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Cana e biotecnologia


Decio Luiz Gazzoni
Um estudo do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), publicado no Plant Biotechnology Journal, confirmou que genes associados ao teor de sacarose apresentam alterações de acordo com o potencial de rendimento de biomassa da cana.
O foco do estudo é a “cana energia”, que não precisa ter grande quantidade de açúcar, mas muita biomassa, sinônimo de alta produtividade. A premissa é que, no futuro, cultivaríamos dois tipos de cana: a atual, com alto teor de açúcar; e a cana fibra, destinada a produzir energia, sendo usadas técnicas biotecnológicas para desconstruir carboidratos complexos, como celulose e hemicelulose, até açúcares duplos ou simples. Estes açúcares seriam, então, objeto de fermentação por microrganismos modificados geneticamente, podendo produzir grandes quantidades de qualquer biocombustível (etanol, butanol, bioquerosene, biogasolina, diesel vegetal, etc.).

A produtividade da lavoura de cana brasileira situa-se entre 80 e 100 t/ha. O potencial produtivo, demonstrado em talhões experimentais, é de 400 t/ha, se forem eliminados todos os estresses bióticos (pragas) e abióticos (seca, frio, baixa fertilidade). Esta produtividade foi atingida com variedades convencionais, de alto teor de açúcar. Como a eficiência da planta é maior para produção de polímeros (fibras), as atenções se voltam para novos tetos de produtividade da cana.
O teto é apenas um sinalizador teórico da produtividade que pode ser obtida nas lavouras comerciais. Com menor demanda de energia da planta, seria possível aumentar a produtividade no campo, se o teor de açúcar do caldo for menor. Este não será um grande problema se, efetivamente, forem desenvolvidos processos para desconstrução das substâncias complexas para outras simples, utilizando microrganismos. Esta linha de pesquisa também apresenta novidades, pois estão sendo “engenheirados” microrganismos que fariam as duas etapas simultaneamente, ou seja, digerir as fibras e transformar os açúcares em combustíveis. Esta inovação representa uma redução de custo de produção, competitividade para a cadeia e menor custo do biocombustível na bomba, favorecendo a substituição de combustíveis fósseis, altamente poluentes.

 
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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