vilã da inflação, mas a imprensa não divulga


Climaco Cezar de Souza
Os vilões de 2011 são a educação, as despesas pessoais, os transportes e os vestuários

Inicialmente, é importante bem atentar que, em termos de destinos das produções totais, o Brasil por sua vocação muito agrícola é, ao mesmo tempo, pouco tomador e pouco formador de preços externos agrícolas, destacando-se apenas no açúcar, no café e na soja como formador de preços. Nos demais produtos, a maior parte das produções é destinada aos mercados internos, ampliando e regulando a oferta interna e mantendo os preços e a inflação sob certo controle. Assim, a maior parte dos preços internos pouco tem a ver com os preços internacionais, mas com uma condição peculiar de ofertas, demandas, estoques e políticas agrícolas de suporte e incentivos, apenas internos.

Tal situação só não funciona melhor, pois quase não há armazenagens estratégicas e preventivas, sobretudo nos próprios imóveis rurais (como ocorre muito nos países concorrentes) e mesmo com os Governos muito incentivando aqui, mas também com uma forte atuação – preliminar e direta - das grandes tradings multinacionais quase que impedindo isto.

Também, o Brasil não tem uma política publica de estocagens de produtos perecíveis e/ou de curta duração e/ou com perdas rápidas de qualidade no pós-colheita (carnes, lácteos, feijão, alguns hortifrutis etc..). Seriam necessários apenas uns poucos - de 5 a 10 - armazéns frigorificados ou, pelo menos, herméticos (muito mais baratos), estrategicamente bem localizados, por exemplo, como detém a Austrália, sendo que armazenagem privada de nada adianta nestes casos. 

Com isto, boa parte de nossas inflações de alimentos (normais,  sazonais ou climáticas) decorrem mais da falta de uma correta política de armazenagem publica, suficiente, adequada e estratégica. literalmente: “ainda temos inflação de alimentos somente porque queremos”. As produções vêm sendo muito incentivadas, mas boa parte dos grãos e alimentos ainda se perde na colheita, no transporte, no lixo, no ralo ou é vendida rapidamente por faltas de armazenamentos adequados nos imóveis ou, sobretudo, públicos desde que modernos, estratégicos e bem localizados, nos casos dos alimentos perecíveis e imediatos. Os Governos não podem se afastar de uma missão que é apenas suas, sobretudo nos alimentos que exigem armazenamentos estratégicos, pois estes sempre colaboram para despertar o dragão da inflação mensal de alimentos.

Em 2011, as maiores CONTRIBUIÇÕES ACUMULADAS para a inflação (de janeiro a agosto) foram, pela ordem, as despesas com educação; as despesas pessoais; as despesas com transportes e idem com vestuários (neste caso, em alguns meses). Só que a imprensa, dita séria, não divulda apenas isto.

Já os alimentos, embora já com algumas significativas elevações mensais em seus preços (linha azul médio com marcadores vermelhos) nem tanto contribuíram para os índices acumulados da inflação no ano (IPCA = linha azul escuro com marcadores amarelos). Só que a imprensa, dita séria, divulda apenas isto.


Em 2011, a maioria dos preços dos produtos agrícolas e alimentos, em nível de consumidor, se portou dentro da curva média mensal e acumulada do IPCA. Contudo, as hortaliças e as verduras (linha azul com marcadores em vermelho), sobretudo os tubérculos, raízes e legumes, tiveram preços médios mensais e acumulados bem acima do IPCA. Os impactos na inflação acumulada somente não foram maiores devido aos menores pesos de participações desses itens no índice geral.





Infelizmente, numa analise apenas mensal, os alimentos foram os vilões da inflação, MAS SOMENTE EM AGOSTO DE 2011, boa parte ainda pelos efeitos da entressafra e falta de estocagens.



Os maiores vilões da inflação dos alimentos em agosto de 2011 foram as frutas, os açucares, as carnes e os pescados. NOTEM QUE ESTES QUATRO ITENS MUITO PUXARAM O IPCA MENSAL (NÃO ACUMULADO) PARA CIMA.


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