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Biotecnologia e produção animal


Decio Luiz Gazzoni

Biotecnologia lembra plantas transgênicas ou células tronco para terapia humana. Correndo por fora está a biotecnologia aplicada à pecuária que começou com o auxílio à seleção genética, como testes de DNA e clonagem, e hoje se esparrama por diversos ramos. A realidade atual e as perspectivas futuras são fascinantes e os problemas técnicos ainda existentes serão superados no curto prazo.

Melhoramento

O melhoramento genético animal tradicional caracteriza-se pela morosidade, independendo se a característica desejada é precocidade, ganho de peso, índice de gordura ou produção de leite. Com biotecnologia, é possível expandir o foco para características, que sequer estão presentes na espécie. Por exemplo, o salmão transgênico possui uma taxa de conversão 15% superior aos não-transgênicos, redundando em rápido crescimento, e que está obtendo grande sucesso comercial. Os modelos animais destinam-se a estudos médicos, para utilização em transplantes, ou como biorreatores, para produção de fármacos, permitindo, por exemplo, a introdução, em animais, do gene "HLA-G", que reduz em até 70% a ação das células imunológicas do organismo que atacam o órgão transplantado.

Biorreatores

Esta é uma das áreas mais excitantes, que permite expressar diversas proteínas em animais, introduzindo genes de outras espécies, como suínos transgênicos, com o gene da β-globina humana, expressas nas glândulas mamárias do animal. Dessa forma, além da globina, outras proteínas de interesse para a saúde humana, como κ-caseína e β-lactoglobulina, também são extraídas do leite. Outro exemplo é a expressão do fator IX de coagulação do sangue humano e a α1 antitripisina, produzidas no leite de ovelhas transgênicas. Em cabras transgênicas sintetiza-se o ativador de plasminogeno humano, enquanto a proteína C (anti-coagulante), além da hemoglobina humana foram produzidos em suínos.

Modelos

Os biotecnologistas da área vegetal usam Arabidopsis thaliana como modelo, onde as novas combinações gênicas podem ser testadas, antes da transferência para plantas de valor comercial. Na biotecnologia animal, camundongos têm sido usados como modelo, induzindo-se doenças como fibrose cística, arteriosclerose, osteogênese imperfeita, β-talassemia, obesidade ou AIDS. A face mais conhecida destes estudos é o entendimento de diversas formas de tumores malignos, a sua prevenção e terapia. Existem oncogenes, que causam diferentes tipos de câncer em camundongos transgênicos, os quais são inseridos nos animais de conformidade com o estudo desejado.

Sanidade

A vacinação dos animais objetiva mantê-los sadios e evitar a transmissão de doenças a outros animais. Apesar da revolução que ocorreu após a implantação dos processos imunizatórios, persistem casos em que não há vacinas eficazes, ou com janela imunológica longa (período em que o animal vacinado permanece desprotegido), ou ainda com problemas de biossegurança na sua produção. As vacinas usando DNA recombinante podem substituir, com vantagem, as vacinas tradicionais, já havendo diversos exemplos em desenvolvimento ou comerciais. Pela mesma técnica, podem ser produzidos medicamentos como antibióticos e antiinflamatórios, usando-se bactérias como biorreatores. Essa rota tecnológica permite reduzir o custo, assegurar a qualidade e reduzir os riscos de biossegurança. Finalmente, o uso da biotecnologia pode fornecer diagnósticos mais precisos, mais baratos e obtidos mais precocemente. Um dos exemplos é o kit de diagnóstico de PCR, usado na Inglaterra para detecção precoce da febre aftosa, depois da epidemia do inicio da década, que quase dizimou o rebanho de Sua Majestade.

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