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Carta aberta ao produtor de soja


Amélio Dall’Agnol

Acabou para o produtor de soja brasileiro o período da graça concedido pelo mercado e por São Pedro. Os preços do produto caíram, os custos da produção subiram, a chuva faltou ou veio em excesso e a ferrugem asiática chegou com a fúria de um exército mongol. E pior, as perspectivas de preço em curto prazo não são boas: a safra americana foi 20 milhões de toneladas maior que a anterior e a produção somada do Brasil e da Argentina promete superar as 100 milhões de toneladas (17 a 20 milhões superior à safra passada). Vai sobrar soja no mercado, o que nos permite afirmar que o aumento do preço só virá (se vier) pela via da desvalorização cambial (Palocci, olha nós aqui).

Só há um jeito para contra atacar tantas desgraças: produzir mais por unidade de área, mantendo os mesmos custos de produção ou reduzindo-os. Isto se consegue usando mais a força do conhecimento e menos a força física. Em outros termos, usando mais os insumos intelectuais (tecnologias) e menos os insumos materiais (fertilizantes e defensivos).

Quando, no início de 2004, o preço da saca de soja sinalizava alcançar US$ 20,00 (conseqüência da queda na safra americana seguida de queda nas safras do Brasil, da Argentina e do Paraguai), tudo era justificável; até usar preventivamente defensivos ou exagerar na quantidade dos fertilizantes. Qualquer acréscimo na produção compensava o custo do exagero. Mas agora meu irmão, quando o único lucro da safra pode estar no excesso do fertilizante utilizado ou no defensivo desnecessário aplicado, a conta deve ser outra.

Todos sabemos que parte dos estados de MS, PR, SC e RS foi afetada por intensa estiagem na última safra, condição que não favoreceu o desenvolvimento da ferrugem asiática. Muitos produtores, no entanto, não quiseram correr o risco da espera pelo aparecimento da doença e optaram pelo tratamento preventivo. A ferrugem não apareceu ou, se apareceu, não se desenvolveu. Eles, no entanto, desperdiçaram dinheiro com uma ou até duas aplicações de fungicida, que só serviram para poluir o ambiente e amassar a soja no caminho do pulverizador. A principal causa na queda do rendimento na região foi a estiagem e não a ferrugem.

A crise por que passa o produtor de soja não é nova. Esse filme já foi mostrado em outras épocas e nos deixou boas lembranças. Após cada crise o rendimento das lavouras cresceu como resultado de melhorias no processo produtivo, confirmando a verdade de um provérbio chinês que diz: “pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota”. No período que antecedeu a bonança desses últimos anos, o mercado da soja estava até pior do que agora e o que fez o produtor que sobreviveu à crise? Aumentou a produtividade, usando mais intensivamente as tecnologias de produção e de gestão da propriedade.

Está na hora de repetir o remédio usado nas crises anteriores, aumentando a produtividade, mas mantendo os custos estáveis ou, até, reduzindo-os. Estamos em tempo de vacas magras, instância apropriada para repensar o modelo produtivo em uso: o do desperdício.

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