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Biofortificação


Decio Luiz Gazzoni

Cada grupo de plantas é considerado uma fonte de alguns nutrientes essenciais. Por exemplo, os grãos são fontes de carboidratos, proteínas, lipídios e vitaminas solúveis em gorduras, porém possuem baixas concentrações de cálcio e ferro. Os vegetais folhosos são boas fontes de vitaminas e sais minerais, porém são pobres em macronutrientes. As frutas providenciam carboidratos, vitaminas solúveis em água e carotenóides, porém não são boas fontes de proteína e certos minerais. Esta é a razão principal de os profissionais de nutrição recomendarem uma diversificação da dieta alimentar.

Porém, em alguns casos, há escassez de determinados produtos ou seu preço limita o acesso da população a certos alimentos. Existem populações inteiras que baseiam sua alimentação quase exclusivamente em mandioca, arroz ou milho. Em outros casos, o nutriente é parcialmente perdido através do processamento ou do cozimento dos alimentos. Neste caso, também é necessário aumentar o seu teor, para garantir a ingestão da quantidade necessária.

Para melhorar a qualidade nutricional dos alimentos, um dos programas em voga é a biofortificação. Veja a seguir, o que está sendo pesquisado, para as culturas alimentares básicas.

Feijão

O programa de melhoramento está focado na melhoria dos teores de ferro e zinco. Para tanto, mais de 2000 acessos do banco de germoplasma do CIAT foram escrutinados, à cata de genótipos com teor mais elevado desses minerais. Novas linhas, com concentrações de ferro 70-100% superiores às convencionais já foram obtidas. Nas variedades convencionais, a absorção de zinco e ferro é baixa devido aos antinutrientes, ou seja, substâncias que se ligam aos metais, reduzindo a sua biodisponibilidade. Os pesquisadores estão reduzindo o teor de polifenóis do feijão e, com isso, aumentando a absorção dos metais. A vitamina C facilita a absorção, razão pela qual os pesquisadores buscam aumentar seu teor no feijão.

Arroz

O banco de germoplasma do IRRI (Filipinas) é a base da prospeção de genótipos de arroz com alto teor de zinco e ferro. Para aumentar o teor de vitamina A, estão sendo usadas técnicas de biotecnologia. Os pesquisadores também procuram concentrar os nutrientes no endosperma, para evitar a sua perda no processamento industrial. O objetivo dos cientistas é dobrar o teor dos minerais no arroz, o que garantiria mais de 50% das necessidades nutricionais destes elementos.

Milho

O Brasil faz parte da rede mundial que busca elevar o teor de pró-vitamina A no milho, que é o alimento básico de 1,2 bilhões de pessoas. Os trabalhos preliminares estão sendo conduzidos no IITA (Nigéria) e CYMMIT (México), que, além dos cruzamentos iniciais, desenvolveram um protocolo de teste do teor de pró-vitamina A com custo de US$10/amostra (custo normal: US$100). Os materiais genéticos estão sendo desenvolvidos principalmente para uso na América Latina e África.

Trigo

A coordenação mundial do trabalho localiza-se no CYMMIT, porém os trabalhos de campo estão distribuídos, com grande contribuição da Índia e do Paquistão. A estratégia inicial é aumentar os teores de zinco e ferro em variedades altamente produtivas e resistentes a doenças, adaptadas a esta parte do mundo. Utilizando trigos primitivos e um parente próximo do trigo, foi possível obter genótipos com teor de zinco e ferro 40-50% superior às cultivares tradicionais. Também está sendo usada a biotecnologia para introduzir o gene da ferritina, que aumenta o teor de ferro no grão. Os pesquisadores estimam que, a partir de 2007, os novos genótipos estarão disponíveis para programas de melhoramento, em todo o mundo.

Mandioca

O Brasil também participa do esforço mundial para aumentar o teor de pró-vitamina A na raiz da mandioca, que visa reduzir o índice de cegueira que atinge até 250.000 crianças por ano. O material básico para o melhoramento é a mandioca amarela, que contém maior proporção de pró-vitamina A. A idéia é introduzir esta característica em materiais comerciais já aceitos pelo agricultor, e adaptados nas regiões de cultivo.

Batata doce

A batata doce é um alimento importante para muitas populações que vivem no Centro e no Leste da África, onde a deficiência de provitamina A é endêmica e situa-se entre as mais altas do planeta. Os pesquisadores objetivam aumentar o teor do nutriente na batata doce, de maneira que ela possa suprir, no mínimo, um terço da demanda diária. Para tanto, os cientistas estão analisando diversas variedades nativas da África, para identificar as que possuem teores mais elevados do nutriente.

Perspectivas

Com o esforço concentrado de mais de 50 instituições de pesquisa agropecuária de primeira linha, em todo o mundo, atuando em uma rede integrada, prevê-se que, até 2010, os agricultores dos países pobres, onde a fome e a desnutrição são endêmicas, terão à disposição variedades melhoradas, adaptadas à sua região e do agrado do consumidor, porém com teores de minerais e pró-vitamina A superiores às convencionais. Os demais países, como o Brasil, também se beneficiarão dos novos genótipos biofortificados.

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