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BIOTECNOLOGIA: AMEAÇAS E OPORTUNIDADES


Amélio Dall’Agnol

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A moderna biotecnologia, desde que criteriosamente manipulada, poderá constituir-se numa das mais importantes ferramentas para o desenvolvimento da humanidade, solucionando velhos problemas de saúde e de alimentação da população via transformação de plantas e animais através de sofisticadas técnicas de engenharia genética. Por outro lado, quando mal manejada, ela poderá liberar organismos vivos geneticamente transformados no ambiente e ameaçar o equilíbrio ambiental e a saúde de pessoas e de animais.

Pelos conhecimentos disponibilizados à sociedade até o presente momento, a biotecnologia nem é a panaceia de todos os males que uns propalam e nem se configura no perigo que outros sustentam. Parece, no entanto, constituir-se muito mais num instrumento para o incremento do bem-estar da humanidade, do que numa ameaça à sua sobrevivência.

A engenharia genética, é verdade, tanto pode criar um medicamento que cura, quanto um agente patogênico que mata. O que não se pode aceitar, contudo, é que, pelo medo de criar-se este último, se deixe de desenvolver o primeiro. Tudo o que se precisa fazer, para evitar que a eventual má criação se multiplique e se propague no ambiente, é utilizar mecanismos de proteção contra os potenciais malefícios da transgenia. Para cuidar disso, foi criada a Comissão Técnica Nacional de Biosegurança - CTNBIO. A ela corresponde zelar pelo correto manejo dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM) no País, seja na sua fase de desenvolvimento nos laboratórios ou na fase mais crítica dos testes a campo, quando o OGM é liberado no ambiente.

Os riscos das manipulações genéticas existem, mas são controláveis nas fases prévias à sua liberação para uso público. Não são, portanto, riscos provenientes da sua aplicação regulamentada e sim do manejo inadequado dos produtos dali resultantes.

Produtos modificados geneticamente existem e são consumidos por homens e animais, desde que existe vida sobre a Terra. A Natureza tem processado essas transformações genéticas aleatoriamente e levado milhões de anos para conseguí-lo. Foi através de modificações genéticas semelhantes que o macaco se transformou no Homo sapiens que pretendemos ser. Mas as transformações genéticas que resultam em indivíduos melhores, como essa do macaco-homem, via processos naturais, são uma raridade e só ocorrem por um capricho da Natureza. Via de regra, as transformações genéticas que ocorrem naturalmente, resultam em seres vivos piores que os originais.

A diferença entre o presente e o passado está no fato de que a moderna biotecnologia consegue, através de técnicas avançadas de manipulação genética, mudar o processo natural de evolução dos organismos vivos, de aleatório para planejado e reduzir o tempo de sua evolução, de milhões para apenas alguns anos.

Bem manipulada, a biotecnologia não parece oferecer riscos ao nosso desenvolvimento e sim constituir-se numa oportunidade para a humanidade avançar mais rapidamente em direção a um mundo melhor. A sociedade que teme os riscos dos transgênicos deveria preocupar-se, igualmente, com os riscos que a privação de tais tecnologias pode causar à competitividade de indivíduos, de empresas e de nações. O poder e a riqueza de uma nação, não mais está na abundância dos recursos naturais, mas no domínio do conhecimento. Numa economia globalizada a palavra de ordem é competitividade, que rima com produtividade, que se consegue com o uso de mais de conhecimentos.

Tomadas as devidas precauções de segurança, a biotecnologia pode ser considerada uma benfeitora, ao invés de uma potencial agressora do meio ambiente, pois, ao contrário de poluí-lo, ela pode protegê-lo, incorporando genes de resistência a pragas e doenças nas plantas cultivadas, o que reduziria a quantidade de agrotóxicos aplicados no ambiente para proteger os cultivos.

Vivemos no Brasil, já há algum tempo, no contexto de uma polemica a respeito da soja transgênica. Se os argumentos de que não houve avaliação suficiente para garantir segurança dos OGMs liberados no ambiente são pertinentes, tudo bem. Que se façam mais testes para garantir a nossa segurança, sem esquecer, todavia, que os principais competidores da soja brasileira dispensaram essa avaliação complementar e estão levando vantagens no mercado mundial (mais da metade da soja americana e 99,6% da soja argentina é transgênica). Seus custos de produção diminuíram e o mercado não parece estar descriminando seu produto como deveria, se fossem sérias as reclamações dos países importadores, já que os mesmos continuam a comprá-la de americanos e argentinos pagando preços semelhantes aos do produto brasileiro. Isso indica que são hipócritas as aparentes restrições ao consumo de produtos transgênicos por parte das populações desses países. A grande maioria dos consumidores, aparentemente, está comprando produtos elaborados com soja, sem importar-se se ela é transgênica ou não.

Seguinte: se não é o consumidor quem está discriminando a soja transgênica na Europa e na Ásia, quem está pagando pelas caríssimas campanhas promovidas nessas regiões contra a soja transgênica? Interesses outros, que não a saúde humana e ambiental, está motivando grupos a lutarem por essa causa, que não é a deles.

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