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A soja e a produção de carnes


Amélio Dall’Agnol
Das grandes culturas produtoras de grãos, a soja é a que mais cresce em nível global, como consequência da forte demanda mundial por carnes e óleo, resultado do expressivo crescimento econômico mundial das três últimas décadas.  Com o crescimento econômico, aumentou a renda per capita da população, que passou a consumir menos grãos e mais carnes - produzidas, principalmente, a partir do farelo proteico da soja.
A China é o centro de origem da oleaginosa e foi lá que sua produção comercial e consumo tiveram início. Registros indicam o uso da soja na dieta alimentar do povo chinês há mais de 5.000 anos, quando já era considerada um dos cinco grãos sagrados da cultura chinesa. Até meados dos anos 50, a China dominou a produção e o consumo de soja, mas os EUA estavam no seu encalce.
Os EUA, após introduzirem a soja em seu território nos anos 20, utilizaram-na primordialmente na produção de feno para bovinos, até início dos anos 50. Em 1960, o país já respondia por mais de 50% da produção mundial do grão e em 1970, mais de 70%, quando Brasil e Argentina entraram nesse mercado, reduzindo a participação Norte Americana a pouco mais de 30%. Quase 90% da safra 2014/15, estimada em 315 milhões de toneladas, se concentra em países da América, principalmente EUA, Brasil e Argentina, mas, também, Paraguai, Canadá, Uruguai e Bolívia.
Segundo o USDA, 113 milhões de toneladas de soja foram exportados em 2014 para dezenas de países, mas a China arrematou, sozinha, 74 milhões de toneladas ou 65% desse total. Da soja em grão exportada pelo Brasil em 2014, 71,7% foram para o mercado chinês, assim como, 60% do óleo. A China não importou farelo, porque ela privilegia a importação do grão para processá-lo e agregar valor em seu território.
Seria quase impensável um país ser grande produtor de carnes sem ser, também, um grande produtor da matéria prima que a produz (soja e milho, em especial). EUA, Brasil, Austrália e Argentina são grandes produtores de carne bovina, cujo produto não depende muito da soja, porque os bovinos comem mais pasto do que ração. Mas EUA e Brasil, também são grandes produtores de carne de suínos e aves, resultado de sua grande produção de soja e milho. A China, é grande produtora de carne de suínos (52% da produção mundial) e de aves (2º produtor global), mas produz pouca soja, o que a faz perigosamente dependente do mercado externo, que pode falhar. Em compensação, produz muito milho (230 mi t, em 2014), que, junto com a soja, constitui a ração que engorda os suínos e os frangos. Em contraste com a China, a Argentina produz muita soja e milho, mas pouca carne de suínos e aves, o que a torna uma potencial futura fornecedora dessas carnes, pois dispõe da matéria prima para produzi-las. Só precisa organizar a cadeia produtiva dessas carnes.
O problema da China, com sua enorme dependência de soja importada, só não é maior, porque a carne produzida é consumida pelo mercado interno. Se dependesse do mercado externo, sua carne poderia não competir, pelo eventual alto preço da soja importada.
A produção de soja em larga escala, a partir da década de 1970, foi uma benção para a economia do Brasil. Foi a partir dela que o setor agrícola brasileiro se transformou, gerando enormes saldos comerciais. Somente no ano agrícola de 2014, as exportações deixaram um superávit de US$ 80,2 bilhões, ainda assim insuficiente para zerar o saldo negativo do restante da economia do País. Nesse ano, do total exportado pelo Brasil (US$ 225 bilhões), a soja foi a que mais contribuiu na geração desse montante, com 31,4 bilhões de dólares (MDIC).
A soja é o principal produto agrícola brasileiro e o principal item na pauta das exportações do País. Podem chama-la de “o fenômeno brasileiro”. Ela merece.
 

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