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Apagão logístico


Decio Luiz Gazzoni
Conforme as empresas de consultoria privada e os órgãos de governo fazem o ajuste fino da intenção de plantio da próxima safra de grãos, plasma-se a certeza de que, como nunca antes na História deste país, colheremos uma safra recorde. Além dos estoques baixos e demanda em alta, dois fatores conspiram a favor. O primeiro é o fator São Pedro, que promete ajudar com chuva suficiente, vez que as previsões meteorológicas de médio prazo indicam a predominância de El Niño moderado. O segundo fator é o agricultor brasileiro, cada vez mais eficiente, quebrando recordes de produtividade sempre que o clima ajuda.

Mas – y siempre hay um pero! – algo conspira contra. É o custo Brasil (ou nó Brasil, como o alcunhou a presidente Dilma), um conjunto de bigornas que impedem que o Brasil do agronegócio alce voo rumo ao seu verdadeiro potencial. O nó inclui alta tributação, crédito insuficiente, juros que já foram mais altos, câmbio que já foi mais desfavorável e o inferno representado pela infraestrutura de armazenagem e transporte de grãos do Brasil. Vergonha das vergonhas, os portos brasileiros, operando a full, conseguem exportar, no máximo, 4 milhões de toneladas de grãos por mês, 48 Mt por ano. Se produzirmos as 85 Mt de soja esperadas, como vamos exportar mais de 50 Mt que o mundo nos implora? E o milho, cujas exportações se abrem para nosso país?
O porto é apenas o fim da linha, é preciso chegar até ele. As hidrovias inexistem, ferrovias são tímidas e precárias, as estradas insuficientes, esburacadas e saturadas. Mas antes de por o grão na estrada, é preciso armazená-lo. A capacidade estática de armazenagem estacionou lá nos idos dos anos 1990. Portanto, outra vergonha nacional será ver o milho armazenado nas ruas, a céu aberto, e a soja em caminhões. Prepare-se para a manchete dos jornais em fevereiro próximo: primeiro caminhão de soja no porto de Paranaguá, último caminhão da fila no contorno de Curitiba. Tudo isto acontecendo após uma década de queixas, pleitos, alertas, projetos, o PAC 1, o PAC 2 e o que mais o leitor possa imaginar. Parece que vivemos na Frâmbia: Agronegócio melhor que o da França, mas quando o produto sai da porteira, enfrentamos a infraestrutura da Zâmbia.

 
O autor é Engenheiro Agrônomo.

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