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Agroindústria rural e agregação de valor


Amélio Dall’Agnol
Todos sabem que do produtor ao consumidor, a cadeia agroalimentar conta com uma longa lista de intermediários, cada qual ficando com uma parcela dos valores do produto final. A parcela menor pode ser a do produtor da matéria prima: o agricultor. Ele é o primeiro e o mais importante elo dessa cadeia, mas pode ser o menos favorecido nessa relação injusta de intercâmbio, porque participa da etapa menos valorizada do agronegócio. Em parte, isto se deve ao conformismo do próprio agricultor, que tudo aceita com resignação: “Seja lá o que Deus quiser, vai-se fazer o que?!”.

Os produtores, principalmente os micro e pequenos, estão sendo discriminados na divisão dos benefícios da cadeia, que vai da produção no campo à prateleira do supermercado. Mas, eles não podem continuar aceitando passivamente a erosão dos seus lucros, permitindo que os demais elos da cadeia agroalimentar determinem o valor que será pago pela matéria prima que ele entrega aos elos subsequentes da cadeia, de vez que ele não consegue impor o mesmo tratamento na compra dos insumos, sendo forçado a trocar cada vez mais produção, pela mesma quantidade de insumos.
Por causa dessa iníqua relação de troca e pela incapacidade de produção com economia de escala, os pequenos empreendimentos rurais correm sério risco de inviabilizarem-se economicamente, apesar de os seus proprietários terem conseguido aumentar a produtividade e reduzir os custos de produção no correr das últimas décadas. Isso não está sendo suficiente para garantir uma divisão equitativa das margens do negócio.
Com alta produtividade, mas pouca terra, os micro e pequenos produtores rurais não conseguem competir com a moderna agricultura empresarial, a qual, além de mais eficiente no processo produtivo e na comercialização da produção, conta com a economia de escala: ganhando pouco, mas sobre volumes gigantes, o grande produtor sobrevive confortavelmente. Os médios produtores rurais também correm riscos de inviabilizarem-se economicamente com a nova legislação ambiental, a qual pode torná-los pequenos.
Como participa da etapa pobre do agronegócio, o pequeno agricultor precisa reagir, mas não pedindo mais subsídios ao Governo. A solução está no mercado: agregar valor à produção é fundamental para a sobrevivência econômica dos pequenos estabelecimentos agrícolas. Mesmo produzindo grãos, esses empreendimentos rurais podem ser rentáveis, desde que os grãos produzidos façam parte de um sistema produtivo, onde o produto final entregue ao mercado não é o grão, mas a carne, os ovos, o queijo, entre outros produtos feitos a partir dessa matéria prima.
O que tem acontecido no Brasil, desde o surgimento da agricultura empresarial, foram o empobrecimento e a desestruturação das famílias de muitos pequenos agricultores. Primeiro eles perderam os filhos, os quais emigraram para a cidade em busca de vida melhor; depois perderam sua terra, passada a terceiros por incapacidade de nela sobreviver dignamente e, finalmente, perderam a dignidade na periferia de alguma cidade, porque o dinheiro da venda da propriedade logo acabou e eles não souberam como ganhar dinheiro em outra coisa que não seja no amanho da terra, fazendo com que parte deles tenha optado pela lona da beira de estrada, pedindo terra ao Governo.
Proximamente teremos novos gestores nos milhares de municípios, Brasil afora. Que tal ajudá-los a pensar na possibilidade de viabilizar os micro e pequenos proprietários rurais, através do estabelecimento de agroindústrias rurais em cada distrito, onde as pequenas produções seriam processadas, agregando-lhes valor? De preferência agroindústrias especializadas na produção e processamento de produtos diferentes em cada comunidade, para evitar a concorrência entre eles.
Mais do apoiar esses produtores na agregação de valor via agroindustrialização e na capacitação para a mudança de atividade, as Prefeituras deveriam ajudá-los na comercialização dos produtos industrializados, disponibilizando um espaço na cidade, onde cada agroindústria teria seu lugar para oferecer seus produtos ao cidadão urbano.
Este apoio poderia viabilizar a permanência desses cidadãos com suas famílias no campo, evitando problemas para a cidade, onde eles se tornam cidadãos marginalizados, porque não têm a qualificação necessária para os postos de serviço disponibilizados pelas empresas de centros urbanos, sendo, portanto, mal pagos nos subempregos, quando os conseguem, pela falta de qualificação profissional.
Oxalá, que a desilusão urbana não transforme estes pacíficos e conformados ex-agricultores, em revoltados e violentos cidadãos urbanos, forçados a buscar no roubo e no tráfico a sua desesperada sobrevivência.
Com a palavra os novos Prefeitos, cientes de que o pobre que troca o campo pela cidade não o faz porque quer, mas porque as circunstâncias o obrigam.

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