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A Revolução que Malthus não previu


Amélio Dall’Agnol
Todos sabemos quem foi Thomas Robert Malthus, mas não é demais recordar alguma coisa a respeito dele. Nascido  no século XVIII, na Inglaterra (1766 - 1835), foi filósofo e professor de economia, tornando-se mundialmente famoso por escrever o livro “Ensaio sobre a lei da população”, publicado em 1789. Nessa obra, Malthus, baseado em estudos da época, afirmou que o crescimento da população humana era mais acelerado que o da produção de alimentos, prevendo, como conseqüência, guerras, fome e mortes, fenômenos que se encarregariam de manter o equilíbrio entre a população e a oferta de comida. Seus estudos indicavam que a população cresceria na proporção de: 1, 2, 4, 8, 16 (crescimento geométrico), enquanto a produção de alimentos cresceria num ritmo muito menor: 1, 2, 3, 4, 5, 6 (crescimento aritmético). Buscando justificar sua teoria, Malthus analisou o crescimento da produção de alimentos e da população humana do século XVIII, contrastando o índice de crescimento da produção das ex-colônias inglesas, com o índice de crescimento da população dos Estados Unidos.

Mesmo considerando sua aparente tendenciosidade, ao escolher países subdesenvolvidos para indicar o crescimento da produção e os Estados Unidos da América - país cuja população crescia a um ritmo mais acelerado que a média mundial - para indicar o crescimento da população, Malthus estava bastante correto em suas catastróficas previsões, considerando a realidade daquela época.
Mas ele errou. Suas previsões não se concretizaram porque ele não previu as enormes transformações que ocorreriam posteriormente, no processo produtivo dos alimentos e no ritmo de crescimento da população: a produção de alimentos cresceu a um ritmo muito maior que a população, quase invertendo a equação geométrica x aritmética de Malthus.
Mas que transformações foram essas que promoveram o ritmo de crescimento da produção e reduziram o ritmo de crescimento da população? Foram os desenvolvimentos tecnológicos na agricultura (melhoramento genético de plantas e animais, desenvolvimento de máquinas e desenvolvimento de insumos) e na medicina (anticoncepcionais), principalmente. Na verdade, com a utilização das modernas tecnologias, poderia haver capacidade para crescer numa proporção geométrica na produção de alimentos, mas para que serviria? A produção de alimentos obedece à lei da oferta e da procura. Sem esta, não haverá aquela. Portanto, mais importante que promover a produção, está a promoção do consumo via inclusão social, que se realiza através do bom salário, o qual depende de uma boa educação. 

Mas, em que pese a importância da educação e da C&T no desenvolvimento das sociedades, isto não estimula a maioria dos governantes a realizar investimentos na área, pois os resultados são percebidos em longo prazo, desestimulando os políticos do aqui e agora, que preferem ver os resultados dos seus investimentos antes de deixarem o cargo, mesmo sabendo que contam mais, para um governante que almeja ser lembrado como estadista, os investimentos que melhoram o bem estar das gerações futuras. Para os gestores do bem público que priorizam a próxima eleição e não a próxima geração, desativar uma instituição de ensino ou de C&T é lucro, pois terá mais recursos para obras imediatas e visíveis do eleitor e seus malefícios só serão percebidos na gestão do governo seguinte, dando a falsa impressão que a medida foi correta e que a instituição não fazia falta.
Mas faz falta e muito. Nação desenvolvida não é mais a que conta com abundantes recursos  naturais, mas a que domina o conhecimento e utiliza modernas tecnologias nos seus processos produtivos. Para fazê-lo, investe pesado na educação e na geração de novos conhecimentos. Seus gastos com C&T superam 2% de seus polpudos PIB, enquanto as nações pobres investem menos de 1,0%. Ou seja, quem mais precisa é quem menos investe, colhendo, com o resultado, pobreza e dependência.

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