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A espetacular evolução da soja e do milho no Brasil


Amélio Dall’Agnol
O milho e a soja não cresceram simultaneamente no Brasil. O cereal é cultivado desde que Cabral aportou por estas terras, enquanto que a soja é um fenômeno mais recente. Em menos de meio século, partindo de quase nada, atropelou lavouras já estabelecidas e se posicionou no pódio. 
É notória a liderança da soja no contexto do agronegócio brasileiro. Na safra 2014, ela liderou a área cultivada (31,4 mi ha), o volume de grãos produzidos (95,6 mi t) e o valor das exportações (US$ 31,4 bilhões). Quanto ao valor exportado, ela não apenas liderou no âmbito do agronegócio, mas sobre o total da carteira de produtos exportados pelo Brasil, incluindo o minério de ferro, historicamente o líder na pauta das exportações do país. 
A história da soja no território brasileiro teve início na década de 1940, com o registro da primeira exportação de 25 mil toneladas (t), em 1949. No correr dos anos 50 ela avançou para 200 mil t e em 1969 atingiu o primeiro milhão de toneladas (mi t). Na década de 1970, a cultura consolidou-se como a principal lavoura do Brasil, posição que se consolida a cada nova safra e sem que se vislumbrem ameaças a essa liderança. 
A década de 1970 foi a década da virada da agricultura brasileira, passando da fase de agricultura de subsistência para agricultura empresarial, tendo a soja como motor dessa transformação. Sua área cultivada, no período de 1970/1980, evoluiu de 1,3 mi ha para 8,8 mi ha (quase sete vezes), enquanto que a produção cresceu mais de 10 vezes (1,5 mi t vs. 15,2 mi t).
A trajetória da soja começou pelo sul do Brasil, servindo-se de tecnologias introduzidas dos Estados Unidos, principalmente as variedades. Nas décadas de 1960 e 1970 ela se estabeleceu e se consolidou nessa região, que podemos denominar de Fase 1 da cultura no Brasil. Nos anos 80 ela se expandiu e se consolidou na Região Centro-Oeste (Fase 2), nos anos 90 na Região Nordeste (BA, MA e PI - Fase 3) e, mais recentemente, seu cultivo está se consolidando na Região Norte (TO, PA e RO – Fase 4). Se o mercado continuar sinalizando com preços compensadores, haverá expansão em outras regiões do Norte e Nordeste do Brasil, sobretudo em áreas hoje ocupadas com pastagens degradadas.
A sanha da soja para ocupar áreas cada vez maiores promoveu uma mudança sem precedentes no cultivo do milho, que teve sua área cultivada na Primavera (milho safra) reduzida em 52% (12,7 mi ha, em 1991 vs. 6,6 mi ha, em 2014). A diferença de 6,1 mi ha foi majoritariamente incorporada ao cultivo da soja, que passou de 9,74 mi ha em 1991, para 31,4 mi ha na safra 2014/15. Para lograr esse aumento de área (superior a 20 mi ha), a soja, além da área que tomou do milho safra, incorporou áreas de Cerrado nativo e de pastagens degradadas, mas também de outras culturas, como arroz, feijão, trigo e algodão. 
O milho, em contrapartida à queda na área cultivada com a safra de Primavera, teve sua área de safrinha (semeado após a colheita da soja) aumentada de 800 mil ha, em 1991 para 9,2 mi ha, em 2014 e a produtividade, no mesmo período, aumentada de 1.320 kg/ha para 5.400 kg/ha, alçando-se à posição de principal safra brasileira de milho (30,7 mi t, de milho safra vs. 53 mi t, de milho safrinha). Mesmo tendo a área reduzida em 6,1 mi ha no período, a produção do milho safra cresceu 33% (23,0 mi t vs. 30,7 mi t), em resposta ao aumento de 167% na produtividade (1.791 kg/ha vs. 4.783 kg/ha). A produção do milho safrinha, por sua vez, aumentou 50 vezes nesse período, passando de 1,06 mi t, em 1991 para 53 mi t, em 2014/15, consequência do crescimento de 1.150% na área e 309% na produtividade (1.320 kg/ha vs. 5.400 kg/ha).
Enquanto houver crescimento da economia mundial, haverá aumento da demanda por alimentos, principalmente de soja e de milho, a principal matéria prima para a produção de carnes, onde o Brasil figura como líder na exportação de carne bovina e de frango. Uma excelente oportunidade para o agronegócio brasileiro.

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