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A MULHER RURAL FRENTE ÀS POLÍTICAS AGRÍCOLAS


Amélio Dall’Agnol

O dia 8 de março foi escolhido pela ONU para comemorar o Dia Internacional da Mulher, relembrando o massacre de 129 mulheres ocorrido nessa mesma data em 1857, por rebelarem-se contra as desumanas condições de trabalho numa tecelagem de Nova Iorque. Foram queimadas vivas, pagando com a vida a audácia de promover a primeira greve do gênero. Se bem muita coisa mudou desde então, a mulher ainda paga caro por por ser mulher, mesmo dentro do já discriminado setor agrícola.

Nesta data, quando todas as atenções se voltam para homenagear a mulher urbana, rica, cheirosa e bonita, o setor agrícola não poderia esquecer-se de que também temos a mulher rural. Ela, como agente de produção e comercialização de produtos agropecuários tem sido historicamente ignorada na definição das políticas agrícolas. Isto, em parte, poderia ser creditado à imprecisão das estatísticas oficiais, que subestimam enormemente a força do trabalho feminino nas propriedades agrícolas. Também é um problema cultural: os homens são, por natureza, os produtores, embora, em alguns países, a força de trabalho feminina supere a dos homens.

O papel protagônico que a mulher rural desempenha na produção de alimentos ficou evidente nos relatórios produzidos em 1994 pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA. Os dados obtidos desse estudo revelaram a magnitude do subregistro das estatísticas oficiais. Paraguai e Uruguai, para dar um exemplo, indicavam que 12,5 e 9,3%, respectivamente, das mulheres rurais de seus países realizavam tarefas agrícolas, quando o correto, segundo o estudo, seria 82,0 e 38,5%. O estudo revelou, ainda, que a contribuição das mulheres rurais no total das receitas familiares de pequenas e médias propriedades do Brasil, Paraguai e Uruguai, era de 43%, 41% e 34%, respectivamente. Essa realidade, certamente, não deve ter-se alterado muito.

Não se pode, portanto, ignorar a força do trabalho feminino no campo, quando da elaboração e definição das políticas para o setor agrícola. Ignorá-la significaria desconsiderar mais de 30% do potencial laboral das propriedades agrícolas, um erro que patrocinaria, certamente, o fracasso de qualquer plano, programa ou projeto de desenvolvimento rural. É urgente e necessário que os responsáveis pelo estabelecimento das políticas do setor agrícola levem em conta este fato, mudando seu tradicional conceito machista de considerar a mulher rural apenas como mãe/esposa/dona de casa, sem reconhecer-lhe o papel produtivo, ademais do reprodutivo.

As mulheres do campo não estão pedindo por mais programas para o seu gênero e sim mais reconhecimento pelo seu papel produtivo, quando da definição das políticas governamentais para o setor. O acesso limitado que as mulheres rurais têm aos recursos produtivos, como a terra e o crédito, tem sido o maior obstáculo ao desenvolvimento agrícola do continente, segundo o IICA.

No âmbito tecnológico, também discriminamos a mulher. Dificilmente as consultamos na identificação das demandas de novas pesquisas, o que nos leva a constatar e reconhecer uma ausência de tecnologias com perspectiva de gênero.

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