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Bactéria x Bactéria


Decio Luiz Gazzoni

Alimentos de origem animal podem veícular zoonoses, caso severas medidas de sanidade, higiene e boas práticas de produção e fabricação não sejam criteriosamente observadas. Quem já curtiu uma salmonelose, por consumir maionese contaminada, ou contraiu uma infecção intestinal, após uma mariscada, sabe do que estou falando. Existem diversas técnicas para prevenir a contaminação de produtos animais com microrganismos patogênicos e o uso de probióticos desponta como uma das mais excitantes.

Probióticos e Prebióticos

Probióticos são microrganismos vivos, não-patogênicos, administrados aos animais criados em cativeiro, que competem com microrganismos patogênicos, evitando que estes colonizem seu trato intestinal. Já os prebióticos são nutrientes ou componentes não-digestíveis de alimentos, que estimulam o metabolismo dos probióticos e facilitam o seu desenvolvimento e a sua multiplicação. A associação entre prebióticos e probióticos pode modificar a composição da flora intestinal, evitando a proliferação de patógenos.

Pesquisa

Entre as bactérias responsáveis pelas zoonoses veiculadas por aves e seus produtos, que mais preocupam os infectologistas, encontram-se os gêneros Salmonella e Campilobacter. Sobre essas bactérias debruçam-se cientistas que lidam com probióticos. O passo inicial das pesquisas é identificar bactérias não-patogênicas, com grande capacidade competitiva. Uma vez identificadas, é necessário testar a sua capacidade de sobrepujar as bactérias que causam enfermidades nos consumidores dos alimentos.

Experiência

O conceito não é novo, pois os veterinários sabem que uma das razões da ausência de bactérias patogênicas no trato intestinal de frangos é a presença de bactérias úteis, que não causam problemas de saúde ao animal, e que ocupam o espaço das bactérias nocivas. Quem chegar mais cedo ao local de colonização é favorecido. Logo, um dos segredos é administrar as bactérias úteis aos pintos recém-nascidos, antes que possam ser infectados pelas bactérias zoonóticas.

Cuidados

Quando se lida com microrganismos, todo o cuidado é pouco. Embora a técnica seja simples, existem alguns aspectos a considerar. Por exemplo, nem todo o resultado de laboratório é repetível dentro dos aviários comerciais. Por vezes o microrganismo probiótico não elimina 100% da bactéria patogênica. Outro pormenor assaz importante é a perfeita identificação e caracterização das pretensas bactérias probióticas. É necessário assegurar que as bactérias não signifiquem qualquer risco à saúde dos animais ou dos consumidores de animais que recebem os probióticos. A quantidade de bactérias, a sua diversidade e a interação entre elas também necessitam investigação.

Banco de bactérias

Pesquisadores da Universidade do Arkansas e do ARS (USDA) dispõem de um banco de microrganismos potencialmente probióticos, onde podem ser acessados mais de 4 milhões de isolados bacterianos, devidamente testados. Avaliada a sua capacidade de competição, cada isolado é injetado em aves para assegurar a sua inocuidade e a biossegurança. Os isolados compõem-se de bactérias aeróbicas, que se multiplicam na presença de ar, evitando os pesados custos de obtenção de bactérias anaeróbicas. A partir desse banco, pesquisas tecnológicas podem ser conduzidas por instituições públicas ou empresas privadas, para desenvolver produtos profiláticos a serem usados por avicultores.

Resultados práticos

Pesquisadores do Texas desenvolveram uma mistura de 29 microrganismos, previamente selecionados e testados, que demonstraram grande habilidade para sobrepujar bactérias dos gêneros Salmonella e Campilobacter como colonizadores do intestino de aves. O produto é dissolvido em água e pulverizado sobre os pintinhos, de forma a facilitar o seu ingresso no organismo. O produto foi aprovado pelas autoridades sanitárias americanas e é vendido, nos EUA, sob a marca comercial Preempt.

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. Homepage: www.gazzoni.pop.com.br

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