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A cultura do dendezeiro e o Brasil


Amélio Dall’Agnol
O Brasil seria o país com o maior potencial para produzir óleo de dendê, não fossem as restrições que sofre por parte da legislação brasileira (80% do bioma amazônico é reserva legal) e das ONGs sem bandeira, com seus patrocinadores invisíveis e interesses dúbios. O dendê é originário do Golfo de Guine, oeste da África, onde o clima é quente e húmido, e chegou ao Brasil trazido pelos escravos. 
Nosso país tem imensas áreas com clima tropical úmido, aptas para o desenvolvimento do dendezeiro. São cerca de 50 milhões de hectares na Amazônia e mais 750 mil hectares no litoral Baiano, entre outras áreas na préamazônia. Apesar desse potencial, cultivamos apenas cerca de 100 mil hectares, principalmente no estado do Pará e por poucas empresas. Ao invés de exportadores de óleo de dendê, nosso país importa anualmente cerca de 150 mil toneladas, principalmente para a indústria de alimentos e de cosméticos. 
O dendezeiro seria uma excelente alternativa para recuperar áreas degradadas, principalmente as existentes ao longo das rodovias que cortaram a Amazônia em décadas passadas, como a Transamazônica, a Belém/Brasília e a Cuiabá/Santarém. Somente no estado do Pará se estima existirem cerca de quatro milhões de hectares de terras degradadas, as quais poderiam ser recuperadas e aproveitadas para o cultivo de dendezeiros, dando emprego e renda a milhares de pequenos agricultores estabelecidos ao longo dessas rodovias. 
Mas para que isto ocorra, esse contingente de agricultores marginalizados precisaria de apoio oficial ou privado, pois o dendezeiro é uma cultura de longa maturação, período durante o qual ele não gera renda. Contudo, estudos realizados pela Embrapa demonstram a viabilidade de culturas intercaladas (mandioca e banana, por exemplo) durante os três primeiros anos de desenvolvimento do dendezeiro, abatendo os custos de implantação e gerando pequena renda ao produtor.  Ademais, quem se decidir pelo seu cultivo, precisa ter garantia da existência de uma indústria processadora por perto, pois o fruto deve ser processado em até 48 horas após colhido e ele não pode percorrer longas distâncias até a indústria, por causa do baixo valor da carga. Por esse motivo, o cultivo de dendê precisa ser realizado próximo da indústria de extração, igual acontece com o cultivo da cana, para a produção de açúcar.
O óleo de dendê é o óleo vegetal cuja produção mais cresce no mundo, sendo o mais produzido e o mais consumido globalmente. Atualmente (2015), ele responde por 36% (63 milhões de toneladas) da produção mundial (176 milhões de toneladas), mas a estimativa é de que esse montante cresça para 81 milhões de toneladas até 2025. Juntos, óleo de dendê e óleo de palmiste (este retirado da amêndoa do fruto), respondem por quase 40 % do total de óleos vegetais produzidos no mundo. Juntos, o óleo de dendê/palmiste, mais o de soja, representam aproximadamente 67% do total de óleos vegetais consumidos globalmente.
O dendezeiro produz basicamente óleo. Seus resíduos podem ser utilizados para cogerar energia, pela queima dos restos de cultura ou utilizados como adubo orgânico. Mas tem potencial para produzir muito óleo. Pode gerar cerca de 10 vezes a quantidade/ha de óleo produzido pela soja, cujo produto principal é o farelo. Este óleo é utilizado principalmente (80%) na indústria alimentícia. Mas também é consumido pela indústria de cosméticos e de biodiesel. 
O sudeste da Ásia responde pela produção da quase totalidade do óleo de dendê. A região conta com florestas tropicais úmidas, semelhantes à floresta Amazônica brasileira, com destaque para Indonésia e Malásia, responsáveis por 86% da produção mundial do óleo de dendê. Sua produção cresceu aceleradamente no correr das três últimas décadas, em boa medida porque essas nações não deram ouvidos à grita internacional contra o desmatamento, resultando nas maiores desmatadoras de florestas tropicais do Planeta, o que foi ruim. Exemplificando: em 1980, a Indonésia cultivava 0,7 milhões de hectares de dendezeiros, hoje cultiva 31 milhões de hectares. 
O Brasil poderia facilmente auto abastecer-se e gerar excedentes exportáveis, sem mais desmatamentos.

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