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Agricultura familiar


Decio Luiz Gazzoni
À primeira vista, os agricultores familiares estão fadados a desaparecer. Apesar de algumas boas iniciativas do Governo Federal, a baixa escala de produção, a falta de mão de obra rural e de máquinas apropriadas à pequena propriedade, além das dificuldades de união, de organização, de transporte e de comercialização, aparentam indicar que o futuro da agricultura será monotonamente reservado aos médios e, principalmente, grandes produtores. Estes dispõem de escala, assistência técnica própria, informação, crédito, seguro agrícola, canais de comercialização e outras práticas e processos que, em teoria, lhes permitem obter sucesso no negócio.

Usei os termos “primeira vista” e “aparentam” posto que, com sensibilidade para o problema, criatividade nas propostas e alta prioridade para implementar soluções, é minha opinião que o exposto acima não é, necessariamente, uma inequação. É possível organizar uma cadeia produtiva baseada no velho jargão do “união faz a força”, garantindo, de um lado, o sucesso dos agricultores familiares usufruindo uma vida digna no campo, estancando a hemorragia do abandono das pequenas propriedades e a fuga para a periferia das cidades. Por outro lado, os cidadãos urbanos se beneficiarão com oferta adequada de alimentos de alta qualidade, produzidos próximo à sua cidade.
Como corolário, a fixação dos agricultores familiares no campo evita a exacerbação dos problemas da urbe, mormente o acirramento de demandas de saneamento, transporte, novas escolas e postos de saúde, além da falta de qualificação profissional dos ex-pequenos agricultores para disputar um emprego ou uma fonte de renda que lhes permita viver com dignidade nas cidades.
A solução do problema passa por fórmulas inovadoras de apoio à produção agrícola de alta qualidade, processos modernos de agregação de valor e, muito especialmente, abertura e consolidação de canais de comercialização que garantam o sucesso da agricultura familiar.

Londrina é um exemplo da fuga de pequenos agricultores e do envelhecimento dos que ficaram no campo. Urge enfrentar este processo com criatividade, firmeza e coragem, para não transferir às gerações futuras um problema que pode ser solucionado aqui e agora.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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