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Código florestal


Decio Luiz Gazzoni
Em 2010 um grande banco internacional de investimentos nos convidou para apresentar, em Londres, as perspectivas do nosso agronegócio para as 2 próximas décadas, com as oportunidades do Brasil para investidores internacionais. Tudo indica que as perspectivas eram críveis e factíveis, pois recebemos convite para reapresentá-las em um Congresso nos EUA e no Mercosoja, na Argentina. Por que este comentário extemporâneo? Porque se aproxima a votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados, depois de 3 anos de tramitação. Na sua discussão transpareceu à opinião pública que haveria uma impossibilidade física: ou a produção de alimentos cresce ou se protege o ambiente.

 
Sempre sustentamos que esta tese é um sofisma. É possível conciliar os dois objetivos, com tecnologia adequada, aumentando a produtividade sustentável sem o recurso a novas áreas. Vamos aos números. Embora alimentos não se restrinjam a grãos, a FAO propugna que, até 2050, será necessário aumentar em 70% a produção mundial de grãos e em 90% a de carne. Suponhamos que, neste período, o Brasil cresça o dobro, aumentando a produção em 140% (grãos) e 180% (carne), devido ao menor aporte de outros países. Nos últimos 30 anos, a produtividade de grãos no Brasil cresceu 3,2% ao ano. Para crescer 140%, a produtividade deveria incrementar-se a “apenas” 2,4% ao ano. E isto seria possível? A produtividade de soja no Brasil (em 2011) foi de 3.115 kg/ha. Mas o recorde brasileiro é 6.501 kg/ha e o mundial 10.380 kg/ha. Em 2011 a produtividade de milho foi de 4.156 kg/ha (o recorde brasileiro é 12.892 kg/ha e o mundial 22.920 kg/ha). O mesmo raciocínio se aplica para lotação, ganho de peso e idade de abate do gado, pois nossas médias estão distantes do limite tecnológico. Logo, dispomos de tecnologia para mais do que duplicar a produtividade, e temos 40 anos para torná-la realidade. Mesmo dispondo de 30 milhões de hectares degradados para recuperar e 90 milhões de hectares de cerrados para cultivar, não os precisaremos utilizar se usarmos a tecnologia adequada na atual área em uso. Concluindo, com tecnologia sustentável e bons profissionais para aplicá-la no campo, ao contrário de desmatamento, teríamos sobra de área no Brasil.

 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.
 

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