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A destruição de um laboratório


Decio Luiz Gazzoni
Uma centena de autodenominados ativistas invadiu um laboratório científico em São Roque-SP, acusando-o de maus tratos em cães utilizados em estudos científicos. Cães foram roubados, protocolos científicos destruídos, instalações e equipamentos depredados! O prejuízo financeiro é de milhões de reais. Mais grave: pesquisas sendo conduzidas há uma década, próximas de uma conclusão, perderam-se para sempre. O Ministério Público busca identificar e enquadrar os arruaceiros, para responsabilizá-los perante a Lei.

Estes “ativistas” denunciaram o laboratório ao MP por maus tratos extremos com animais, porém a investigação comprovou o oposto: as denúncias eram falsas, o laboratório seguia a legislação brasileira e os requerimentos internacionais, e era fiscalizado pelo Ministério da Saúde brasileiro.
As duas questões maiores que se antepõem, a este e a todos os casos similares, são: 1) Pode uma centena de pessoas falar em nome da população brasileira, sem procuração para tanto? Pode violar a Lei e justificar seus meios pelos fins sofismáticos que persegue? 2) Qual a alternativa que eles propõem?

Analisemos o tema. Pessoas mais sensíveis podem ter alergia, intoxicação ou convulsão ao usar medicamentos, mesmo na dose correta. Para evitar os efeitos colaterais adversos, os medicamentos são extensivamente testados. Se animais não podem ser usados para tanto, restam três opções: 1) Os testes não são realizados e toda a população passa a ser cobaia de novos medicamentos; 2) Os testes são realizados em cobaias humanas; 3) Cessa o desenvolvimento de novos medicamentos, doenças para as quais não existem medicamentos hoje em dia continuarão incuráveis. E, quando os medicamentos atuais perderem seu efeito, desaparecerão das farmácias. Com a perda de seu negócio, os investidores em laboratórios farmacêuticos vão investir, digamos, em turismo no Caribe. As próximas gerações, sem medicamentos, voltarão ao tempo das benzedeiras – sequer ervas poderão ser usadas por falta de cobaias para estudos. A meu ver, em uma sociedade democrática, o debate transparente é o caminho para equacionar esses problemas, dispensando grupelhos autointitulados porta-vozes da população. Em meu nome não falam.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo. www.gazzoni.eng.br

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