CI

Biocombustível aéreo


Decio Luiz Gazzoni
Alvíssaras: o Brasil deve ser o primeiro país a operar uma rota aérea regular, com aviões abastecidos com bioquerosene. Até o final deste ano, a ligação entre Fernando de Noronha e Recife deve ser a primeira do país a contar com um voo comercial fixo utilizando biocombustível. O Brasil será pioneiro, porém em breve não será exclusivo, posta a previsão de diversas companhias aéreas operarem rotas comerciais com biocombustíveis, menos poluentes que o querosene de petróleo.

O pioneirismo tem dois fundamentos. O primeiro é a certificação internacional do bioquerosene produzido pela Amyris (empresa de biotecnologia industrial) e pela Total (fornecedora de energia). O bioquerosene é obtido pela fermentação do caldo de cana-de-açúcar, com bactérias transgênicas, que pode ser adicionado na proporção de até 10% ao querosene fóssil. Obtida a certificação, as empresas aguardam a norma específica da ANP para que o biocombustível possa ser legalmente utilizado em voos comerciais, no Brasil.
O segundo fundamento é o apoio do programa Noronha Carbono Neutro, do governo de Pernambuco, de redução das emissões de dióxido de carbono na ilha. Lembrando que a aviação responde por 2% das emissões de gases de efeito estufa no mundo, com previsão de chegar a 5% até meados do século, se nada for feito para refrear o crescimento.

Desde a década passada tenho alertado que, do ponto de vista de cenários de médio prazo, os biocombustíveis aeronáuticos representam o futuro da indústria, posto que os combustíveis líquidos serão paulatinamente substituídos por eletricidade e hidrogênio, no transporte terrestre. O bioquerosene pode ser obtido de diversas biomassas, como cana, soja ou outras oleaginosas, e até do óleo de cozinha reciclado. Juntamente com a química verde, em que os derivados de petróleo são substituídos na indústria (petroquímica) por biomassa, para produzir especiarias químicas de alto valor, os biocombustíveis aeronáuticos significam um grande negócio para o futuro. Com sua enorme capacidade de produzir biomassa, e com os investimentos corretos na indústria e na logística, o Brasil terá uma enorme oportunidade de ser o protagonista dessa indústria do futuro.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.