CI

Alimentos para Animais de Estimação resistem à Crise Econômica¹


Sebastião Nogueira Junior
Sebastião Nogueira Junior e Elizabeth Alves e Nogueira
Já na antiguidade havia estreita relação entre seres humanos e animais e que tem se fortalecido a cada dia. Até nas tumbas egípcias foram encontrados pets, pois se acreditava que quando da reencarnação, os faraós reencontrariam seus animais de companhia².
Hoje a convivência está fortalecida por conta do fenômeno chamado de humanização. Essa proximidade leva seus donos a se preocuparem cada vez mais para que sejam saudáveis e longevos. Tal fato tem provocado grande dinamismo no mercado pet em geral, com atenção especial aos cuidados veterinários e aquisição de alimentos de comprovada qualidade.
Nos últimos anos o crescimento do segmento de pet food para animais de companhia tem sido muito expressivo no setor de rações. Ainda que seja pouco representativo em volume de produção, alcança elevadas cifras monetárias, tal o valor agregado à ração em decorrência de serem utilizados em sua composição ingredientes de alto custo e tecnologia de ponta.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (ANFAL PET)³, o segmento movimenta quase US$70 bilhões no mundo, dos quais 6% cabem ao Brasil. O parque industrial tem cerca de 130 fábricas e, aproximadamente, 600 marcas.
Estimativas populacionais brasileiras feitas pela entidade, em 2008, são de 32 milhões de cães e 16 milhões de gatos, além de um grande contingente de outros mascotes, principalmente por aves (19, 5 milhões) e peixes ornamentais (7,5 milhões).
Essas cifras conferem ao País o segundo lugar quanto ao número de cães e gatos e o quarto quando considerada toda a população de pets.
A despeito desses valores, a produção de ração para animais de estimação, em 2008, foi de 1.764 mil t que representa apenas 3% do total de rações produzidas no País, onde o destaque fica para a avicultura, com 54%, e para a suinocultura com 25%. Para afeito de ilustração em 2007 e 2006 foram produzidas 1.795 mil t e 1.722 mil t, respectivamente. A ociosidade do parque fabril, atualmente, supera 50%!
A composição das rações para animais de estimação é complexa e sofisticada - aqui entendida no sentido de incorporar elevada tecnologia representada pela gama de componentes diferenciados com finalidades específicas.
Cabe lembrar que os componentes essenciais ou básicos de toda ração animal são representados pelo binômio proteína – energia e mais precisamente por milho e soja (farelo) no caso do Brasil, onde estes dois ingredientes são abundantes e ocupam a maior área cultivada com grãos.
É evidente que os preços das rações sofrem as influências das variações de preços dessas duas commodities, mas com efeitos menos expressivos do que naquelas destinadas à pecuária, em razão das menores parcelas utilizadas na composição do alimento (pet food).
O business cycle do etanol nos Estados Unidos, por exemplo, tem reflexos diretos nas cadeias de produção de grãos, por efeito da competição entre milho e soja, e consequentemente na oferta destes dois componentes para a formulação de rações. Nos período 1998-2008 os preços para aquisição de produtos pet food aumentaram 23% o que demonstra o efeito do etanol na cadeia de produção da ração4. No Brasil ocorre o mesmo efeito porém, praticamente, sem problemas de abastecimento.
O que mais encarece a alimentação pet são os preços dos micronutrientes e a tributação. A composição da ração contém uma significativa gama de nutrientes com as mais diversas finalidades.
Quanto aos aspectos mercadológicos o alimento completo para cães e gatos adultos é classificado em: básico, standard, premium e super premium de acordo com as exigências específicas que constam do manual da ANFAL PET5.
Na mesma linha, quanto aos aspectos técnicos os produtos são segmentados em alimentos completos e especiais. Nesse último caso podem ser específicos quando adequados a cada fase do desenvolvimento animal ou como coadjuvantes para animais com distúrbios fisiológicos ou metabólicos.
Cabe lembrar que houve uma reconversão na forma de alimentação animal pois, praticamente, não existe mais ração pronta para as criações que têm o objetivo de obtenção de proteína, seja sob a forma de carne, leite ou ovos. Isso porque os pecuaristas adquirem o premix, os concentrados e os aditivos para serem misturados aos macro-elementos nas próprias granjas. Apenas algumas criações (equinos e avestruzes) e animais de companhia e lazer têm sido alimentados com rações prontas com destaque para o pet food.
A obesidade em cães e gatos tem sido preocupante, pois pode acarretar diabetes e calculose renal o tem incentivado o lançamento no mercado de inúmeros tipos de ração para mitigar os efeitos nocivos do sobrepeso animal.
Esse esmero na fabricação de toda sorte de ração, se é bom por um lado, pois mostra a eficiência dos produtos finais decorrente da tecnologia empregada, por outro, impede que a ração pet tenha um tratamento fiscal ou tributário equivalente àquela destinada aos animais de criação cuja finalidade essencial é a obtenção de proteínas (que é de 15,25%).
A carga tributária direta sobre o faturamento para esse insumo no Brasil é bastante elevada, pois atinge praticamente 50%, o que inibe o uso mais generalizado de ração balanceada (pronta) em substituição à comida caseira, desaconselhada pelos veterinários pois nem sempre contém os ingredientes essenciais ao bem-estar animal. Para efeito de comparação, segundo a ANFAL PET, a incidência total de impostos nos Estados Unidos é de 7,5%, alíquota idêntica a dos alimentos humanos, e chega ao máximo a 18% na Europa (Alemanha).
O setor reivindica a redução das taxas, sobretudo a do ICMS, que hoje é de 18%, para 7%, a exemplo do que se pratica com os alimentos humanos básicos, para alavancar o consumo de ração para animais de companhia, segmento que apresenta grande potencial quando se considera que apenas 40% do contingente brasileiro recebe alimentos preparados, secos ou úmidos.
Embora o segmento industrial já há bastante tempo reinvindique a redução da carga tributária, por conta do apelo de que hoje a convivência com os animais de companhia é considerada benéfica para o bem-estar e segurança da população, os esforços têm sido em vão sob a alegação de que se trata de bens supérfluos, não comparáveis aos componentes da cesta básica. Contudo, nos levantamentos de Índices de Custo de Vida, tanto do DIEESE como da FIPE, estão incluídos gastos com animais de estimação na sua composição.
O mercado de pet food pode (até) ser considerado sofisticado demais, tal o nível de especificações, e em decorrência disso ocorre uma expressiva variabilidade de preços. Levantamentos realizados em sites de lojas (pet shops) apresentam oscilação de preços entre R$3,00 e R$41,00 por quilograma, de acordo com os tipos comercializados.
A propósito, essa variação de preços coincide com pesquisa disponibilizada em 2008 pelo Infomoney6, em que mostrava o market-share do segmento, de acordo com dados da ANFAL PET: 65% para produtos básicos ou econômicos; 23% para rações standard; 8% para o segmento premium e 4% para o super premium. Portanto, tem havido uma estabilidade de preços compensada pelo volume de vendas, notadamente de produtos mais elaborados.
Não foi possível fazer uma apreciação mais profunda sobre a evolução de preços no Brasil, pela não disponibilidade de uma série histórica de dados. Essa é uma lacuna a ser preenchida por uma entidade de classe ou, preferencialmente, por um órgão oficial com experiência em levantamento de dados e análises estatísticas.
A tendência apontada por diversos especialistas do setor é de acelerado surgimento de novos produtos; popularização de alimentos funcionais; exploração de nichos de mercado; ênfase na palatabilidade e embalagens cada vez mais adequadas à conservação do alimento. E até o uso da pesquisa genômica para possibilitar a dieta customizada, ou seja, feita sob encomenda.
Um bom e representativo exemplo de resistência do segmento às pressões macroeconômicas é a expectativa de que, em 2009, os proprietários estadunidenses gastarão US$45,4 bilhões com os seus animais de estimação, o que representará acréscimo de US$2,2 bilhões em relação aos valores observados em 2008. Desse total, US17,4 bilhões referem-se a produtos alimentares que totalizaram gastos de US$16,8 bilhões no ano passado7.
O valor do mercado pet brasileiro, por sua vez, poderá atingir, em 2009, cerca de R$9 bilhões, dos quais 64% relativos à área de alimentos. A expectativa é de que a produção física aumente 3% em relação ao ano anterior (2008), quando foi registrada uma pequena queda (1,8%) por conta da crise econômica. Embora modesto, este crescimento pode ser considerado satisfatório, pois de modo geral os outros segmentos de rações foram severamente atingidos pela crise financeira mundial com a diminuição do consumo de carnes em geral.
De acordo com projeções feitas pelo Eumonitor International, importante instituto de pesquisa de mercado, o Brasil a partir de 2013 poderá ocupar o segundo lugar em termos de vendas de pet food no varejo, colocando-se atrás apenas dos Estados Unidos, de longe o top ten do mundo8. O levantamento também inclui duas companhias brasileiras entre as maiores do mundo no segmento de pet food.
Isso é prova suficiente da pujança dessa atividade e que tem muito campo de expansão a sua frente. A humanização tem levado os proprietários a tratarem seus animais com muita atenção, traduzida em alimentos de qualidade (premium e orgânicos, em especial) para que vivam saudáveis e por muito mais tempo.
Assim o que se pode inferir é que este mercado poderá crescer bem mais do que a média da economia nacional, além de propiciar a contínua agregação de valor, dada a preocupação dos fabricantes com a inovação tecnológica para diferenciação de seus produtos decorrente da forte competitividade que ocorre no segmento.

________________________________
¹Os termos pet e pet food são aqui utilizados para designar respectivamente animais de estimação, de companhia, de lazer ou segurança e os alimentos a eles destinados.

²WILLIAM, A. R. Bichos eternos. National Geographic Brasil, p. 38-57, nov. 2009.

³Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação - ANFAL PET. Mercado Pet. [S.l.: s.n.], 2009. Folheto.

4______. Manual do Programa Integrado de Qualidade Pet. São Paulo: Anfal Pet, maio 2009.
 
5PETFOOD INDUSTRY. Market report: pet food prices on the rise. Rockford (USA): Petfood Industry, 2008. p. 40.
 
6PERES, T. P. Cães brasileiros sobem de classe social, mas ainda comem rações baratas. Disponível em: <http://web.infomoney.com.br/templates./news/view.asp?codigo=12231878path=/suasfinancas/seguros>. Acesso em: 24 set. 2009.
 
7LIEBERMAN, A. Bear market can’t dog pet industry’s numbers. Disponível em: <http://www.zootoo.com/ petnews/bearmarketcantdohpetindustrysn-1231>. Acesso em: 8 out. 2009.
 
8PHILLIPS-DONALDSON, D. Rising petfood powers. Rockford (USA): Petfood Industry, 2009. p. 22-29.
 
Palavras-chave: ração, animais domésticos, pet food.

 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.