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Campeão mundial no uso de agrotóxicos?


Amélio Dall’Agnol
Segundo veiculado pela ANVISA, desde 2008 o Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos nos seus campos de produção agrícola. Segundo a nota, o Brasil movimenta 19% do mercado mundial de agrotóxicos, contra 17% dos Estados Unidos, o segundo colocado, mas que cultiva uma área muito maior, com produção três vezes a brasileira. Entre 2000 e 2010, o consumo desses produtos aumentou 190% no Brasil, contra 93% no resto do mundo. O IBGE corrobora esses dados, informando que de 2002 a 2012, o consumo de agrotóxicos no Brasil saltou de 2,7 para 6,9 kg/ha; um salto de 155% no período. O maior consumo foi de herbicidas (62,6%), seguidos de inseticidas (12,6%) e fungicidas (7,8%). A liderança dos herbicidas está associada ao uso do glifosato para o controle das plantas daninhas na soja, milho e algodão RR.
A liderança indesejada do Brasil no uso de agroquímicos, conquistada no correr da presente década, é resultado do expressivo aumento da área cultivada e do uso mais intensivo de insumos agrícolas, principalmente agrotóxicos e fertilizantes, responsáveis pelas sucessivas supersafras, que, se bem deixaram enormes superávits na balança comercial do País, por outro lado ameaçam a sustentabilidade da produção, pela contaminação ambiental que promovem.
O uso de agrotóxicos é um mal necessário. Sem eles, a produção de alimentos seria muito menor, principalmente em regiões quentes de baixa latitude, como as do Brasil. Se bem o Brasil lidera o consumo de agrotóxicos, ele também é um dos maiores produtores de alimentos (é o segundo maior exportador de comida) e cultiva uma das maiores áreas do Planeta: aproximadamente 80 milhões de hectares, a maior parte localizada em climas tropicais, onde a proliferação de pragas e de doenças é muito mais acentuada.
Nos climas temperados (Europa, EUA...), o rigor do inverno inibe o desenvolvimento de pragas e de doenças, o que explica a menor necessidade de uso de agrotóxicos. No Brasil tropical, no entanto, a realidade é outra, embora seja inegável que há exageros na quantidade e na frequência que muitos produtores os utilizam. Imediatistas e avessos a correr riscos, via de regra esses agricultores buscam a via mais fácil de calendarizar as pulverizações, aplicando o agrotóxico com baixa infestação ou até mesmo, sem a presença da praga ou da doença.
Os bons preços das commodities agrícolas em anos recentes favoreceram o uso abusivo do controle químico, o que tem promovido o surgimento de pragas, doenças e plantas daninhas resistentes aos agrotóxicos, tornando-os inócuos. O mais recomendado, desde uma perspectiva ambiental e econômica, seria manejar os insetos-praga, as doenças e as plantas daninhas, valendo-se, não apenas do controle químico, mas integrando-o ao controle cultural e biológico, técnicas conhecidas como Manejo Integrado de Pragas (MIP), de Doenças (MID) e de Plantas Daninhas (MIPD).
As pragas nas lavouras são uma resposta da natureza às práticas agronômicas que o homem exerce sobre os campos de produção. Num passado não muito distante, não havia agrotóxicos e, por causa disso, de tempos em tempos ocorriam “epidemias” e intensos ataques de pragas à produção agrícola, o que resultava em drásticas frustrações de safras e, consequentemente, fome generalizada, com milhões de mortos e êxodos em massa. Esses acontecimentos, que eram raros, ocorriam como resultado de uma conjunção de fatores causadores de desequilíbrios biótico-ambientais. O agrotóxico surgiu como alternativa de tratamento tópico para uma situação emergencial mas, com o tempo, incorporou-se como rotina nas atividades agrícolas, porque o agrotóxico tornou-se um negócio multimilionário.
Práticas agrícolas que protegem e estimulam a presença de inimigos naturais são parte importante do manejo integrado de pragas e doenças. O controle químico com agrotóxicos seletivos (não matam os inimigos naturais) é um complemento necessário, para que o equilíbrio entre praga e inimigo natural seja preservado e mantido. 
 

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