CI

Benefícios da integração lavoura-pecuária


Amélio Dall’Agnol
O Sistema de Plantio Direto na Palha (SPD), uma novidade nos processos de produção agrícola dos anos 70, só foi incorporado efetivamente como prática usual nas lavouras do Brasil a partir da década de 1990 e resultou numa revolução sem precedentes na agricultura do país. Muito provavelmente, foi a tecnologia de maior impacto no impressionante crescimento da produção agrícola nacional dos últimos 50 anos. Entre outros benefícios, o SPD permitiu antecipar o plantio da soja depois do trigo, no Sul e a safrinha de milho ou algodão, nas regiões tropicais. Hoje, o Brasil é líder global na utilização do SPD, com cerca de 35 milhões de hectares.
Com o SPD já plenamente implantado e consolidado no país, começa a ganhar força no Brasil um outro sistema de produção, com perspectivas de tornar-se tão importante na promoção do crescimento da produção agrícola nacional quanto o foi o SPD. Trata-se do sistema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), cuja proposta é integrar a lavoura com a pecuária, e em menor escala, da pecuária com florestas.
É uma tecnologia ainda jovem, mas que já desperta grande interesse dos produtores mais dinâmicos e inovadores, dadas as perspectivas de ganhos maiúsculos na produção das pastagens cultivadas após a lavoura e da produção de grãos e fibras cultivados após as pastagens.
A ILPF recebeu, recentemente, um importante estímulo do governo via implantação do Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), cujo propósito é reduzir a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) do conjunto da economia brasileira, em cerca de 37% até o ano de 2020, compromisso assumido pelo Brasil perante a ONU, em 2009 (COP 15). Uma das iniciativas propostas pelo Brasil para alcançar tal objetivo, foi a de recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas, boa parte delas utilizando a integração lavoura-pecuária, dado o potencial desse sistema em capturar o CO2 atmosférico e reduzindo, consequentemente, o aquecimento anormal da atmosfera causado pelo excesso de GEE - CO2, principalmente.
Percebe-se, no entanto, que a adoção da ILPF ainda está lenta, apesar dos incentivos públicos (crédito abundante, barato e de longo prazo) e dos evidentes benefícios à produção de grãos e fibras nas lavouras e de carne nas pastagens melhoradas. A lentidão é normal, pois tudo o que é novo gera dúvidas e desconfianças no produtor, como aconteceu com o SPD, o qual levou 20 anos para consolidar-se e deslanchar. Um programa de conscientização e treinamento sobre os benefícios da correta utilização do novo sistema de produção poderia acelerar o seu processo de adoção.
A maior dificuldade para o estabelecimento mais rápido desse sistema produtivo nos campos do Brasil, talvez esteja relacionada ao fato de que quem é agricultor não sabe lidar com a pecuária e quem é pecuarista não sabe mexer com a lavoura. Além disso, há carência de técnicos especializados no sistema ILPF. Uma saída é a parceria do agricultor com o pecuarista, onde o primeiro cuidaria da lavoura e o segundo cuidaria da pecuária, um beneficiando o outro, pois a lavoura melhora as propriedades químicas do solo e as pastagens promovem melhoria na estrutura física do solo e quebram o ciclo de várias doenças e pragas que incidem em culturas anuais.
Embora também seja possível integrar a lavoura com as florestas, o sombreamento das árvores sobre os cultivos tem limitado essa integração, especialmente quando as árvores são implantadas e manejadas sem os devidos cuidados técnicos. A expectativa, portanto, é que o sistema que integra a lavoura com a pecuária seja o preferido pelos produtores, seguido da integração da pecuária com florestas, já que as pastagens são menos prejudicadas pelo sombreamento da floresta, comparativamente às culturas graníferas.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.