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A saga do pequeno agricultor, jovem


Amélio Dall’Agnol
Já vai longe o tempo do Brasil Jeca Tatu, representado por um personagem descalço e mal vestido, que o escritor Monteiro Lobato travestiu de trabalhador rural. O Brasil de hoje é outro. Vivemos na era do Brasil grande, cuja grandeza maior veio do campo, do agronegócio. Só para 2012, a Confederação Nacional da Agricultura prevê a geração de R$ 357,3 bilhões e, se estima, deixará um superávit superior ao superávit do próprio Brasil, de vez que parte do lucro das exportações agrícolas será utilizado para cobrir o déficit de outros segmentos da economia nacional.
Mas, apesar do “upgrade” social que o campo teve no correr das últimas décadas, os agricultores jovens estão preferindo emigrar para a cidade, onde imaginam ter melhores oportunidades de ascensão social e mais respeito. Além do que, como diz a canção, “as moçinhas da cidade são bonitas e dançam bem”.
A sucessão familiar no campo está sendo ameaçada pelo desestímulo dos agricultores jovens de dar continuidade à atividade dos pais. O êxodo rural é preocupante, principalmente nos pequenos empreendimentos familiares, onde só estão restando os velhos, já sem forças para tocar o negócio da família. O destino de muitas pequenas propriedades poderá ser a do retorno à sua condição original de floresta.
Mas, uma das causas desse fenômeno poderia ser atribuída à própria geração que está ficando sozinha no campo, porque desestimulou o empreendedorismo dos mais jovens ao negar-lhes a autoridade de que estes precisavam para executar propostas de mudanças na propriedade da família. A tendência dos mais adultos, via de regra, é a de menosprezar as idéias revolucionárias dos mais jovens, inibindo sua ação e frustrando o seu desejo por mudanças, como a de transformar o pequeno negócio agrícola produtor de grãos, em produtor de carnes, frutas, hortaliças ou, até, turismo rural, cujos produtos têm maior valor agregado, porque são mais intensivas no uso de mão de obra.
Por causa disso, muitos pequenos agricultores jovens, percebendo a incapacidade de competir com a produção de grãos das grandes empresas agrícolas e enfrentados à sua própria incapacidade de modernizar o empreendimento da família, vêem-se marginalizados no próprio campo e preferem enfrentar a incerteza da vida urbana, ao invés de viver sem perspectivas na zona rural.
A periferia das cidades é um bom exemplo desse êxodo involuntário, que poderia ser evitado se o potencial de inovação que os jovens possuem fosse melhor aproveitado, privilegiando as suas iniciativas, ao invés de favorecer a vontade dos adultos, sempre mais reacionários a mudanças.
A energia e a audácia, características inerentes ao jovem, quando bem canalizadas constituem-se na cunha que desloca o quietismo da tradicional força de trabalho do campo, demasiadamente aferrada a retrógrados modelos de produção.
Os jovens, além de mais receptivos à inovação, são mais ousados, pois podem expor-se mais ao risco de um mau negócio, porque, na eventualidade de um insucesso, eles contam com toda uma vida pela frente para a recuperação. É de pequenino que se torce o pepino.

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