Inovações para meios de subsistência em um ambiente sustentável é o tema do programa Development Marketplace do Banco Mundial, edição 2005. O programa, criado em 1998, já destinou US$25 milhões para o desenvolvimento de idéias inovadoras de pequenos negócios, em ambientes que não atraem investidores tradicionais.
Casca de coco
Por exemplo, o que você faria com casca de coco verde, cuja remoção significa custo para os cofres públicos, agride a estética da praia e demora dez anos para se decompor? Do total de lixo das praias do Nordeste, 70% correspondem à casca de coco verde que, no Rio de Janeiro pode atingir 80%. Em Fortaleza, apenas na praia do Futuro e na Avenida Beira-Mar, nos meses julho e de dezembro a fevereiro, são geradas 40 toneladas de casca de coco por dia. Para enfrentar este desafio, a Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza) teve aprovado um projeto pelo programa do Banco Mundial, uma das 47 aceitas entre 2726 propostas de diversos países. A idéia central é conferir valor econômico à casca de coco verde, atualmente acumulando-se nos lixões ou depreciando as praias de Fortaleza. O financiamento do Banco Mundial, no valor de US$245.000, prevê uma unidade-piloto para o aproveitamento da casca de coco.
A usina
O estudo abrange um completo sistema de negócio. Inicia com a coleta da casca do coco verde, prossegue com a sua reciclagem e a confecção de diferentes produtos, gerando 200 empregos. Consta do projeto a produção de peças artesanais e uma horta comunitária, instaladas na Praia do Futuro, hot point turístico de Fortaleza. O projeto prevê a capacitação de todos os profissionais envolvidos nas diferentes etapas. O desenvolvimento do maquinário da planta piloto foi efetuado por uma parceria entre a Embrapa e uma empresa privada, e inclui uma máquina trituradora, uma prensa rotativa, que retira o líquido do coco verde e uma máquina classificadora para separação do pó e da fibra.
O negócio
A usina tem capacidade para processar 15 mil t/ano de casca de coco, permitindo obter produtos comercializáveis, produzidos com o pó e as fibras extraídas da casca. Do pó obtém-se substrato agrícola e composto orgânico e das fibras podem ser elaborados vasos, tapetes e assemelhados. Para viabilização do negócio, foi firmado um protocolo para a instalação da usina, envolvendo a Embrapa, o Governo do Estado, a Prefeitura de Fortaleza, a Associação dos Barraqueiros da Beira-Mar, a Faculdade Christus e o Sebrae-CE.
Parcerias
A fibra da casca de coco verde já é utilizada na indústria automotiva, para a fabricação de estofamento para veículos, trabalho desenvolvido em parceria com a UFC e iniciativa privada. Desde a década passada a Embrapa busca novos usos para a casca de coco, incluindo parceiros como a Universidade Politécnica de Valência, na Espanha, para o aproveitamento do substrato agrícola. O desenvolvimento de processos contou e com o apoio da Embrapa Solos, do Centro de Tecnologia Mineral da PUC-RJ e da Universidade Federal do Ceará. O apoio financeiro do Banco Mundial permitirá o aproveitamento das inovações tecnológicas, solvendo um problema ambiental, associado a um ganho social com geração de emprego e renda, aliviando os custos para os cofres públicos, e abrindo perspectivas de novos negócios ao longo do litoral brasileiro. Está aí um modelo a ser exercitado, mostrando como boas idéias permitem tirar leite da pedra, ou fazer do lixo um negócio rentável.
O autor é engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. Homepage: www.gazzoni.pop.com.br